Capítulo 28

942 40 5
                                    

Capítulo 28
 
— Vou manter distância dela, eu prometo.
 
— É bom mesmo. Não me faça passar vergonha novamente!
 
Diz em seu habitual tom seco. Estava parado à minha frente, bloqueando minha passagem.
 
Sua amante deveria ao menos ter a decência e não frequentar a casa em que vivemos como marido e mulher, mesmo que esta união seja apenas judicialmente.
 
— Garanto que não se repetirá, Adriel.
 
Minha voz saiu baixa e forçada, as mãos tremiam de raiva enquanto eu apertava a bolsa contra o estômago, estava de cabeça baixa e fiquei assim até que ele desaparecesse no fim do corredor.
 
Quando tive a certeza de estar só, saí praticamente correndo, com a respiração ofegante e passos precisos, as lágrimas desciam incontroláveis pelo meu rosto.
 
Sentimentos confusos que ainda não soube lidar, tudo que vivo e, presencio hoje, é novo e fora do normal. Pelo menos para mim!
 
Fechei a porta atrás de mim, quando desci o último degrau do lado de fora da casa, liberei o ar ruim que me sufocava, o mesmo que machucava meu peito.
 
Naquele momento senti que um fardo caiu sobre minhas costas, sentei ali mesmo, respirando em sons audíveis de fortes soluços, o corpo cheio de agitação.
 
Não me importei com os servos da jardinagem que presenciaram um momento tão crítico como aquele.
 
Depois de alguns minutos, me recompus e me dirigi até o carro secando as lágrimas, meu motorista já me aguardava pacientemente.
 
Na faculdade me esforcei ao máximo para concentrar a mente nos estudos, mesmo que meus pensamentos teimasse em relembrar todas as cenas ruins vividas, por vezes.
 
Pela manhã Adriel havia sugado o restante de energia que me sobrou depois de ontem. Mas hoje, foi o grande dia de fechar o acordo com os empresários da 'M&G'Lobos'. Neste momento, minha equipe está em negociação com Adriel e Igor.
 
Passei horas, aflita por notícias, aguardando dolorosamente cada segundo que faltava para chegarem com o contrato de venda assinado.
 
"Isso pode mudar meu destino!"
 
Não podia mais suportar ficar naquela sala que se tornou pequena, não me concentrava e o pior era que eu estava tirando a atenção de outros colegas de turma com os meus suspiros tensos e movimentos indiscretos.
 
A ansiedade era explícita ao bater os dedos na mesa a cada minuto. Olhava para porta a cada segundo, esperava ouvir alguém me chamando.
 
— Lis?
 
Levantei da cadeira com as pernas consistentes como uma gelatina ao ouvir o chamado que tanto esperei, o corpo parecia estar levitando.
 
A expectativa não era boa sob a expressão descontente no rosto de Lívia.
 
— Lívia, chega de ‘suspense’, me fale?
 
A interroguei no meio do caminho, estava ansiosa demais para esperar chegar seja lá onde estivesse nos levando.
 
— Vamos lhe explicar os detalhes no escritório do Sr. Róger.
 
Rangendo os dentes eu a acompanhei com a paciência limitada. Ao pararmos em frente a porta, renovei o ar dos pulmões e entrei com Lívia logo atrás.
 
— Lis — Sr. Róger indicou a cadeira — Sente-se — a voz calma de alguma forma aliviou a tensão em meus membros.
 
A sala do nosso superior é organizada de dá gosto, mesmo em um estado de extremo nervosismo, é impossível não reparar a sutileza do ambiente, o ar de riqueza reflete em cada canto do escritório.
 
— Obrigada, Sr. Róger.
 
Encaminhei-me até a mesa de vidro, onde Ben e Lívia já estavam acomodados aparentemente ansiosos para iniciar a reunião.
 
— Ana Lis, o empresário Adriel Lobo, não quis fechar a venda.
 
Fiquei de boca aberta, certamente meus olhos expandiram o tamanho com o baque que senti.
 
— Como não? Deus!
 
Exaltei-me no momento que uma pontinha de desconfiança passou por minha cabeça, o frio na espinha veio de imediato.
 
— O que aconteceu?
 
Encarei meus colegas de trabalho e ambos abaixaram os olhares, denotando tristeza com minha reação.
 
— Ele não vai fechar negócio a menos que a criadora do Deep-Siber vá pessoalmente assinar o documento. Não fez nenhuma reclamação no que você pediu em troca, no entanto, quer conhecer o gênio.
 
Sr. Róger pontuou.
 
Meu raciocínio parecia uma máquina processando um turbilhão de informações em simultâneo.
 
"Adriel é esperto, na certa ele desconfia de algo."
 
— Mas por quê fez questão? Isso não faz sentido.
 
— Lis, fizemos o possível para convencer o Sr. Lobo, mas o homem é implacável.
 
Ben se explica.
 
Mordi as pontas das unhas enquanto pensava inquieta e chego a conclusão de que no momento precisava de um tempo, sozinha.
 
— Eu preciso de um tempo, talvez eu faça negócio com a concorrente da 'M&G'Lobos'.
 
Ambos me olharam espantados, ficaram boquiabertos e evidentemente receosos que eu resolva mudar tudo que combinamos.
 
