Capítulo 13 - Completando o quebra-cabeças

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DEFNE
Eu fui até a sapataria do Sr. Usta para ver Iso antes de ir para o trabalho, pois ele costumava me acompanhar até o ponto do ônibus e, como hoje Ömer viria me buscar, achei prudente que eles não se encontrassem ainda. Eu queria falar com o Iso antes.
No entanto, para minha surpresa, Ömer foi ver Usta, tentou conversar com Iso e eles discutiram feio! Ömer me estendeu a mão e Iso ficou esperando eu ir para o lado dele. Eu não sabia quem acompanhar, no momento, e fiquei estática, quando cada um foi para um lado.
Procurei Iso e tentei conversar, mas ele estava irredutível e me deixou falando sozinha.
Tivemos uma reunião na Passionis e Ömer estava bastante irritado e arredio, dando respostas duras e jogando indiretas, durante toda a reunião.
No final, eu esperei todos sairem, fechei as persianas e a porta, para termos um pouco de privacidade e pedi que ele me abraçasse. Era tudo o que eu estava precisando! Não podia perder os dois ao mesmo tempo...
Minha atitude fez ele ceder, quebrando o comportamento truculento, que ele teve na reunião.
Ficamos abraçados por um tempo e depois ele se sentou comigo no colo, me fazendo carinho e, claro, aproveitamos para matar a saudade.
Eu não quero e nem pretendo ficar me fazendo de santa, eu sou uma mulher, que ama e se sente muito atraída pelo seu homem. Já ficamos muito tempo distantes um do outro e eu o quero demais, em todos os sentidos.
Combinamos de nos vermos depois e eu voltei para o meu escritório.

Tentei falar com Iso, durante todo o dia, sem sucesso. No final da tarde, quando voltei para casa fui procurá-lo.
Ele conseguiu me ouvir e eu expliquei tudo o que conversei com Ömer, Sinam e Yasemin.
D: Eu sei que você só quer o meu bem, assim como minha família. Mas, eu amo o Ömer e, apesar dele ter errado, quando partiu e ficou longe por tanto tempo, sem que eu pudesse me explicar, eu compreendo o quão difícil foi para ele. Você sabe, melhor do que ninguém, todos os altos e baixos, que passamos por conta dessa mentira... Eu o deixava desnorteado, com minhas idas e vindas. - Ele me olhava de soslaio, parecendo impaciente. - Ele se abriu para mim, sempre foi franco, queria que eu dividisse com ele o que me afligia, mas eu tinha tanto medo de perdê-lo, que escondi até o final. Ele foi embora, porque foi enganado por todos a quem ele confiava e amava, reagindo como um animal acuado.
Yasemin me contou sobre o estado em que ela e Sinam o encontraram em Roma. Eles fizeram de tudo para trazê-lo de volta, porque ele é muito jovem para não ter planos e objetivos na vida. Ele abandonou tudo pelo o que trabalhou a vida toda, carreira, empresa, amigos e família, para viver sozinho e de forma desregrada. Sinam me pediu, que eu não prolongasse demais a minha decisão, para o bem ou para o mal. E eu decidi, que eu não quero viver sem ele! Ele é a maior vítima dessa história! Nós dois saímos muito quebrados, fomos interrompidos no auge da nossa relação, do nosso amor... Talvez não fiquemos juntos para sempre, mas esse afastamento não reduziu em nada o nosso amor. - Eu o olhei nos olhos. - Então, como eu posso dizer para você, que eu vou ignorar tudo o que sentimos um pelo outro, para não sofrer, se o meu sofrimento será muito maior, se eu não me permitir viver isso, se não nos dermos uma oportunidade de fazer tudo certo dessa vez? Sem mentiras, ou segredos. - Ele ficou me olhando e me abraçou.
I: Você tem razão, olhando por esse lado. Eu não deixei ele se explicar, porque eu queria te proteger! Mas, eu vou conversar com ele, por você. - Eu sorri.
D: Obrigada por estar sempre do meu lado. Te amo. - Nós nos abraçamos.

