Capitulo 6 - Se concientizando...

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ÖMER
Assim que desembarcamos em Istambul, Sinam e Yasemin foram para a casa deles e eu fui com Sukru, para a minha.
No caminho pedi que passasse "naquele lugar" e ele logo compreendeu... Passamos no bairro de Defne e paramos em frente a sua casa. Fui invadido por uma onda de nostalgia, misturada com saudades e uma emoção, que eu não conseguia decifrar. Uma série de cenas vieram a minha mente e eu pensava, se algum dia eu voltaria a vê-la. Ainda estava doendo estar longe dela. Será que um dia essa dor passaria?!
Olhei para Sukru e podia ver o pesar em seus olhos. Sinalizei para que ele partisse.
Fomos embora e ao chegar na minha casa nova, fiz uma volta de reconhecimento, enquanto Sukru aguardava ansioso pela minha aprovação.
S: Está como o senhor queria?! Perguntou depois de um tempo.
Ö: Está excelente Sukru. Preciso de um café. - Ele fechou o sorriso.
S: Não encontramos a máquina que o senhor pediu, mas estamos procurando. - Eu assenti. - Vou tirar as malas do carro.
Sai no jardim e fiquei ali, próximo à piscina, pensando em como seria a minha vida daqui para a frente.

No dia seguinte, acordei animado para trabalhar, me vesti como há muito não fazia. Tive um certo trabalho, pois notei que a maioria dos meus ternos estavam largos, especialmente as calças. Tive de levar alguns para ajustes no alfaiate, me desfiz de outros e decidi fazer umas compras.
Fui visitar alguns clientes e me surpreendi, quando soube do namoro entre Sude e Denis Tramba.
A maioria dos nossos ex funcionários, tanto da fábrica, quanto do escritório estavam trabalhando em outras empresas e não queriam voltar. Eu fiz algumas entrevistas, mas a maioria não tinha o perfil, que precisávamos e isso foi bastante desanimador.
Após alguns dias, Sinam conseguiu junto com o meu tio Necmi, que alguns retornassem, incluindo Derya, que era minha assistente.
O nosso antigo conjunto do escritório, também estava ocupado e tivemos de ir para um prédio, que pertencia à família de Sinam. Passados alguns dias, eu já estava bastante habituado ao nosso novo local de trabalho, apesar de ser bem menor, que o anterior.
Sinam se dividia entre a Cherie e a Passionis, mas como a empresa deles era próxima e estava bem mais estável e organizada que a Passionis, ele passava grande parte do tempo conosco. Yasemin era uma profissional bastante descolada e experiente, para administrar a empresa com tranquilidade. Nossa ideia era trabalhar duro, para conseguir lançar a coleção de inverno, no início do outono e nós já estávamos no verão.
Eu passava grande parte do meu tempo na empresa e em casa, desenhando.
Assim que se soube da retomada da Passionis, passamos a ser convidados para eventos da área, como os de varejistas e atacadistas, revistas de moda, programas de TV e outras mídias. A notícia correu rapidamente.
Eu estava tão ocupado, que não tinha tempo de pensar e isso estava me fazendo muito bem! A convivência com Sinam, Yasemin e nossos antigos funcionários fazia toda a diferença. Eu sentia falta de algumas coisas de Roma, especialmente de Eda, que me apoiou muito durante esse último ano.
Nós precisávamos nos organizar, para quando a coleção estivesse pronta. O mais urgente era conseguir o galpão, para a fábrica e um centro de armazenamento e distribuição.
O nossos escritório ficava num complexo, onde havia várias empresas, dentre elas, uma que fazia vendas pela internet e que tinha um centro de distribuição.
Inicialmente, a proprietária foi resistente em nos atender, alegando falta de espaço e possíveis problemas de logística. Mas, depois repensou diante da perspectiva de nos tornarmos seus clientes, vendendo nossos produtos pela internet.
Solicitamos o agendamento de uma reunião com ela, mas ela pediu alguns dias, pois precisava falar com o irmão, que tinha uma empresa de artigos femininos e também utilizava o espaço dela, como pretendíamos.
Num dos raros dias, em que eu saí para almoçar nas proximidades, eu vi uma moça ruiva, bastante parecida com Defne e corri para alcançá-la, porém ela entrou num táxi e eu tive de desistir. Certamente eu continuava vendo coisas...