Levantei da cadeira com as costas cheias de suor frio devido à frustração e medo antecipado do que poderia acontecer dali em diante.
 
— Diga aos empresários que preciso de alguns dias para averiguar o protótipo.
 
Arrumo uma desculpa temporária para refletir.
 
Os deixei com cara de paisagem e voltei para sala de estudos, os pensamentos imersos com o choque.
 
Tanto trabalho, esforços árduos, eu não podia recuar depois de tudo. Tenho que ponderar muito, e pedir equilíbrio a Deus para não me deixar cair. Preciso recuperar meus sentidos o mais rápido possível.
 
Adriel Lobo não vai desistir, se ele realmente sentiu-se ameaçado, certamente iria se precaver. Já deveria ter me preparado para isso.
 
O homem é inteligente e engenhoso, não vai ceder um centímetro, caso eu desista de vender meu protótipo para sua empresa, isso pode aguçar ainda mais a curiosidade dele, em saber mais sobre mim.
 
Talvez eu não tenha outra escolha.
 
Ao entardecer, enrolei o cachecol em volta do pescoço e saí do prédio, estava no horário de voltar para minha prisão, mas eu havia recebido várias mensagens de Tomás, ele estava preocupado, pois, não teve mais notícias sobre mim.
 
A verdade é que, desde que Adriel me proibiu de almoçar com ele, andei ignorando suas mensagens e isso o deixou intrigado.
 
— Lis?
 
Virei-me bruscamente para procurar de onde vinha o chamado urgente.
 
— Tomás, o que faz aqui?
 
Ele veio apressadamente em minha direção. Corri os olhos à nossa volta apenas para certificar-me que ninguém estivesse nos vendo.
 
— Por quê você não responde mais minhas mensagens?
 
Ele ofegava cansado, névoa saía de sua boca enquanto ele falava, devido à baixa extrema da temperatura.
 
— Desculpa, Tomás. É, que... eu estou muito atarefada nesses últimos dias.
 
Minha resposta foi concisa. A vontade que sentia era de abraçá-lo e pedir que me levasse para bem longe de todos que estão arruinando minha vida.
 
— Tanto assim?
 
— Perdoe-me, estou muito atrasada e preciso ir agora mesmo.
 
Antes que eu saísse ele segurou meu braço.
 
— Não acredito que não teve tempo para responder uma mensagem. Precisamos conversar, prima.
 
Sua testa franziu, ele notou que eu estava resistindo para falar. Nem tive coragem de olhá-lo nos olhos para dar-lhe uma desculpa tão insignificante.
 
— Adriel está proibindo você de falar comigo?
 
Pergunta evidentemente desanimado, num baixo tom enquanto examinava minha face com um ar triste.
 
"Sim," era a resposta que meu coração mandava dizer, mas as ameaças de Adriel ecoavam em minha memória, me impedindo de poder dizer a verdade. A pensar nas consequências que poderíamos sofrer, o correto seria afastá-lo de mim, por enquanto.
 
— Não é bom que nos vejam juntos agora.
 
Minhas mãos tremiam de medo, tive a sensação de estarmos sendo vigiados naquele exato momento.
 
— Então por que raios você tomou essa decisão?
 
Ele começou a pestanejar, a raiva ligeiramente apareceu em seu rosto. Não estava me dando escolha a não ser tratá-lo duramente.
 
— É para o nosso bem, ficarmos longe um do outro.
 
Todavia, Adriel tem uma nova técnica de me fazer obedecer suas ordens. Ameaçar a me entregar ao papai, para que me castigue.
 
Fui tão imbecil quando pensei que meu marido diferisse deles. "São todos iguais."
 
— E o que aquele babaca disse a você?
 
Apertou os lábios finos, sua testa enrugou furiosamente. Quando abri a boca para falar algo, os pneus queimando no asfalto me fizeram gelar com o súbito barulho. Senti o vento forte varrer meus cabelos por conta da distância mínima que o veículo passou rasgando o ar e parou há uns três metros.
 
Tomás me abraçou de modo automático quando o perigo do ato nos atingiu. A porta do veículo foi aberta e um figurão desceu do carro de punhos fechados e uma expressão mortal no rosto.
 
— Adriel!
 
Desvencilhei-me do abraço protetor do meu primo temendo a morte. Meu corpo parecia flutuar como se tivesse desistido da vida, ficando imerso entre viver ou morrer de vez.
 
— Você não me dá ouvidos, não é?
 
A Voz soou estrondosa, eu só conseguia tremer. O frio rapidamente foi substituído pelo calor de suas palavras, o suor começou a fluir dos poros.
 
Tomás entrou na minha frente e passou seu braço para trás, para me proteger.
 
— O que você vai fazer com ela?
 
Tomás disse desafiadoramente. Este ato, fez com que Adriel desse risadas em autoironia. Continuei colada em suas costas, impotente, sem saber como refutar a situação.
 
O homem estava transtornado, nunca o havia presenciado desse jeito.
 
— O que você tem a ver com isso?
 
Não conseguia ver seu rosto, no entanto, podia sentir a escuridão trevosa na atmosfera que nos rodeava.
 
— Só não quero que a machuque. O senhor está fora de si.

A última virgem e o CEO cafajeste Onde histórias criam vida. Descubra agora