V. Infidelidade

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what you are doing is screwing things up inside my head

Sentia a blusa do pijama grudar nas costas suadas, quando levantou assustada, o coração batendo a mil por hora. De novo?

É, de novo.

Cada vez mais frequente, cada vez mais forte. Hermione tinha a impressão de que, se um dia de repente, chegasse a dormir com Malfoy, saberia exatamente todos os detalhes de seu corpo, ou como ele se portava em cada uma das situações. Saberia como seria o som de seus gemidos e o cheiro – algo ardido, quase metálico – de seu suor.

Pressionou as têmporas latejantes, sentando-se com os pés para fora da cama. Era segunda-feira: já estava em Rosyth. Um cheiro salgado de mar entrava por alguma fresta da janela da hospedaria. Ele estava dormindo em alguma cela, a alguns quilômetros, perdido em algum sonho. Parecido com o que acabara de ter, ou não. Talvez não sonhasse. Talvez fossem pesadelos.

Os dela costumavam ser pesadelos. Às vezes, Rony a batia, a espancava, a machucava, a fazia sangrar. Outras, Rony não aparecia e não interrompia nada: eram os piores. Porque ela experimentava as sensações até o fim, gostava, e seu estômago revirava em culpa e vômito toda vez que acordava.

Ela se levantou. Todos os porta-retratos com fotos do noivo estavam voltados para baixo: tinha vergonha de tudo, nos últimos dias. Vergonha de assumir que sentira calafrios com a voz de Malfoy soando em seu ouvido, que tremera ao sentir a língua dele envolvendo seu indicador. Vergonha de assumir que estava se deixando levar para o lado físico.

E de todo modo, só havia duas saídas: ela poderia simplesmente ir até Marris e dizer que não podia mais, ou ela poderia se jogar de cabeça na parte profissional, e descobrir o que realmente estava por trás de tudo aquilo, evitando se envolver emocionalmente.

Nem precisava pensar duas vezes para escolher o caminho a seguir.

Ela se levantou, indo até a bolsa que usara no dia anterior. O chão estava gelado – cada vez mais frio no Reino Unido. Tirou de lá, entre galeões e sicles, o pergaminho comprido que o duende de Gringots lhe dera.

O extrato bancário de Liam Houston nos últimos meses de vida.

Fazia sentido. Uma grande quantia em ouro tinha sido aplicada em sua conta por volta de maio, mais ou menos quando a fortuna dos Malfoy fora saqueada. E daí, pequenos valores eram retirados quinzenalmente. Hermione não era economista, mas sabia muito bem que aquela quantidade de dinheiro poderia abastecer uma família tranquilamente.

Assim que ele morrera, sua conta fora fechada, e todo o dinheiro retirado. Mas o duende não quis dar nenhuma informação sobre a pessoa que tinha feito o saque.

Precisava descobrir mais sobre Liam Houston, e sabia muito bem que podia ajudá-la. Não podia demorar muito para fazer isso. Já faltara duas vezes, porque aparatar aos Estados Unidos e voltar não lhe fizera muito bem, mas teria que faltar novamente. Marris entenderia. Estava fazendo isso pelo bem de todos.

Ou talvez, apenas para convencer a si mesma de que ele não era tão mal assim.

—X—

i should've known better you'd never listen to what i say

"Não sei, Mione. Acho que você está indo longe demais"

Se a redação d'O Profeta Diário era o inferno, Gina era o próprio demônio. Nunca sentira tanta antipatia pela cunhada quanto naquele momento. Não era como se ela nunca a tivesse ajudado antes, encontrando furos jornalísticos em cada um de seus pacientes. Um pouco de reciprocidade custava muito caro?

HALLELUJAH | DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora