Capítulo 4 - O preço das escolhas...

81 11 4
                                    

DEFNE
Na medida em que os dias foram passando, foi ficando claro que Ömer não voltaria e eu fui morrendo aos poucos por dentro.
Sinam e Yasemin queriam que eu continuasse na Passionis, mas eu não aceitei. Eu achava melhor me distanciar de qualquer ligação com Ömer.
Resolvi me dar um tempo, inclusive porque eu não tinha vontade e nem energia para sair do meu quarto, nem da minha cama. Eu sentia uma saudade tão grande, que era um verdadeiro tormento. O cheiro dele estava impregnado nas minhas roupas e nas minhas entranhas. Eu podia sentir seu gosto, ouvir sua voz, ver seu rosto e seu corpo próximo a mim... Eu não conseguia ficar em paz, era como se ele estivesse tatuado no meu cérebro. Eu sonhava com ele, com suas carícias, a gente fazendo amor e quando voltava a realidade enlouquecia. Eu não conseguia comer e vivia no escuro, perdendo a noção entre dia e noite. Nihan me fazia levantar para tomar banho e me ajudava, porque depois de um tempo, eu mal conseguia ficar em pé. Eu fui me desligando... Eu já não tinha mais lágrimas, meus pensamentos eram confusos e se misturavam com meus pesadelos.
Lembro de no início, desabafar com Iso, mas eu fui perdendo as forças e já nem queria mais conversar. Mais de três meses se passaram e nada mudou, não havia notícias de Ömer, nem como contatá-lo, pois ele mudou o número do telefone e jamais voltou para casa.
Certo dia, eu acordei em um quarto estranho e me dei conta de que estava em um hospital. Eu estava toda monitorada por equipamentos e recebendo algum medicamento por via venosa. Olhei em volta assustada e vi Iso me olhando ansioso.
I: Hei?! Acordou Bela Adormecida?! - Eu esbocei um sorriso. - Você nos assustou, pensei que fosse te perder. - Falou com tristeza.
D: Onde... - Tentei falar, mas não tinha forças... a voz saiu sussurrada.
I: Você está no hospital, está anoréxica e desnutrida. - Ele parecia me compreender com os olhos. Meu amigo querido! - Você quer saber dos outros? Nihan está dando a luz! Sua avó e Serder estão com ela. Esra está na escola, sob protestos e eu vim ficar com você. - Senti uma lágrima escorrer dos meus olhos. - Você está aqui há quase 10 dias...
Ele ficou comigo o tempo todo, tentando me animar, conversando sobre assuntos diversos, falando de coisas da nossa adolescência... eu o olhava intensamente e ele compreendeu o que eu queria saber!
I: Não Defne, não temos quaisquer notícias do sujeito. Prefiro nem pronunciar seu nome...- Falou revirando os olhos. - Ninguém sabe, ninguém viu... Você precisa seguir em frente, esquecer que um dia ele existiu em sua vida. Você quer morrer? - Eu o encarei com olhar de súplica. - Você quase morreu! Eu a trouxe em meus braços, para cá, e você era mais leve que uma pena. Uma certa manhã, você simplesmente não acordava e deixou todos nós desesperados. Eu não consegui sentir o seu pulso, porque seus batimentos cardíacos estavam praticamente imperceptíveis de tão fracos. - Percebi uma angústia em sua voz. - Será que alguém merece fazer isso consigo mesma, por amor a uma pessoa, que não está nem aí?! Que se comportou como um garoto mimado e sequer permitiu, que você expusesse o seu lado?
Ficamos nos encarando, enquanto as lágrimas escorriam pelos meus olhos e começaram a brotar dos dele.
I: Esquece esse cara. Eu sei que falar é fácil. Se você não quer faze-lo por você, faça por nós. Sua avó só está um pouco melhor, pelo nascimento do Isinho. Mas, todos estamos de coração partido com o seu estado e com sua ausência. Volta para nós?! - Pediu. Eu sorri em meio às lágrimas, assentindo e ele me abraçou.