No dia da reunião, que Sinam insistiu para eu participar, fomos até a empresa de distribuição e, para nossa surpresa meu primo Pamir, estava trabalhando lá. Ficamos conversando e aguardando o irmão da senhora Seda.
Assim que o senhor Ali entrou, eu fiquei bastante surpreso, pois jamais imaginei que ele fosse o irmão de Seda. Nós o conhecemos há alguns anos do ramo de sapatos, apesar da empresa dele trabalhar com sapatos femininos, eles atuavam em outro seguimento. Eu e Sinam nos levantamos para cumprimentá-lo, enquanto ele permaneceu na porta, provavelmente aguardando alguém. Quando ela entrou, minha cabeça cabeça girou, minha respiração e meu coração erraram o ritmo.
Ali: Bom dia, pessoal. Eu quero apresentar a vocês nossa talentosa designer Defne Topal. - Ela ficou pálida quando me viu, parecendo tensa. Será que ela sentiu o mesmo que eu? - Eu insisti que ela viesse, para nos ajudar a pensar na logística, já que costuma organizar as questões de armazenamento e distribuição, com maestria. - E completou. - Bom ela dispensa maiores apresentações, pois vocês já conhecem a excelente profissional, que ela é.
Eu nem sonhava, que Defne trabalhava na empresa do senhor Ali e, que fosse participar da reunião. Ela estava linda, mas em nenhum momento olhou em minha direção, ou dirigiu a palavra a mim. Era como se não nos conhecêssemos, até Ali citar o fato dela ter trabalhado  conosco. Ele pediu que ela nos apresentasse como eles estão organizados e ela o fez, propondo algumas opções para nós.
Ö: Nós precisamos de uma sala climatizada, para manter a qualidade dos materiais, em especial os couros, e de uma ventilação adequada, para os produtos finalizados. - Ali se mostrou interessado no sistema que utilizamos e quis conhecer. Sinam disse que havia um grande magazine, que comercializava nossos produtos, que havia adotado o sistema. Então, fomos todos para o local.
Eu tentei falar com Defne, mas ela me ignorou. Na loja percebi, que ela olhava ao redor, procurando algo. Quando me viu, eu sinalizei, mas ela ignorou. Ela entrou num provador e eu fiquei aguardando-a na saída. Assim que ela saiu, eu me aproximei e a encurralei contra a parede, sem toca-la e percebi seu nervosismo.
Ö: Podemos conversar? - Ela revirou os olhos.
D: Nós não temos nada para falar, exceto assuntos de trabalho. - Disse enfática.
Ö: Tem certeza?! Eu senti muito a sua falta... - Ela me interrompeu.
D: Não pareceu! - Respirou impaciente. - Agora me dá licença, que eu preciso ir. - Falou de forma impositiva.
Ö: Eu queria muito conversar com você e...
D: Chega! - Falou alto, chamando a atenção dos demais e quando se deu conta, completou num tom mais baixo. - Eu já disse, que não há o que dizer. Então, me deixa em paz. - E saiu sem olhar para trás.

O restante do dia, eu não consegui mais tirá-la da cabeça. Na verdade, ela sempre esteve ali, mas o nosso reencontro ficava martelando a minha cabeça. O perfume, o tom da sua voz, a pele branca, o rosto lindo, o corpo delicioso... Revê-la atiçou o fogo, que sempre esteve em mim, me queimando...  Sinam veio falar comigo e, a princípio não tocou no assunto.
Ö: Você sabia, que Defne trabalhava com Ali, não?! - Ele assentiu.
S: Mas você não quis me escutar! E eu não quero mais me meter nisso. Eu sei que ela trabalha com Ali há cerca de 6 meses, porque eu a indiquei como assistente, mas ela acabou sendo contratada com designer... - Ele me explicou sobre ela não querer atuar na área e como tudo aconteceu. - Eu fui no desfile da coleção e foi um sucesso. - Ele respirou fundo e continuou. - Porém não sei nada de sua vida pessoal.

Combinamos de jogar basquete no final do dia e foi maravilhoso. Nessa altura eu já havia tomado algumas decisões, que eu comuniquei a Sinam no final da partida.
Ö: Sinam, eu quero a Defne de volta! - Ele ficou chocado e tentou argumentar. - Eu a quero para mim. Eu a amo, nunca deixei de amá-la. Revê-la foi um choque de realidade para mim. Cara, o que eu estou fazendo da minha vida? 
S: Você está certo! Corra atrás do seu amor... - Sai correndo da quadra, como um garoto, para tomar banho e me trocar para ir na casa dela.

Na saída encontrei minha tia, que veio tentar se reconciliar comigo.
N: Por favor, me perdoe?! Eu amo você?! Não pensei que as coisas chegariam a esse ponto. Eu...
Õ: Você deixou duas pessoas quebradas... Nós fomos cada um para um lado, sofremos demais... Você deveria pedir perdão a ela, também.
N: Eu não pensei que chegaria a esse ponto...
Ö: Você teve oportunidade de parar, quando viu que firmamos compromisso, mas continuou a pressiona-la. Eu não entendo o porquê desse tipo de atitude. Por que você não nos deixou em paz?!
N: Eu tinha medo de te perder.
Ö: Chega! - Falei alterado e voltei para casa, sem olhar para trás.
Sinan se surpreendeu e, quando expliquei, ele completou.
S: Eu acho melhor fazer as coisas com calma. A família dela está muito chateada com você! Você terá de reconquista-los...-
Ö: Eu não tinha refletido sobre isso, mas você está certo...

SERÁ ILUSÃO?Onde histórias criam vida. Descubra agora