No trajeto de volta ao quartel eu pensava nas imagens que vi no computador, nas cenas da minha família sendo ameaçada, e sentia um aperto no coração. Eu sabia que precisava manter a calma e focar no objetivo de encontrar quem quer que fosse o responsável por aquilo, e na minha mente vinha apenas um nome: Simon.Eu não sabia exatamente o que ele tinha a ver com tudo aquilo, mas sentia uma conexão estranha. Eu me lembrava claramente de como ele reagiu quando perguntei sobre Roba, seu comportamento repentino durante aquela missão, e sua relutância em me passar mais informações. Eu não conseguia evitar sentir que ele estava escondendo algo de mim.
Minha mente vagava e tentava juntar as peças do quebra-cabeça. Ele tinha desaparecido por algumas horas durante a missão de reconhecimento, e estava tão cega pelos meus sentimentos naquele momento que nem percebi para onde ele havia ido. Era possível que ele tivesse ido ao quartel de drogas que havíamos identificado. Tudo se encaixava tão perfeitamente que sentia uma sensação de náusea.
Assim que desci do avião, avistei Camile correndo em minha direção com uma expressão preocupada. Meus ombros se enrijeceram e eu já sabia o que viria a seguir. "Como foi a missão? Fiquei sabendo que houve baixas", ela disse ofegante.
Eu mal consegui responder antes de ela tentar me segurar, mas me soltei bruscamente. Eu não podia confiar em ninguém naquele momento, muito menos no olhar confuso que a capitã me lançou em seguida. Respirei fundo, tentando controlar a raiva que estava tomando conta de mim. "Tivemos baixas... 5 ao todo", murmurei passando a mão no rosto. "Precisava rever uma informação com o tenente sobre a missão de reconhecimento", menti, caminhando em direção à saída.
Camile negou com a cabeça, me impedindo de sair. "Precisamos do relatório da missão", ela murmurou atrás de mim. "Encontrou alguma coisa?", perguntou, mas eu neguei com a cabeça. Eu sabia que ela me lia como um livro, e quanto menos falasse com ela, menos suspeita eu levantaria. "Para o relatório, eu preciso checar essa informação com o tenente. Ele se encontra?", perguntei por cima do ombro.
"Ele saiu a algumas horas, levou um dos nossos jeeps", ela murmurou pensativa enquanto caminhava atrás de mim. "Escute", ela disse, colocando a mão sobre meu ombro e me fazendo parar ainda de costas para ela. "Sei que baixas na equipe te deixam nervosa. Só tente não colocar a culpa em si mesma", ela murmurou apertando meu ombro em um gesto reconfortante.
"Sim", respondi, sentindo as lágrimas se formando em meus olhos. Do outro lado do pátio, avistei Agatha se aproximando, Mei logo atrás. "Preciso dar uma volta", falei, me virando para Camile. Ela apenas acenou positivamente. "Não vou demorar muito", acrescentei, antes de seguir em direção à garagem.
Camile informou que Simon havia saído do local em um dos jeeps. Eu me dirigi imediatamente ao arquivo de veículos, procurando pelo registro do último carro que saiu. Meus olhos percorreram freneticamente as informações até que finalmente encontrei a caligrafia de Simon e a placa do veículo em questão. Memorizei imediatamente aqueles dados, sabendo que cada segundo contava se eu quisesse alcançá-lo antes que ele embarcasse no avião.
Com o coração batendo forte no peito, eu chequei meu equipamento. Eu estava armada com uma pistola e uma faca, sabia que em uma luta corpo a corpo com o tenente eu não teria muitas chances. Respirei fundo, peguei a chave da moto e corri em direção ao veículo.
Não peguei meu capacete, nem mesmo me importei com a reclamação de Camile quando passei por ela em alta velocidade, atravessando o pátio e aproveitando o portão recém aberto para sair do quartel.. Eu precisava chegar lá antes que fosse tarde demais. A estrada parecia interminável, mas eu não diminuí a velocidade.
As nuvens escuras cobriam todo o céu, dando a impressão de que a noite havia chegado mais cedo. Uma chuva fina começou a cair, deixando o asfalto molhado e escorregadio. Eu não parei, mantive a velocidade da minha moto, apesar da chuva que começava a molhar minha roupa. Eu corri pelas ruas, ultrapassando carros e avançando sinais vermelhos, ignorando completamente o perigo que estava enfrentando. Finalmente, avistei o veículo do tenente a alguns metros de distância e logo comecei a segui-lo até a próxima vez que ele parasse em um farol.
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Vale das Sombras
RomanceNão imaginar o que fazer depois da formatura, não criar planos e não imaginar um futuro te trouxe aqui. Ainda que não tivesse sonhos, seus pais tinham expectativas de que você teria um futuro brilhante e isso te fez tomar a decisão de se alistar par...