Ömer queria que eu fosse para sua casa, mas eu inventei uma desculpa, pois Iso me prometeu, que iria conversar com ele. Eu queria que eles fossem amigos novamente.

ÖMER
Fiquei chateado por Defne não poder vir em casa hoje, mas compreendo que ela precisa preparar sua família, para falar sobre nós!
Eu estava na sala lendo, quando ouvi a campainha e me surpreendi com quem estava na porta... ISO!

ISMAEL (ISO)
Depois da minha conversa com Defne, eu compreendi que eu não poderia ficar contra esses dois... Ela mudou muito depois que o conheceu, para melhor e, apesar de todo o sofrimento e da separação eles se amam, como eu, ou qualquer outra pessoa pode impedi-los?!
Pedi o endereço e fui a casa de Ömer, quando ele atendeu a porta, pareceu bastante surpreso.
Ö: Iso?! - Falou atônito.
ISO: Vim em missão de paz! Trouxe até raki*, para selar nossa conversa. - Ele preparou alguns aperitivos e nos sentamos para conversar.
Contei a ele sobre o estado que Defne ficou, após sua partida. Ele pareceu estarrecido com os detalhes e me agradeceu.
Ö: Jamais terei como te agradecer, o suficiente por tê-la ajudado a superar tudo isso.
I: Eu amo a Defo, como a uma irmã... Ela é minha melhor amiga. Já seguramos muito a barra um do outro... - Confessei.
Ö: Eu sei que pode parecer egoísmo da minha parte, mas eu fiquei completamente fora de mim. - Eu o observava com complacência. - Eu estava tão feliz naquele dia e, quando ela começou a falar, parecia que o chão estava se abrindo sob meus pés... Foi como cair num precipício, ou num buraco sem fundo... - Falou com amargura.
I: Eu imagino! - Reforcei.
Ö: O baque foi tão forte, que eu passei por várias fases. No início, eu fiquei muito desnorteado... minha "vida perfeita" desabou em minutos. - Fez sinal de aspas e respirou fundo. - Nem sei quantos dias passei num quarto escuro de hotel, sem comer, beber, ou dormir. Tudo tinha perdido o sentido... Eu me questionava como eu não percebi, o que estava acontecendo ao meu redor. Eu não conseguia visualizar um futuro, não sabia como prosseguir, ou recomeçar, pois tudo o que eu acreditava e vinha construindo pareceu tão frágil, tanto que desabou em segundos, como um castelo de cartas, que quando você puxa uma delas, cai em efeito cascata. Eu me sentia vazio, com sentimentos e pensamentos oscilantes. - Suspirou passando as mãos pelo rosto. - Eu aluguei um apartamento e, quando eu me mudei, que minha vida começou a entrar numa rotina, onde eu só podia contar comigo mesmo a maior parte do tempo, eu ainda estava em negação da falta que eu sentia dela. Eu achava que podia supera-la, mas no fundo eu sabia que seria muito difícil, pois já tínhamos passado por algumas brigas e separações... Vivi como um ermitão, por meses e, com a aproximação de alguns colegas da faculdade, residentes em Roma, passei a sair mais. Tentei transar com algumas mulheres, só por sexo e para sossegar os hormônios, mas o vazio a seguir era enorme. Sabe quando você não quer nem ver a cara da garota no dia seguinte?! Eu via Defne em todos os lugares, perseguia moças parecidas, achando que era ela... Um inferno!
Depois de um tempo, comecei a me conscientizar do peso da ausência dela e das coisas não vividas e doía demais... - Suspirou com pesar. - Eu compreendi, ou tive de admitir, que o mínimo que eu deveria ter feito, era escuta-la, porque ela era tão vítima quanto eu e era horrível ficar remoendo coisas mal resolvidas. Mas eu achava que era tarde demais, meses haviam se passado... Eu pensava, que ela tinha seguido em frente! - Na medida em que ele falava, eu podia sentir toda sua dor e o quanto ele realmente ama Defne e nunca deixou de amar. Muito difícil o que aconteceu com esses dois.
Ö: Certo dia, Sinam e Yasemin apareceram por lá. Inicialmente, ele me encontrou na rua e confesso que eu estava completamente louco. Eu bebia muito, a qualquer hora do dia, comia pouco e colocava qualquer roupa, mesmo amassada e saia pelas ruas como um zumbi.
O único aspecto positivo dessa história toda, meu refúgio, foram as telas que eu passei a pintar e a expor, por meio de uma conhecida.
I: Sim! Estava admirando sua produção. Você é muito talentoso. - Ele sorriu agradecendo. - Mas, como eles conseguiram te tirar dessa roda viva?! - Questionei.
Ö: Sinam teve uma conversa séria comigo, na verdade, algumas... Inicialmente, ele confessou não ter se arrependido de trazer Defne para perto de mim, já que graças a isso, eu tive a oportunidade ímpar de viver um grande amor, como poucos têm... Ele me conhece bem e, segundo ele, eu só a deixei entrar por ter uma convivência diária, propiciando que tudo acontecesse, naturalmente. Mas, que sentia muito pelo desfecho. Por outro lado, ele achava que eu não deveria jogar toda a minha vida, para o alto, depois de todo o investimento na construção de uma carreira, de um nome e da empresa.
