Capítulo 3: A Caixa de Pandora

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Homens e deuses tinham o hábito de comerem juntos. 

Prometeu matou um boi e o dividiu em duas porções, pedindo que Zeus escolhesse uma. Zeus, tomado pela ambição, escolheu a maior. Entretanto, esta era composta apenas por ossos escondidos na gordura. A partir de então, aquilo fora tudo que os deuses receberam nos sacrifícios que lhes eram destinados. 

Contrariado, Zeus decidiu tirar o fogo dos homens.

Prometeu, inconformado, subiu ao céu e o roubou, escondendo-o no interior do caule de um funcho agigantado, onde os homens por muito tempo carregaram ardendo em chamas.

Ao saber do ocorrido, Zeus ficou cada vez mais furioso, e Prometeu aconselhou seu irmão Epimeteu a não aceitar nada que viesse do pai dos deuses. 

Impetuoso, o deus mandou que Hefesto modelasse uma figura de barro, a qual chamou-lhe de 'mulher'. As deusas deram-lhe todas as graças e a chamaram de Pandora, cujo nome significava "todos os dons". 

Epimeteu, encantado pela beleza da mulher, a aceitou com contentamento. Porém, não tardou para que o arrependimento surgisse. 

Assim como muitos homens, encantado pela beleza e graciosidade, não pensou nem por um momento sequer no que escondiam os olhos da formosa mulher.

Zeus presenteou os irmãos com uma grande caixa, orientando-os de nunca abri-la, pois ali se encontravam todas as desgraças do mundo. 

Pandora, entretanto, a abriu e todos os males fugiram antes que ela pudesse fechá-la novamente. 

Restou apenas uma coisa presa debaixo da borda da caixa: a Esperança. Por sua vez, aquela era uma bênção mista, pois a esperança constantemente seduzia os homens e os levava à destruição.

"A esperança é a última que morre."

Quantas vezes você já se agarrou a este ditado como um mantra?

Quantas vezes você ansiou tanto por algo e alimentou suas esperanças até mesmo quando já não haviam motivos? 

Quantas vezes você apenas esperou, esperou e esperou mesmo sem saber exatamente o que lhe aguardava?

A vida, muitas vezes, é um vão de esperanças mortas e amontoadas que já não significam nada e que se unem ao passado invadindo a mente ansiosa que não para de pensar em probabilidades que nunca ocorreriam.

Porém... a esperança também é valiosa; inevitavelmente, ao se criar esperança, cria-se também expectativas e vontade de seguir em frente para saber o que se pode acontecer, e, vez ou outra, as coisas saem conforme o esperado, mesmo que demore.

Ao despertar já no final daquela manhã ensolarada e calorenta, a primeira coisa que se passou na mente de Wednesday foi a lembrança de si própria dizendo que ajudaria Enid com a bagunça de seu apartamento. E, bem, a garota não era de quebrar promessas, mesmo que estas fossem destinadas a alguém que conhecera há menos de vinte e quatro horas. 

Por mais que a preguiça quisesse falar mais alto, Wednesday levantou-se e fez sua higiene matinal como de costume. 

Ela procurou por Nero em seu apartamento, e quando o felino a viu, correu em sua direção entrelaçando-se nas pernas de sua tutora.

- Acordou de bom humor? - ela perguntou enquanto sentava-se no sofá e observava o gato pular em seu colo exigindo carinho - E pelo visto, acordou manhoso também. - De bom grado, ela acariciou o pelo negro de seu gato e riu ao ouvi-lo ronronar com o cafuné que fazia em sua cabeça.

Nero, na maior parte do tempo, era a única companhia de Wednesday. 

Fora ideia de seus pais adotar algum animal de estimação assim que ela anunciou que sairia da casa deles. Eles sabiam que o que a filha mais odiava era se sentir sozinha e queriam a todo custo evitar aquilo.

Um Acaso por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora