The Housekeeper's Daughter

Culpa

Camila's Point of View

Os dias se passaram. Por mais que eu não quisesse e com isso eu digo que não queria com toda a força do meu ser, os dias tiveram que se passar, pois essa era a ordem natural das coisas. Vivíamos um dia após o outro e desde os tempos mais primórdios era assim que deveria ser, deveríamos concluir um dia de cada vez, caminhando lenta e sorrateiramente para o fim de nossas vidas. Afinal, resumindo de um modo mais do que geral, esse era o destino que nos é fadado desde o dia do nosso nascimento, nós devemos nascer, sobreviver, tentar viver de uma forma ou outra para então fechar o ciclo com a nossa partida.

Eu definitivamente não queria que os dias tivessem passado, queria ter ficado presa naquele sábado em que eu acordei ao lado de Lauren, naquele sábado em que tive um dia perfeito com minha família e naquele sábado onde conheci Martha. Tudo isso não se dava ao fato de que aquele dia em específico foi o melhor dia da minha vida, mas sim se dava ao fato de que a partir desse dia eu passei a me sentir como a pior pessoa que poderia existir e talvez esse seja o motivo principal por um discurso tão depressivo quanto esse que estou monologando no momento.

Eu tinha diversos motivos para me sentir assim e eles conseguiam abranger uma gama de pessoas cada vez maior. Era como se a cada dia, a cada passo novo que eu dava, eu conseguisse ferir mais pessoas com as minhas mentiras, mesmo que elas não soubessem ainda o quanto estavam sendo machucadas por mim. Entretanto, ainda que elas não soubessem, uma luz enorme em vermelho neon piscava incessantemente em minha cabeça assim que eu abria os olhos pela manhã e assim ela permanecia, até o momento em que por fim me deitava em minha cama pela noite e os fechava novamente.

A cada dia novo que o calendário me mostrava os meus ombros carregavam um peso ainda maior do que no dia anterior e eu simplesmente não conseguia me livrar daquela sensação de ter feito algo péssimo, assim como também não conseguia parar de pensar na atitude que tinha desencadeado tudo aquilo que eu estava sentindo hoje.

Tudo começou naquela maldita sexta-feira que antecedeu ao sábado que eu queria ter parado no tempo. Todo o meu inferno emocional teve início no momento em que eu decidi me tornar aquilo que me feriu e, por mais que isso seja clichê, eu fiquei ainda mais ferida do que antes. Eu não me arrependia de ter ido para cama com Lauren, de tê-la feito minha e ter dormido em seus braços, assim como ela nos meus, depois de termos feito horas seguidas de sexo. Eu me arrependia do que aconteceu depois disso.

Me arrependia de ter visto nos olhos daquela que eu fadei com minha inimiga a dor de uma rejeição. Me arrependi porque eu já senti essa mesma dor que seus olhos verdes inundados de lágrimas transmitiram quando me entreguei pela primeira vez à um garoto que me fez de aposta.

E eu sequer tinha feito algo que pudesse de fato a machucá-la. Eu apenas esbarrei com ela em uma noite qualquer, em um bar qualquer e lhe contei de um jeito qualquer que estava naquele estabelecimento com a minha namorada. Martha.

Em uma fração de segundos eu vi todo aquele brilho dos lindos olhos verdes de Lauren sumirem. No segundo em que lhe contei que estava namorando com a loira com quem eu dividia uma mesa e também uma porção de anéis de lula o olhar de Lauren se tornou frio, mas não como se ela quisesse ser ríspida ou me tratar mal, como era quando nos conhecemos. Era uma frieza na qual eu não conseguia decifrar. Era um vazio em seu olhar como se eu tivesse sido a responsável por roubar todo e qualquer brilho e esperança que um dia habitaram aquelas pequenas e lindas órbitas verdes.

"Namorando? Mas, e a conversa que tivemos? Você não acredita que serei capaz de dar esse enorme passo por você?"

Me lembro exatamente do que ela me disse com aqueles olhos que naquele segundo não tinham emoção nenhuma. Aliás, tinha uma e eu talvez possa caracterizar tal sentimento como desgosto, ou desprezo, não sei ao certo.