Eterno Carnaval

Independência ou o que?

✿ Independência ou o que? ❀

Maria: ON

Na internet existem vários memes sobre a vida de quem mora sozinho, é até cômico. Passar a ter seus próprios horários, suas regras e fazer tudo por conta própria é um máximo, mas o que dá graça mesmo é ver as pessoas perderem o controle e reclamarem que tudo deu errado no final.

Mas no meu ver, comigo não seria assim. Com meus 17 anos eu decidi que aos 20 começaria a planejar a minha vida independente, meu sonho era comprar a minha casa e fazer acontecer. Quando saí do ensino médio tudo parecia estar tão perto e eu gostei da sensação... Isso até enxergar como é ser adulto de verdade.

No colegial era fácil sonhar, eu e minhas duas melhores amigas ficávamos falando sobre isso e eu sempre era a princesa dona do castelo. A Iza era a princesa que conhecia o príncipe encantado e a Ana só queria frequentar bailes mais fodas do que os da Cinderela.

Eu adorava quando perdíamos a linha dos pensamentos e tudo terminava na praia de Salvador. Como morávamos em uma cidade pequena, sair da rotina monótona era sim uma fantasia.

Quando completei 18 anos o meu plano de carreira era simples. Eu ia começar a faculdade de medicina veterinária e enquanto me formava, ia trabalhar na loja de roupas da minha tia. Como uma boa planejadora, fiz com que tudo se encaixasse perfeitamente.
Depois de um ano conquistando tudo, acabei me permitindo sonhar um pouco mais com a independência, estava tão perto...

Foi aí que voltei a ter contato com o Edu, éramos quase namorados na adolescência, mas ele era de outra cidade na época. Nosso reencontro foi na faculdade, um ano mais velho e tinha objetivos parecidos com os meus. Voltamos a ficar e tudo foi tão repentino que logo estávamos planejando morar juntos, para facilitar nosso romance.

Sei que eu devia estar radiante em encontrar alguém disposto a juntar os trapos e viver junto, mas no fundo eu sabia que não era exatamente isso que eu queria, viver com alguém era um patamar diferente... Nosso romance não se concretizou na época de adolescentes porque ele ainda não podia sair da cidade natal e deixar a família, eu não queria estragar as coisas mas talvez, eu ainda não estivesse pronta também.

Eu devia ter dito o que sentia para ele no momento em que voltamos a ficar, mas tive medo... Medo de perder o que tínhamos, então o que me restava era enrolar.

Ainda tinha o problema da casa certa. Depois que ingressei de vez na faculdade, comecei a procurar casas para morar, sem o Edu saber, para ele não pensar que eu já estava decidida.

Morar fora estava sendo a opção mais viável para minha situação, começar algo novo podia ser bom. Minha tia tinha uma filial de sua loja em Aracruz e disse que me empregaria lá também se eu quisesse, era perfeito.

Contei isso para as minhas melhores amigas e tive apoio incondicional, quer dizer, quase, eu senti que elas ficaram um pouco para baixo e confesso que eu também.

Não queria deixar tudo para trás, mas ao mesmo tempo, não queria limitar meus sonhos...

Eu me sentia presa no meu mundo confuso de decisões e isso me levou a uma conversa complicada com o Edu.

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Era quarta-feira dia 15 de fevereiro, o Edu e eu estávamos na casa em que eu morava com a minha vó. Ele estava na cidade para resolver uns problemas da mãe e eu estava me arrumando para ir trabalhar.

Durante a semana nós quase não nos víamos, mas era sempre muito agradável estar com ele antes de ir para a facul a noite.

Edu- Eu estive pesquisando umas casas pra alugar no centro da sua cidade mesmo, precisamos começar a planejar.-

Maria- Planejar... É, eu acho que sim.- Eu não queria morar em uma casa alugada, ele mudava minhas metas de forma singela sem nem perceber.

Edu- Acha? Maria, eu não te entendo. Antes você tava toda animada com a minha vinda pra cidade e agora parece que tanto faz.-

Maria- Não é isso, Edu, eu só... Tô achando que estamos indo rápido demais...-

Edu- Rápido demais? Mas você não queria morar sozinha logo?-

Maria- Pois é, eu quero morar sozinha...- Eu precisava mandar a real.

Edu- Então o problema sou eu?-

Maria- Não, Edu, o problema não é você, na verdade não tem problema algum, é só que... Eu não me sinto pronta pra morar com você, mas quero morar sozinha, comprar a minha casa, você me entende?- Eu sabia que ele não entenderia, o Edu não era do tipo que aceitava a verdade fácil.

Edu- Sei bem porque não tá preparada, você não quer é assumir um relacionamento comigo, Maria, tô sabendo qual a sua.-

Maria- Não é isso, nós podemos namorar e morar em casas separadas.-

Edu- Você sabe que eu sempre quis construir uma família, quero que nós sejamos uma família um dia.-

Maria- Exato, "um dia", não precisa ser agora... Vamos devagar, meu bem, nós...-

Edu- Não! Eu já entendi, você não quer ter algo sério comigo agora, prefere curtir sua vida de solteira. Então tá beleza.-

Ele se exaltou, se levantou da cama e foi até a porta do quarto.

Maria- Edu, para com isso, eu não quis dizer nada disso.-

Edu- A gente se fala.-

Ele disse e saiu pela porta, me deixando sozinha no quarto.

O Edu não era um cara ruim, ele só não sabia separar as coisas. Seu desejo de formar uma família comigo estava sendo precipitado demais para mim, mas isso não significava que eu não queria.

Depois que ele saiu por aquela porta eu não soube mais se nós ainda teríamos algo pra construir juntos, mas não me arrependi de ter dito o que achava.

Mesmo assim eu fiquei arrasada e mais tarde na facul não falei com o Edu, nem comentei sobre o que houve, com as meninas.

Antes dessa briga eu estava meio distante das minhas amigas, com tudo o que estava rolando na minha vida comecei a ficar mais na minha, não foi por mal.

Porém, naquela mesma quarta-feira do dia 15 de fevereiro, a proposta da Ana me pegou de surpresa...

(...)

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