REGISTROS

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Nós atravessamos o pequeno vilarejo de Oymyakon com os olhos presos na torre de rádio que ficava a alguns quilômetros dali. O vento soprava forte e o frio era cortante, mas o sol tentava brilhar naquele cenário congelante, iluminando o caminho e tornando nossa jornada um pouco mais suportável.

"Então," o tenente começou a falar, com o tom recheado de ironia, enquanto caminhva na frente. "Sargento de uma força tarefa feminina?"

"É, pois é," eu respondi, pisando firme na neve. "Difícil de acreditar?"

"Na verdade, não," ele disse, olhando para mim. "Você tem um perfil persistente quando coloca algo na cabeça."

"Não sei se levo isso como um elogio ou uma crítica, senhor," eu disse sarcasticamente.

"Um pouco dos dois," ele continuou, com um tom irônico. "Persistência é uma coisa boa, mas às vezes você a torna irritante."

"Você fala como se eu fosse a pior pessoa do mundo," eu murmurei, sentindo minhas bochechas esquentarem.

Nossos pés afundavam na neve, e a paisagem ao redor era deslumbrante. De repente, avistei alguns cervos correndo no horizonte. Eu puxei Simon pelo braço, animada. "Veja, tem outros ali!" Apontei, com um brilho nos olhos, observando os cervos andando tranquilamente e vez outra cavarem alguma coisa no chão, o sorriso brotando no meu rosto por baixo da máscara, me virei para Simon, "Você caça, tenente?" perguntei curiosa me aproximando.

"Sim," ele respondeu, observando as criaturas. "Você tem um tio que caça, certo?" Seus olhos se fixaram em mim e eu me lembrei de ter mencionado isso a ele anteriormente. "Eu não estava totalmente inconsciente naquela hora," ele continuou se virando para caminhar novamente antes de falar por cima do ombro. "Ouvi tudo o que você disse, mas não tinha forças para te mandar calar a boca."

"Ei, eu estava tentando te salvar," eu disse, irritada. Ele continuou a caminhar na neve, sem se preocupar com minhas palavras.

"Você leva tudo a sério demais," ele murmurou, cansado.

"Você fala sério demais," eu retruquei, o seguindo de perto.

Nós caminhamos com determinação em direção à estação, a torre gigante ao longe se tornando cada vez mais nítida. Quanto mais nos aproximávamos, mais detalhes eram visíveis sobre o prédio ao lado da torre, provavelmente a estação de rádio local.

"Estamos quase lá", Ghost anunciou com ânimo forçado.

"Espero que tenham comida ali", eu exclamei esperançosamente, minha barriga roncava de fome.

De repente, eu me lembrei da barra de cereal que Agatha havia me dado. Parei de andar de repente e verifiquei freneticamente meus bolsos, Simon notou minha ausência e se aproximou, com um olhar preocupado.

"O que aconteceu?", ele perguntou. Então eu senti o plástico da embalagem sob meus dedos e sorri, puxando-a rapidamente e mostrando-a ao tenente.

"Me lembrei que eu tinha isso comigo", eu disse, abrindo a embalagem e pegando metade. "Aqui, pegue".

"Você sempre me surpreende, sargento", ele murmurou, levantando sua máscara.

Não foi o alimento perfeito, mas eu apreciei cada mordida da barra de cereal e mentalmente a declarei a comida mais deliciosa do mundo.

Quando chegamos à torre, o sol estava prestes a se pôr. Simon empurrou a porta de metal, apontando sua pistola para dentro, pronto para atirar em qualquer ameaça. Eu entrei logo atrás, a estação parecia ser um dos poucos lugares que não haviam sido saqueados. Embora abandonado, havia claramente energia elétrica ali.

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