Capítulo 06

771 44 5
                                    

Quando saímos do edifício em seu carro, olhei através do vidro da janela e percebi que a noite havia chegado, uma linda noite tempestuosa. As gotas de água batiam nos vidros, agressivamente.
 
— Meu celular? Onde está?
 
Quebrei meu próprio silêncio que estava deixando-o inquieto.
 
— Está na minha casa — me olhou rápido e voltou a sua atenção para a estrada — Gostou da chuva?
 
Percebeu minha satisfação ao me ver com os olhos fixos na janela.
 
— Sinto paz, tenho uma conexão com ela, que não sei explicar. É uma sensação boa... — digo pensativa passando as mãos em meus ombros.
 
O silêncio se refez e ficamos assim o resto do trajeto. Alguns minutos depois, entramos no jardim da mansão do Sr. Lobo. Quando vi que o carro ia diretamente para a garagem, pedi-lhe que parasse o veículo e tirei meus sapatos.
 
— O que está fazendo, Ana?
 
Antes que ele me impedisse segurando-me pelo braço, saí imediatamente do carro.
 
— Isso é tão bom!
 
Olho para o céu chuvoso, adorando cada gota que caía fortemente sobre meu rosto.
 
Adoro tomar banho de chuva, minhas irmãs não gostam, já eu, não perco a oportunidade! Saí caminhando no belo jardim iluminado, ignorei as reclamações de Adriel. Não demorou muito, ouvi sua voz bem próxima às minhas costas. O que fez gelar, não só por conta da gostas de água fria.
 
— Vamos para dentro. — segurou minha mão. — Você pode ficar resfriada.
 
— Vá você, eu não vou agora.
 
Digo em tom alto, por conta do barulho dos relâmpagos.
 
— Ana, você fez um procedimento delicado. Vai querer passar por tudo novamente, se você estragar isso? — me fez lembrar daquilo que eu só queria esquecer.
 
O encarei com os olhos semicerrados, a água escorria por sua face em abundância. Adriel segurou meu rosto de modo suave, calmo, reflexivo.
 
“O que ele estava pensando?”
 
Vi-me sendo arrastada como um ímã por aquele par de olhos verdes, o homem me fitava como quem buscava por algo.
 
Ao dar um passo para frente, ele se inclinou para baixo, quase ficando da minha altura, sua mão deslizou para minha nunca e me puxou devagar. Tentei me mover, mas era como se meu corpo não correspondesse aos meus comandos, fiquei paralisada, tremendo de frio e meus olhos se fecharam involuntariamente quando senti seus lábios tocarem os meus.
 
Apertei minhas pálpebras com força quando sua boca começou a se mover contra a minha, era quente, macia, tinha um gosto bom.
 
As lembranças de suas palavras rudes, ditas a mim, veio em minha mente e eu reagi de maneira negativa.
 
— Nunca mais toque em mim. — o empurrei.
 
— Não faço questão disso. Pensa que estou apaixonado por você?
 
Voltou a ser aquele homem impiedoso com quem me casei.
 
Andei a passos rápidos me afastando dele indo em direção a porta, a abri e entrei. Subi as escadas em questão de segundos, mas parei no instante em que me dei conta sobre o quarto.
 
Segurando a barra do vestido encharcado, me virei ao ouvir os passos que talvez fossem os de Adriel. Era ele.
 
— Em qual dos quartos vou ficar?
 
Pergunto assim que o homem chega mais perto.
 
— Você vai ficar no meu quarto, Ana.
 
— Pare de falar "Ana", somente minha irmã Casse me chama assim.
 
— Santo Deus! Por que você se comporta como uma criança, desde que lhe conheci?
 
— Este é meu jeito, acostume-se — o ignoro — não vou dormir na mesma cama que você!
 
— Ah, você vai! E não adianta recusar. Você pode chorar, gritar, fazer o que quiser, mas nós dois vamos dividir a mesma cama, sim!
 
Sua voz grave e profunda me fez piscar os olhos, assustada, enquanto ele esbraveja.
 
— Por que tenho que dividir a mesma cama que você? — fico confusa.
 
— Você não leu nada mesmo do acordo, não é? — balançou a cabeça em negação. — seu pai deveria ao menos ter falado o que você deveria saber.
 
Se aborreceu mais ainda. Seus punhos cerrados chegaram a tremer.
 
— Eu não vou te tocar. Fique tranquila quanto a isso, pois eu tenho outra para fazer sexo comigo do jeito que eu gosto e não é você.
 
Não quis mais ficar ali ouvindo nada que saía da boca do cafajeste chamado Adriel Lobo. Dei as costas para ele e caminhei olhando porta por porta. Eram várias, não entendo porque um homem que vive sozinho e sem filhos, tem uma casa com tantos quartos.
 
Ao chegar quase no fim do corredor, reconheci a do quarto dele. Abri a porta, entrei já procurando uma toalha de banho em um closet enorme. Deparei-me com várias roupas novas, femininas, misturadas as poucas peças que eram minhas.
 
Eu não fazia ideia de como foram parar ali, mas percebi que estava faltando muitas peças. Meu celular e meu laptop também estavam sobre uma prateleira espelhada. Peguei uma toalha somente, e fui para o banheiro.
 
Quando terminei, saí checando o quarto para saber se Adriel estava nele. Não queria que ele me visse só de toalha e, já que eu estava só, fui para o closet tão rápido como a luz de um raio.
 
