DESTROÇOS

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Eu acordei com uma sensação de cansaço que parecia ter se instalado em meu corpo durante a noite. Minha mente estava turva e meu corpo pesado, como se eu tivesse lutado uma batalha durante o sono. Abri meus olhos e olhei ao redor da cabana. Ghost havia dormido no chão, como havia insistido que iria fazer após uma longa discussão na noite anterior. O local onde ele estava deitado ainda estava quente, indicando que ele havia saído há pouco tempo.

A cabana estava em silêncio, mas o mundo lá fora estava acordando lentamente. Eu levantei da cama, minhas pernas ainda bambas, e caminhei até a janela. A luz da lua iluminava a paisagem e a cabana, criando um ambiente calmo que eu nunca havia notado antes. O ar estava fresco e limpo, como se eu pudesse respirar toda a beleza do mundo ao meu redor.

Decidi sair para o ar livre para me clarear a mente. Quando abri a porta da cabana, fui surpreendida por uma densa neblina que cobria as árvores ao redor. O clima mórbido e silencioso me deixou arrepiada, mas ao mesmo tempo intrigada. A brisa gelada que batia em meu rosto me fez encolher, mas também me fez sentir viva.

A paz que sentia naquele momento era algo impagável. Ghost estava parado na varanda, com os olhos presos no horizonte. Ele parecia perdido em pensamentos, fitando a escuridão da floresta, e eu não conseguia evitar o desejo de saber o que se passava em sua mente.

"Problemas para dormir?", perguntei, tentando quebrar o silêncio entre nós.

Ghost respirou fundo antes de responder. "Sim, pelo visto te acordei no processo", ele respondeu, virando-se para mim, seus olhos me encarando profundamente.

"Não se preocupe, tenho sono leve e a ansiedade não ajuda", falei, dando de ombros enquanto me escorava no batente da varanda. Eu fitei a floresta, respirando o ar ameno e observando a escuridão que engolia algumas árvores ao fundo. Senti o olhar de Ghost sobre mim por um momento, e então ele se virou para paisagem novamente, com os olhos tão presos quanto os meus na visão que tínhamos à nossa frente.

Então, sem aviso prévio, ele perguntou: "Existe alguma forma de eu te convencer a ficar?"

"Você sabe que não", respondi imediatamente, já sabendo o que ele estava tentando fazer. "Fiquei surpreso por não ter tentado escapar antes que eu acordasse", brinquei, tentando aliviar a tensão.

Ele riu fraco e cruzou os braços. "Sei que você daria um jeito de ir atrás de qualquer forma", suspirou cansado, observando a neblina que começava a se dissipar e o céu tomava um tom azul prussiano.

"Que bom que você sabe, tenente", murmurei com um sorriso de canto, olhando para ele.

Ele cruzou os braços e virou o rosto em minha direção, encontrando meu olhar. Poderia ser o cansaço ou minha mente pregando peças, mas por um momento eu vi um brilho diferente do seu olhar, como um flash que desapareceu rapidamente "Precisamos partir, quanto mais cedo sairmos, mais cedo resolvemos isso", ele falou, sua voz firme e decidida.

Eu desviei o olhar, fitando a parte de dentro da cabana, os outros ainda não haviam acordado. A ideia de deixar aquele lugar, deixar minha família... Era como se eu estivesse deixando uma parte de mim para trás.

"Deixarei você se despedir deles, estarei te esperando no carro", ele falou,me acordando dos meus pensamentos. Ele parecia ter notado minha aflição mas decidiu não falar nada sobre.

"Certo" eu murmurei observando-o se afastar.

Respirei fundo e entrei na cabana, senti um nó se formando em minha garganta e a ansiedade crescendo enquanto andava em direção ao quarto onde meus pais dormiam.

Ao entrar no quarto, vi meus pais dormindo tranquilamente e senti um alívio momentâneo. Com passos leves, me aproximei da cama e olhei para os rostos serenos deles.

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