Capítulo 3 - Enquanto isso...

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DEFNE
Nasci e cresci em Manisa, mudamos para Istambul eu, mamãe, vovó e meus irmãos, após papai nos abandonar. Eu e meu irmão mais velho Serder, éramos adolescentes e tínhamos uma irmãzinha ainda bebê, a Esra. Fizemos amizade com Nihan e Ismail, já que morávamos no mesmo bairro e estudávamos na mesma escola.
Eu sempre gostei de desenhar e sonhava em cursar faculdade de designer, ou desenho industrial. No final do ensino médio, fiz algumas provas e entrevistas, consegui uma bolsa de estudos e corri para casa muito feliz, ansiosa para anunciar a novidade.
No entanto, quando fui dar a notícia, vovó nos contou, que mamãe tinha conhecido alguém e nos deixado, também. Ficamos arrasados. Ela explicou que não poderia sustentar a casa sozinha e cuidar de Esra. Então, eu e Serder precisaríamos trabalhar, o que significava adiar meus planos de ir para a faculdade. Fiquei bastante perdida, pois não sabia o que buscar. Foi Nihan quem me falou sobre uma vaga de garçonete, no mesmo restaurante em que ela trabalhava.
Após alguns anos trabalhando no Manu, eu já conhecia a maioria dos clientes e nutria uma paixão platônica por um deles, que costumava frequentar o local, o Senhor Sinam.
Eu não gostava do que eu fazia e muito menos do proprietário do local, que era bastante autoritário, rígido e exigente. Ele não permitia atrasos, exigia que o uniforme estivesse impecável e não tinha qualquer empatia pelos funcionários, nos tratando muito mal. Mas, era isso que eu tinha para o momento e não podia abrir mão. Meu irmão vivia dando cabeçadas, não parava em emprego nenhum e vovó dava o seu máximo, para manter o aluguel e as contas da casa em dia.
Num desses dias difíceis, em que eu havia levado bronca do Senhor Riza, por ter me atrasado, devido ao trânsito caótico, além de estar descabelada e com o uniforme um pouco amassado, que conheci Ömer.
Fui até a mesa em que ele estava com uma mulher loira, muito bonita e perua, para tirar o pedido, quando ele me chamou pelo nome, se levantou, segurou meu braço e foi me puxando para fora, falando coisas desconexas.
Ö: Defne! Você veio trabalhar hoje, meu amor?! Sinto muito! Não é nada do que você está pensando. Trata-se apenas de um almoço de negócios... - Eu consegui me livrar das mãos dele e falei.
D: Allah! Você é um maníaco? O que você está pensando? Nós não oferecemos esse tipo de serviço, por aqui. Com quem você pensa que está falando? - Ele me olhou e explicou.
Ö: Está bem! Eu só queria me livrar daquela garota e já o fizemos. Não foi tão difícil assim...
D: Aquela garota? Com que direito você me usa para esse tipo de teatro? Você está louco? Idiota... - Eu já ia me virando para voltar para dentro, quando a moça apareceu na porta chamando-o pelo nome, ele colocou as mãos no meu rosto e me beijou, enquanto eu me debatia, tentando me livrar. Então, ele me envolveu em seus braços, prolongando o beijo, até eu conseguir colocar as mãos em seu peito e empurra-lo, com muito esforço, já que ele era grande e muito mais forte do que eu! Assim que me livrei dele, acertei-lhe um tapa tão forte no rosto, que deu para escutar o estalo. Ficamos ali nos encarando, com a respiração alterada, até que ele decidiu ir embora.
Eu ainda estava me recompondo, quando uma vizinha me ligou dizendo que a vovó estava passando mal. Mas, quando fui falar com o senhor Riza, ele me acusou de estar inventando desculpas para sair mais cedo e de seduzir os clientes, causando transtornos no restaurante. Eu acabei discutindo com ele e me demitindo no calor da emoção.

Uns dias depois, uma senhora muito elegante me procurou, para fazer uma proposta indecente. Ela me ofereceu 400 mil TL, para que eu seduzisse seu sobrinho e o levasse para o altar. Inicialmente, eu não aceitei. Porém, meu irmão tinha se envolvido com agiotas e estava sendo ameaçado de morte, caso não pagasse 200 mil TL em 48 horas e Nihan me convenceu a aceitar, pois seria a única saída. Eu procurei a tal senhora e topei pelo valor da dívida do meu irmão, que já era do seu conhecimento.
Eu não fazia ideia se o tal homem era jovem, velho, feio, ou bonito... Pela fala dela, parecia a história da Bela e a Fera, pois ela o descreveu como autoritário, firme, disciplinado e de gênio difícil. De toda forma, eu não tinha nada a perder...
Ela comprou um guarda roupa novo para mim, com direito a roupas, sapatos, acessórios e maquiagens, me levou ao cabelereiro, fazendo uma verdadeira transformação na minha aparência, para que eu assumisse o cargo de assistente. Tudo combinado com o sócio dele.
Descobri no 1º dia de trabalho, que o alvo desse jogo era o rapaz, que me beijou no restaurante. Ele era um homem alto, moreno, magro na medida, lindo, elegante, muito cheiroso e se vestia de maneira impecável, porém era genioso, rígido, autoritário e bastante assustador.
Minha mais agradável surpresa foi descobrir, que o seu sócio era o Senhor Sinam, que eu sempre via no Manu e tinha uma quedinha por ele.
Apesar do temperamento difícil, fui aprendendo a lidar com Ömer. Ele era muito duro em alguns momentos e bastante generoso em outros. Percebi, que por trás daquela fachada de durão, havia um coração puro e sensível. Talvez fosse uma estratégia para esconder seu lado frágil.
Na medida em que trabalhávamos juntos, fomos ficando tão entrosados, que eu podia adivinhar o que ele queria, ou precisava. Eu admirava o quanto ele era talentoso e organizado, tanto em sua vida pessoal, quanto na profissional. Ele tinha uma alimentação saudável, praticava esportes praticamente todos os dias, era muito correto, com um caráter e condutas irretocáveis, sem falar do seu sorriso, que me desmontava. Nem preciso dizer que a admiração virou paixão, eu dormia e acordava ansiosa para vê-lo.
Depois de muitos maus entendidos, percebemos que ambos estávamos apaixonados, mas nossa alegria durou pouco, pois sua tia me pressionava e me fazia acreditar, que ele amava a Defne que ela criou e não a mim. Eu queria contar tudo à ele, mas ela me ameaçava por conta da dívida, que eu não tinha como pagar. Com isso, tivemos muitas idas e vindas, muitos altos e baixos, que ele não conseguia entender. Por outro lado, ele queria que dividíssemos minhas angústias, já que estávamos juntos, mas eu tinha medo de perdê-lo, até que ele decidiu priorizar seus sentimentos, desconsiderando minha instabilidade, e me pediu em casamento... Mesmo assim, cada nova pessoa que descobria sobre o contrato, colocava minha felicidade e paz em risco, como quando sua prima Sude soube de tudo e passou a me ameaçar também, sem falar de Fikret e Denis Tramba.

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