3. Sangue do Dragão

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Daemon Targaryen tinha orgulho de poder dizer que conhecia muito bem cada canto de Dragonstone, como se houvesse morado toda sua vida naquele lugar, embora aquilo estivesse longe de ser verdade: nasceu e se criou em King's Landing, dando todo o trabalho que podia aos escudeiros que Jaehaerys lhe designava. Sentia um grande apreço pelo que considerava ser uma das provas da magnificência de seus antepassados e não se cansava de olhar cada detalhe daquela arquitetura, imaginando as magias antigas usadas em sua construção - porque não era tolo o bastante como o resto dos westerosi para acreditar que formas tão perfeitas e amedrontadoras fossem esculpidas por mãos humanas.

Ainda que o castelo todo o fascinasse, estaria mentindo se dissesse que não tinha seus locais favoritos. Um número considerável ficava na Sea Dragon Tower, onde ele e Rhaenyra tinham escolhido manter os aposentos privados de sua família, e o principal deles era um pequeno pátio privativo que ficava não muito distante de seu quarto. Era amplo o bastante para poder abrigar um pequeno salão de festas, com o chão coberto por carpetes vermelho-sangue e as paredes negras não ostentavam nenhuma decoração, permanecendo a pedra dura, negra e crua, com pequenas pontas projetando-se para fora como pequenos dentes pontiagudos. Os meistres diziam que Visenya usava aquele ambiente para seus treinos privados, mas suas correntes jamais conseguiriam mergulhar nos mistérios do sangue do dragão.

Qualquer um com olhos poderia ver que treinar com espadas não era o objetivo de Visenya naquele local - oras, não fazia o menor sentido uma enorme estátua no meio de um pátio de treinos, por mais que meistre Gerardys insistisse que aquilo apenas fazia parte da decoração. Era um dragão alto, com sua enorme cabeça de pedra verde-esmeralda quase encostando no teto. Sua boca estava entreaberta em uma careta assustadora, revelando dentes pontiagudos perfeitamente esculpidos que brilhavam com o iluminar dos archotes, lançando pequenos caleidoscópios contra as paredes. Todo seu corpo era extremamente detalhado, com cada escama perfeitamente desenhada em seu corpo com relevo. Suas asas estavam abertas, e em seu peito estufado, estava recostada uma segunda estátua de uma mulher, um pouco mais baixa, em bronze. Seu corpo voluptuoso era destacado por uma espécie de armadura de escamas, que sabia se tratar de sua pele, e seus cabelos caiam, em uma única longa trança, até a altura de seus joelhos. Estava com os peitos estufados tal como o dragão, e sua perna direita estava apoiada em uma pequena pilha de corpos, ao lado de uma grande espada negra.

Meistre Gerardys gostava de dizer que era uma representação de Visenya, mas Daemon sabia a verdade: era Vhagar, a deusa valyriana da guerra e dos combates, protetora dos guerreiros e montadores de dragão e uma das mulheres-dragão que materializaram o fogo e sangue em forma de bestas. E, acima de tudo, a principal deusa de devoção de Daemon desde as Batalhas de Stepstones. Era a ela que recorria em todos os momentos difíceis de sua vida desde então, e foi através de Vhagar que aprendeu a controlar o dragão dentro de si.

Não era surpresa nenhuma encontrar-se ajoelhado novamente diante da estátua, com ambos braços estendidos com a palma para cima, entregando novamente seu coração e seu destino na mão de seus ancestrais. Mesmo que os primeiros raios do dia ainda não fossem o suficiente para iluminar o cômodo, que só permanecia livre do breu por conta das várias velas vermelhas que acendeu aos pés da estátua, mantinha o seu tom em sussurros, não querendo atrair atenção indesejada. Para os westerosi, não importava se os deuses da antiga Valyria o acolhiam de forma que o Deus de Sete Faces, estariam prontos para classificá-lo como selvagem e maligno se desconfiassem que estava venerando deuses tão profanos.

... Rogo-lhe que acompanhe meu irmão ao reino de Balerion, o início e o fim, e limpe seu caminho de todos os inimigos nefastos que possam o impedir seu encontro ao nosso pai. Suplico, ó minha protetora, que minhas escolhas não prejudiquem minha família, que suas asas nos proteja das flechas envenenadas das línguas ardilosas e cegas que não veem além do que está em sua frente. – Daemon fez uma pequena pausa, sentindo uma presença muito conhecida em suas costas transformando aquele ambiente em algo tão quente que precisou se esforçar para manter os olhos fechados. – Vhagar, traga força e precisão a minha espada, clareza aos meus pensamentos e proteção a minha família, pelo meu sangue e pelo sangue do dragão.

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