A Passionis foi arrendada, mas estava a beira da falência, pois perdeu sua alma, já que o designer principal, no caso eu, estava ausente e Sinam não conseguiu seguir sozinho sem mim e decidiu trabalhar com Yasemin.
Então, chegamos a essa encruzilhada e tínhamos de decidir entre deixar falir, ou retomar a empresa, que construímos com tanto sacrifício. Ele pediu que eu pensasse bem, antes de definir nosso futuro. - Respirei fundo.
Além disso, notei o quanto eles ficaram chocados ao me ver, fato que mexeu muito comigo. Eu, realmente, estava no fundo do poço. - Ele olhava para cima, como se vasculhasse a mente por outras lembranças. - Talvez eu tenha sido fraco... Eu me entreguei. Não tive forças para continuar... A verdade é que eles me resgataram.
Quando eu voltei, confesso, que a princípio, eu não pensava em procurar Defne, eu achava que era tarde demais, mas desejava vê-la. Tanto que pedi para Sukru passar em frente a casa dela, assim que cheguei...
I: Acredito tê-lo visto nesse dia. Lembro que estava na porta da sapataria e jurei, que te vi num carro. Lembro que fiquei indignado. - Ele baixou a cabeça.
Ö: Quando eu a reencontrei, por acaso numa reunião de trabalho, foi como ser invadido por uma avalanche de emoções e sentimentos difíceis de conter. Então tive certeza, que eu a queria, que ela era a mulher da minha vida e eu não mediria esforços, para tê-la de volta para mim.
I: E se ela tivesse se casado, ou estivesse em um relacionamento?
Ö: Eu não conseguia imaginar essa hipótese, eu só queria constatar se ela ainda me amava, para conseguir o seu perdão, ou trabalhar para reconquista-la. Ela foi dura comigo, não cedeu fácil... - Ele riu com o olhar distante. - Defne amadureceu muito, está cheia de atitude, empoderada, mas sem perder a doçura. - Eu sorri lembrando dela...
I: Eu quero a felicidade dela! - Falei relembrando. - Eu acompanhei essa história, praticamente desde o início. Nihan, Serder e eu fizemos de tudo para tentar ajudá-la, mas nós não tínhamos o dinheiro, para devolver à sua tia. Vendi o carro, juntamos tudo o que conseguimos de valor, incluindo as alianças de noivado de Serder e Nihan, mas não foi o suficiente. Ela vivia sob pressão e, cada pessoa que descobria, a tensão redobrava. Ela tentou sair da sua vida várias vezes. A primeira foi quando eu fui buscá-la, completamente arrasada, na sua casa de campo.
Ö: Eu sai para comprar alguns mantimentos, deixando-a feliz, encantada com o lugar e, quando retornei, com flores, ela não estava mais lá, me deixando apenas um bilhete... Fiquei destruído. Fui até Sinam, chorei sem entender o porquê... Fui até o bairro de vocês e a vi na janela da casa de Nihan, mas ela se escondeu e eu fui embora, achando que ela não queria nem me ver.
I: Ela tentou te falar muitas vezes, mas sempre acontecia algo, frustrando seus planos. Inicialmente, sua tia a ameaçava com a dívida. Depois ela passou a dizer, que você não a amava, que ela jamais seria uma mulher por quem você se interessaria, que você estava apaixonado pela Defne que ela criou... Por isso, que ela vendeu o desenho para o Tramba, pediu aumento, se ofereceu para ser modelo... Ela estava tão pressionada, que já não raciocinava direito e acabava fazendo coisas, que a afundavam cada vez mais. Ela estava muito apaixonada e morria de medo de te perder. Chegou um momento em que nós estávamos com as mãos e os pés atados... Então, nos restava apenas escuta-la e apoiá-la.
Ö: Agora eu compreendo algumas atitudes dela... Eu ficava enlouquecido com seus altos e baixos, idas e vindas... Eu sabia que ela me amava, mas sentia que me escondia alguma coisa. Durante muito tempo, tentei descobrir, mas estar com ela passou a ser mais importante do que qualquer segredo, que ela pudesse ter... Afinal, o que uma jovem de alma e sentimentos tão puros, como ela, poderia esconder, que a desabonasse?! Eu a amava tanto, que escolhi o amor. Mas, nada me preparou para a revelação que ela me fez a caminho do altar... Você deve ter notado, que eu fui quebrando...
I: Eu achei uma loucura o que ela fez e o momento, que ela escolheu! Todos nós, que sabíamos da história, logo concluímos que ela havia te contado. Você parecia um zumbi na festa. - Completei.
Ö: Eu queria sair correndo dali, mas não tinha forças... Quando chegamos em casa, nem sei quanto tempo fiquei embaixo do chuveiro... Todos os meus sonhos foram por água abaixo, eu estava vazio, não conseguia raciocinar, nem reagir... Então, eu fui... Eu precisava me distanciar, tentar ver tudo de longe, entender tudo aquilo. Mas, eu me perdi... - Eu dei um tapinha em suas costas, olhando-o com empatia.

