I. O Assassino

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Pelo preço que pagava pela estadia, as condições da hospedaria bruxa na qual passava as noites antes de pegar a balsa eram até mesmo boas. Um pequeno prédio de paredes descascadas à beira-mar com oito quartos e três hóspedes, sem baratas ou insetos estranhos - e principalmente, banheiros particulares. A velhinha dona do lugar cobrava apenas cinquenta sicles por noite, e apesar de ter a aparência de uma bruxa má, fazia biscoitos no café da manhã que eram muito bons.

Era um dia bonito demais para ir à Azkaban, e ela sabia disso. O mar estava tão claro e azul que se confundia com o céu na linha do horizonte. Mas eram ossos do ofício. Há três anos fazia este trajeto duas vezes por semana, para conversar com os prisioneiros. Havia algo de macabro em conversar com os mais temidos assassinos, estupradores e malfeitores do mundo bruxo, mas ela se sentia extremamente atraída pelo confuso, brilhante e sinistro labirinto de suas mentes. Sentia-se protagonista de um daqueles seriados criminais trouxas, tentando desvendar mistérios, quando ouvia os relatos de seus 'pacientes' e tentava, junto a eles, encontrar o motivo de seus atos.

Não conhecera Azkaban durante o tempo dos dementadores, apesar de ter tido encontros com eles durante seu terceiro ano em Hogwarts, e durante a Guerra. Daquele tempo, só havia restado as fotos, que ela também não costumava ver. Após a queda de Voldemort, uma verdadeira caçada a comensais da morte e aliados começou - a prisão fora reaberta, sob o comando do filho mais novo do diretor do Hospital St. Mungus. O Dr. Gerald Marris fizera acontecer em Azkaban uma verdadeira revolução, dando aos presos uma nova condição - até mesmo àqueles que foram sentenciados à prisão perpétua.

As celas agora eram mais confortáveis, abandonando o padrão de calabouço medieval que o lugar tinha antes. Os presos tinham direito a médicos e especialistas, além de um ou outro benefício. Mesmo assim, as medidas de segurança tinham aumentado em quase cem por cento: ninguém podia portar varinhas ou qualquer objeto mágico a menos que estivesse explicitamente autorizado, animais eram proibidos para evitar transformações de animagia, aparatação, chaves de portal ou lareiras eram estritamente proibidas não só na ilha, como na cidade mais próxima. Um raio de quilômetros em volta do lugar estava protegido por feitiços que impediriam que embarcações, aeronaves, vassouras, ou qualquer pessoa a nado se aproximasse ou se afastasse.

Ela vira neste lugar a oportunidade de continuar com o trabalho realizado durante a Guerra. Por dois anos seguidos após sua formação em Hogwarts, tinha sido psiquiatra do QG Auror, no Ministério da Magia. Fora interessante quando os 'heróis' tinham provações. Mas com o fim da batalha, tinha se tornado um trabalho burocrático e sem graça nenhuma, já que - tirando aqueles que tinham se traumatizado para sempre - nenhum mais tinha medos, temores, problemas.

Quando o Dr. Marris, reconhecendo seu bom trabalho no QG, a convidou para trabalhar em Azkaban, ela custou a aceitar. Entre os prisioneiros havia muitos nomes conhecidos, o que poderia causar certa rejeição em seu profissionalismo. Pensou muito durante o prazo dado pelo diretor para aceitar ou não a proposta. Passou noites em claro imaginando como seria completamente difícil tratar homens que ela conhecera na época de Hogwarts, ou familiares de amigos que tinham se aliado ao lado negro, entre outros.

Um dia, saiu para jantar com Harry e Gina, e explicou para eles a situação. Viu os olhos verdes dele ficarem sérios, mirarem a mão junto com a da esposa, como se fitasse a aliança de casamento deles no dedo fino dela. Ela, com seu rosto cheio de sardas que lembravam - e como lembravam, meu Deus - as de Rony, simplesmente acenou com a cabeça e disse que ambos a apoiariam para o que fosse necessário.

Enviou uma coruja ao Dr. Marris na manhã seguinte, dizendo que aceitaria o trabalho. Uma semana depois, o próprio diretor mostrou-a como pegar a balsa, apresentou-a a hospedaria na cidadezinha de Rosyth, na costa do Mar do Norte e disse que todas as estadias ali seriam pagas pela prisão. Deveria ficar ali de terça-feira para quarta-feira, e então para quinta-feira. Tinha as segundas, sextas, sábados e domingos livres.

HALLELUJAH | DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora