2. O Tutor

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Definitivamente, tomar uma garrafa inteira de hidromel após duas doses de conhaque e cinco taças de vinho do oeste não foi a melhor ideia que teve em sua vida. Por mais maltrapilho que se apresentasse, a mera presença de Sunfyre era o suficiente para que o povo comum o reconhecesse como superior, e lhe enchiam com o pouco que tinham. Durante toda sua vida, Aegon se permitiu embriagar-se na sensação inebriante de estar uma casta acima dos reles mortais, incentivado pelos dois lados de sua família. Como um Targaryen e um montador de dragões, era difícil não se sentir mais perto dos deuses do que dos homens.

É claro, jamais poderia sequer sugerir aquilo para Alicent. Sua mãe o esbofetearia se sequer desconfiasse que estaria afrontando os Sete ao cogitar se comparar, mas o que ela sabia sobre ter o fogo correndo no sangue? Quando foi que Alicent sentiu o coração de um dragão batendo em sincronia com o seu, quando sentiu o ar gelado lhe cortando o rosto e os braços enquanto se estava montando o calor em seu estado mais grotesco? Os deuses de Alicent e os septões não lhe inspiravam medo.

Mas em Dragonstone, diante dos seus, Aegon sentia-se uma verdadeira fraude. Era como se estivesse sendo julgado pelos inúmeros dragões de pedra esculpidos no pequeno pátio onde se encontravam, urrando raivosamente de vergonha de compartilhar o sangue com uma criatura tão patética que mal conseguia se manter em pé, mesmo após ser libertado. Daemon finalmente perdeu a paciência e lhe agarrou com firmeza pelo braço direito, o colocando de pé e o forçando a seguir em direção ao castelo. Conforme se aproximava a porta de entrada, começava a identificar gárgulas menores, misturas disformes de humanos com animais, formando bestas ameaçadoras que pareciam prontas para lhe fazer pagar por toda desonra que trouxe a sua casa.

Rhaenyra e Daemon, no entanto, permaneciam alheios ao seu terror enquanto o conduziam pelo interior escuro. Era evidente que haviam trabalhado duramente para devolver Dragonstone a glória de seu passado, mas Aegon receava não ter sido capaz de apreciar adequadamente naquele momento. As chamas dos archotes não eram o suficiente para que enxergasse mais do que inúmeras tapeçarias com o dragão de três cabeças vermelho ornamentado nas paredes altas.

As escadas com toda certeza foram seu maior desafio. Os degraus de pedra escura eram extremamente estreitos e lisos, e por diversas vezes quase foi de encontro ao chão. Para sua sorte, Daemon parecia estar sempre atento, e tinha o dom de içar seu corpo para cima sem machucar o seu ombro. Por um momento, estranhou a tratativa. Fosse a mesma cena com Otto Hightower, e não apenas o seu avô teria o deixado cair, como aproveitaria a oportunidade para lhe esbofetear. Não teve muito tempo para prolongar seus pensamentos, percebendo que estava sendo levado para um cômodo com uma porta de madeira muito grande.

Se fosse sincero, não era a maior sala que havia entrado em sua vida, mas estava longe de ser considerada pequena. Uma janela enorme preenchia boa parte da parede oposta à porta, iluminando com o brilho daquela noite estrelada de lua cheia uma grande mesa retangular de mogno escuro, com espaço para doze pessoas, perto o suficiente de uma pequena lareira que se sentiu aliviado. Permitiu-se ser conduzido para uma confortável poltrona negra, reparando nos quadros na parede que retratavam Aegon e suas esposas-irmãs, em especial Rhaenys, conforme finalmente foi libertado do aperto de seu braço.

Permaneceu calado, enquanto Rhaenyra tomava o pequeno trono na ponta da mesa e Daemon lhe trazia um pequeno branquinho baixo acolchoado e agachando-se para ajudar a esposa a acomodar seus pés em cima dele antes de lhe retirar os apertados sapatos. Aegon não pode deixar de reparar o quão inchados os pés de sua irmã mais velha estavam e em sua expressão de alívio. Mas logo Daemon tomou assento bem na poltrona entre ele e Rhaenyra, e o encarava com os olhos violetas muito sérios:

— Como está, rapaz?

Aquilo o pegou de surpresa, fazendo piscar algumas vezes. A bem verdade, não tinha se permitido pensar muito desde sua fuga. Eles tinham um plano traçado, sabia o que deveria fazer, e concentrou-se naquilo até aquele momento.

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