Mais tarde, eu estava na cama debaixo de um edredom quente e perfumado, quando Adriel entrou em seu quarto, ainda estava completamente encharcado da chuva. Apenas me enterrei embaixo do edredom com meu celular na mão.
 
Estava conversando com Gaby, minha amiga do colégio. E também sabia que o dono do quarto ia tirar suas roupas ou passar por mim só de toalhas, deste modo, decidi ficar coberta pelo tempo que fosse necessário, até que ele se vestisse adequadamente para deitar ao meu lado.
 
Depois de algum tempo, Adriel saiu do quarto, eu fiquei sozinha, mas agradeci por isso. Minutos depois ouvi umas batidas na porta, pedi que entrasse.
 
— Eu lhe trouxe uma sopa quente. Sr.ª Lobo.
 
A serva de Adriel entra com uma bandeja na mão, muito cuidadosa para derrubá-la.
 
— Você poderia me chamar apenas de Lis?
 
Mordi o lábio inferior, encarando a senhora simpática.
 
— O Sr. Adriel pediu-me para falar assim, ao dirigir a palavra com os patrões. Me desculpe. Sr.ª Lis. — reviro os olhos.
 
Sento-me na cama enquanto ela posiciona a bandeja acima das minhas pernas esticadas.
 
— Qual é seu nome? — pergunto-lhe.
 
— Pode me chamar de Magáh. — responde sorrindo.
 
— Muito obrigada, Magáh! Você pode falar, Lis ou Ana. Amanhã converso com meu marido, certo? — assentiu. — o cheiro está muito gostoso.
 
Faço o elogio inalando o aroma através do vapor que saía da tigela.
 
— O Sr. Adriel mandou preparar para você o mais rápido possível. Vocês tomaram banho de chuva, não é mesmo?
 
— Sim. Eu gosto da chuva!
 
Começo a saborear a sopa que estava incrível! Fico me perguntando o porquê Adriel é tão frio e ignorante comigo. Não entendo qual seu motivo para me tratar como se eu não significasse nada.
 
São tantas perguntas sem respostas.
 
Suas atitudes, às vezes, me fazem acreditar que sou mesmo como uma máquina de dar à luz, na verdade, é só meu ventre que importa para os Lobos. Sou apenas uma barriga de aluguel e nada mais!
 
Ao terminar o jantar, vou até à cozinha devolver a bandeja com a louça suja. Passei pela sala de jantar, vi Adriel sentado à mesa fazendo sua refeição, sozinho, com o prato de um lado e o laptop do outro, vez ou outra levava o garfo até a boca, sem tirar os olhos da tela do seu portátil.
 
— Precisa de algo?
 
Perguntou em um tom áspero, ainda concentrado em seu aparelho.
 
— Era para você estar deitada, certo? Não precisava vir deixar a bandeja, Magáh faria isso.
 
Ergueu a cabeça e me olhou pegando uma taça de vinho que descansava sobre a mesa.
 
— Eu posso fazer isso sem problema algum. Onde fica a pia? — olhei à minha volta e não a vi.
 
— Ali. — apontou para a sua esquerda e tomou um gole da sua bebida.
 
— Obrigada.
 
Magáh ficou assustada quando me viu com a bandeja na cozinha. Disse para ela que não tinha problema, eu queria ao menos fazer algo para fugir dos meus pensamentos ruins.
 
Assim que entrei no quarto me lembrei do escapulário, da moldura em vidro que eu havia quebrado. Eu queria ver, precisava ter a certeza se Adriel era mesmo o garoto dos meus sonhos.
 
Os cacos de vidro foram recolhidos, mas a joia? Daí eu notei uma pequena gaveta na mesinha de cabeceira e imaginei que estivesse lá. Não estava. Bufei chateada ao sentar na ponta da cama.
 
***
 
Quando acordei de manhã Adriel não estava mais, nem sei se ele dormiu ao meu lado, obviamente apaguei num sono pesado e não vi a hora em que ele se recolheu.
 
— Bom dia. Sr.ª Ana Lis.
 
Sorri para a senhora que acabara de pôr o café da manhã sobre a mesa.
 
— Bom dia, Magáh!
 
Talvez ela seja a única pessoa que gosta de mim, nesta casa.
 
Eu já estava pronta para sair de casa, e depois do meu café, peguei minha bolsa e me dirigi ao portão. No entanto, fui parada no meio do caminho por uma voz de um homem idoso. Olhei para trás.
 
— Estou aqui para levar a Sr.ª aonde quiser. Chamo-me Miguel, sou seu motorista de hoje em diante.
 
Estende a mão educadamente para me cumprimentar e eu o cumprimento de volta.
 
— Ah! Ok. Preciso que me leve à escola Maple Bear.
 
Entramos no carro e deixamos a mansão. Peguei todos os documentos que precisava para levar diretamente para a faculdade. Porém, ainda precisava falar com Adriel sobre o pagamento.
 
Como já estava no horário de almoço, pedi que Miguel parasse em um restaurante que meus pais sempre nos levavam para almoçar em família. Isso quando ele tinha tempo para nós.
 
Quando desci do carro, tirei os óculos escuros e levantei a cabeça, a primeira cena que vi foi meu marido, almoçando com uma mulher elegante.
 

A última virgem e o CEO cafajeste Onde histórias criam vida. Descubra agora