Depois de alguns dias voltamos para casa e eu fui me recuperando, com os mingaus, sopas, chás e fortificantes preparados pela vovó. No início, eles me davam na boca, porque eu mal conseguia segurar o talher. Mas, aos poucos, fui conseguindo comer sozinha e levantar sem auxílio. Confesso que a presença do Isinho renovou minha alma.
Sinam e Yasemin foram me ver no hospital e vieram em casa algumas vezes. Eles me ofereceram emprego, mas eu não queria trabalhar com eles, para que jamais houvesse a possibilidade de encontrar com Ömer.
S: Se for por causa de Ömer, ele está morando na Itália e, pelo o que eu entendi não pretende voltar. - Eu baixei os olhos. - Não sei como ele está, pois não converso com ele regularmente. Falei poucas vezes sobre a empresa. Ele é difícil...
D: Eu não sei se quero voltar a trabalhar na mesma área. Não quero correr o risco de encontrá-lo. - Apesar deles me contarem, que a empresa tinha sido arrendada e estar sendo administrada por outro grupo, continuava sendo dele.
S: Ele abandonou tudo e, pelo o que eu soube, ele não trabalha mais com isso.
Y: Você já pensou sobre o que quer fazer? No que gostaria de trabalhar? Acho que seria ótimo para você e para sua recuperação. - Eu neguei com a cabeça. Eu realmente não sabia, nem havia pensado sobre isso.
Eu gostava de trabalhar na Passionis, desenhar... Mas, trabalhar com isso, é como permanecer no mundo de Ömer. Se algum dia ele resolver voltar para esse trabalho, certamente nos encontraríamos e eu decidi, que não queria mais. Eu tinha ido do céu para o inferno tão rápido, que eu ainda estava queimando.
Serder e Nihan abriram um pequeno restaurante no bairro e estavam indo bem. Pelo menos cobriam as despesas e pagavam as prestações da compra da casa. Esse era um dos motivos para eu voltar a trabalhar urgente, eu precisava ajudá-los.
Sude apareceu um dia em casa de surpresa e eu estranhei muito. Ela estava namorando com Denis Tramba e me convidou para trabalhar na revista em que ela é editora chefe, assim como ele me convidou para ser designer em sua empresa, mas eu neguei ambos os convites. Ele parecia muito apaixonado por ela, o que o fez mudar muito, ao menos pelo o que eu senti.
Depois de uns dias, Sinam conseguiu uma entrevista de emprego para mim, para ser assistente do diretor de uma empresa de sapatos. Porém, no dia em que fui conversar com o senhor Ali, estava um tumulto enorme, porque o designer chefe tinha saído repentinamente, levando toda a equipe, para outra empresa. Quando ele viu o meu currículo, insistiu para que eu desenhasse algumas amostras.
Inicialmente, eu relutei, pois não pretendia enveredar por este caminho, mas depois pensei, que antes de Ömer, eu já gostava muito de desenhar e só não segui carreira, porque mamãe se foi nos deixando com outras prioridades. Após ver meus desenhos, ele ficou impressionado e me contratou como designer chefe, com aval para montar minha própria equipe. Eu estava relutante, mas quando ele me falou sobre o salário, que era bem melhor do que o de assistente, não tive mais dúvidas.
Eu fui incumbida de preparar minha primeira coleção a toque de caixa, pois estávamos começando o inverno e ele esperava que lançássemos a coleção de verão no início da primavera.
O grande diferencial em relação à Passionis, era a variedade, pois não trabalhávamos com sapatos de luxo e com saltos altos, como Ömer amava, a proposta era de uma linha mais esporte e com sapatos de conforto. Na verdade, mesmo os sapatos sociais, tinham saltos e bicos mais quadrados, como os modelos italianos.
Passei o verão todo pesquisando e trabalhando muito, para conceber um diferencial e um tema exclusivo para a nossa coleção. Eu não pretendia me fixar em uma única tribo, mas numa mulher moderna, que trabalha, passeia, é mãe, vai às compras e precisa de modelos adequados às suas necessidades no dia a dia, ou situação, sem perder a beleza, feminilidade, sensualidade e praticidade, com conforto.
Assim que a coleção ficou pronta no papel, pedi ao Iso e ao senhor Usta, que fizessem os protótipos, para que eu pudesse apresentá-los ao senhor Ali, que adorou.
A: Filha, hoje eu posso compreender o dito popular: "há males que vêm para bem". Você veio no dia do terremoto e nos tirou da catástrofe. Muito obrigada! - Ele era um homem de cerca de 50 e poucos anos, muito bonito e elegante. Sua esposa era muito chique e bonita, e trabalhava ao seu lado na empresa.
D: Eu quem agradeço pela oportunidade e confiança, que o senhor depositou em mim. - Falei animada.

O lançamento foi um sucesso, sendo que Sinam e Yasemin compareceram e ficaram muito felizes com o meu sucesso. Sude veio como editora da revista onde trabalhava e não poupou elogios.
No término do desfile, o senhor Ali me apresentou ao público como designer responsável, tecendo uma série de elogios ao meu profissionalismo e empenho.

Em meados da primavera, quando a produção da coleção estava finalizada e em fase de distribuição para as revendas, começamos a preparar a coleção de inverno, que deveria ser lançada no início do outono.
Fazia 10 meses que Ömer havia sumido, sem deixar rastros, partindo meu coração em milhares de pedaços. Eu consegui retomar a minha vida, com muito custo. Não posso dizer, que eu o esqueci, ou que estou pronta para outra. Nem sei se algum dia estarei, se casarei e terei uma família. Mas, tenho uma vida estável e agradável ao lado da minha família e amigos. Tenho um bom trabalho, que ocupa grande parte do meu tempo e me realiza. Não me arrependo de ter sido franca com Ömer, ele não merecia ser enganado e eu não merecia carregar esse fardo.  Tenho pensado que: A vida é o resultado das nossas escolhas, são elas que direcionam os nossos caminhos. Quando eu olho para trás, me surpreendo com algumas delas, pois mudaram totalmente a minha trajetória. É claro que eu me questiono sobre como seria, se eu tivesse feito diferente, mas percebo que aprendi muito e me fortaleci. O mais importante é seguir em frente e aproveitar, já que vivemos apenas uma vez."

SERÁ ILUSÃO?Onde histórias criam vida. Descubra agora