No restante da noite, conversamos sobre o que aconteceu no casamento, as trapalhadas por conta do vestido e sobre a minha nova paixão.
I: Ela era uma amiga de infância, que após muitos anos, veio morar no bairro, com o marido e o filho. Nós achávamos que ele era violento com eles, mas não tínhamos como provar, pois ela não se queixava. No final, ele arranjou outra mulher e pediu o divórcio, abandonando-a com a criança. - Falou com pesar. - Ela enviou o menino para a casa dos pais, pois não conseguia se manter e cuidar dele, sem trabalhar. Eu, Defne e sua família passamos a apoiá-la e essa proximidade fez com que eu e ela nos envolvêssemos. - Ele riu. - Agora estamos bem! Ela parece ter florescido.
Ö: Ser amado faz muita diferença na qualidade de vida e na auto estima das pessoas! Fico feliz por você ter encontrado alguém especial. Defne se preocupa muito com você...
Nos despedimos com um abraço e eu disse, que faria o possível, para apoiá-los perante a família de Defne. Chegar perto dele, escuta-lo, humanizou seus atos. Ele foi muito transparente e sincero em relação aos seus sentimentos, além de bastante coerente. Eu pude olhá-lo com empatia e compreender, que cada um tem seus limites e reage de acordo com o que tem, ou viveu. Quem era eu para julga-lo? Só me restava estar ao lado da minha amiga e dele, que já sofreram demais!

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* Rakı é um licor derivado da uva e com sabor de anis [erva doce] semelhante a outras bebidas como o áraque e o ouzo. É considerada a bebida nacional da Turquia e, às vezes, chamado de "leite de leão", porque, quando água é adicionada, a mistura fica com uma cor esbranquiçada. É feito de figos, uvas e passas de uva, aromatizado com anis. A maioria é bastante potente (40% a 45% de álcool) e, portanto, normalmente diluído em água fria ou gelada.

Fonte: Wikipédia

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