Bons Tomates e Abacaxi Furioso *

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"Aqueles em quem um pensamento explode em outro pensamento, está perdido, porque o fogo de um amolece o outro."

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Tudo sobre uma cozinha sempre me atraiu, minhas primeiras lembranças giram em torno de uma pequena cozinha em uma casa simples. Em muitas dessas lembranças, estou observando de longe debaixo da mesa vendo minha babushka cozinhar qualquer coisa e que cheirava sempre muito bem. Lembro até do cheiro do ensopado de carne que ela fazia todo domingo. As misturas de farinha de mandioca, caldo do ensopado, manteiga, manteiga feita de forma caseira bem saborosa, e purê de batata, tudo viraria um delicioso prato chamado Pirão.

Ela havia aprendido com uma amiga brasileira quando era cozinheira, e era como uma tradição em nossa casa. Lembro-me vívidamente, as cores vivas do legumes e a ordem do que ia na panela, como babushka cortava os itens que ia usar... Tudo. Outra lembrança ainda mais simbólica foi de quando íamos comprar ingredientes em um Mercado local, eles eram escolhidos primeiro pela aparência, depois pela textura... e para finalizar com a minha lembrança favorita da minha infância, babushka cheirando a comida, ela tinha o mesmo semblante cheirando os alimentos... feliz como sempre era quando ela me abraçava, sentindo meu cheirinho de bebê como ela dizia... ela fechava os olhos, sorria e me abraçava e apertava ainda mais forte arrulhando palavras de carinho e amor.

Este gesto foi feito por mim até seu último dia. Ela me motivou a ser tudo o que sou hoje.

Hoje era um dia normal, e eu estava relembrando essas doces e dolorosas lembranças, no meio de um Mercado, como aqueles que eu costumava ir com minha babushka. Aqui estava eu comprando itens para o meu próprio restaurante, seguindo os passos dela, adorando e vendo um carinha maluco, de cabelo bagunçado e gargalhada alta, cheirar tomates. Ele parecia ainda mais bonito assim, sendo ele mesmo, distraído, absorto nas coisas que ama.

O garotinho em questão era meu garoto maluco e esperto, Levi, minha verdadeira ameaça aos movimentos de etiqueta e que certamente faria uma mãe comum chorar por não conseguir controlá-lo. Eu não. Eu o amei desde o momento em que soube que ele viria mesmo que eu estivesse lidando com muito. Eu mudei toda a minha vida por ele. Eu o adorei desde o momento em que o vi, embora ele tenha mutilado minhas partes femininas em tantos níveis por um tempo, ele me trouxe tudo que eu nem sabia que iria querer de outro humano.

Nem sempre as coisas foram fáceis, ser mãe solteira é como ser cozinheira numa cozinha enorme com armários altos demais. Tudo sempre parecia fora de alcance, embora não havia nada que não pudesse ser resolvido com um pulinho ou algum banco para te ajudar a alcançar qualquer coisa, mas todos os dias desde que ele chegou, a vida foi se enchendo de banquinhos, banquinhos e escadas para que eu pudesse ser a melhor mãe possível.

E embora nem tudo tenha sido um mar de rosas e eu ainda não saiba o que estou fazendo, eu fiz isso, fiz por mim, fiz principalmente por ele. Ele teria o futuro que desejava, graças ao meu amor, esforço e teimosia. Ele sempre teria a chance de usar sua cabeça grande e inteligente para conseguir o que precisava e não apenas como uma arma destruidora de vaginas.

Deus, eu amo tanto esse mini humano... ele era simplesmente o melhor do meu mundo. Eu parei meus pensamentos olhando para ele com o que eu sabia ser a mais pura adoração e lá estava ele segurando os tomates como eu havia ensinado, escolhendo os mais bonitos, olhando por todo o tomate em busca de "desenhos", alisando os tomates como se fosse um perfeito hotwells, e então ele as segurou na frente dos olhos medindo o peso com suas mãozinhas e então ele olhou para mim com o melhor sorriso banguelo do mundo, ele era banguelo e não dava a mínima. Ele era simplesmente outra coisa. Eu bufei uma risada para mim mesma pensando em sua fofura, enchendo-o de minha atenção.

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