À segunda vista?*

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Este capítulo tem menções a violência contra crianças, traumas, sintomas de ansiedade, ataques de pânico e sensação de desespero.



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Notas Infernais

"Tão escuro é o fundo, que nada mostra se você não subir na parte de trás do arco, onde a rocha é mais saliente."

"Abra sua mente para o que eu revelo a você
e lembre-se bem do que eu te digo.."

"Não é barulho mundano, mas um sopro de vento, ora de um lado, ora do outro, e muda de nome conforme muda o curso."

"A verdade que parece mentir é, deve o homem calar-se enquanto pode, porque sem ser culpado ficará envergonhado."

"Mas quando ele voltou ao mundo contra sua vontade e bom uso, o véu da alma nunca foi removido."


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Eu suspirei na linha quando desliguei, pensando em todas as lutas que minha melhor amiga, minha filha, passou, tendo que crescer sem o pai, com uma mãe que era focada apenas em si mesma e em seu trabalho e que só olhava para a filha para tentar controlá-la. Uma mãe que a trouxe ao mundo e a usou como alvo para todas as suas frustrações.

Quando conheci a Kate, ela tinha 11 anos, era tímida e ao mesmo tempo encantada por nós, mas estava presa na sombra da mãe. Essa mãe pediu favores, ameaçou nossa equipe, movendo todos os recursos como peões em um tabuleiro de xadrez, para que sua filha "retraída demais" pudesse encontrar eu, Natasha Romanoff e Clint Barton.

Ela teve a ideia de que sua filha "excessivamente agitada" só conseguiria se acalmar cozinhando e observando nós dois, disse que ela era violenta.

Eu estava sem entender toda a cena, ela vendia a menina como se ela não se desse bem em nenhum ambiente, tímida para depois pintá-la como um pequeno vendaval, eu não estava confiando em nada das palavras dessa mulher.

O plano dela que ensinássemos Kate sobre a sobriedade e hierarquia de uma cozinha e talvez assim ela melhorasse seu comportamento, era como se ela estivesse matriculando a menina na aula de futebol e não invadindo uma grande emissora de tv tentando intimidar famosos. Eu sabia melhor, ela estava tentando firmemente encontrar uma maneira de controlar uma criança que ela claramente não queria por perto.

Na época, tínhamos este programa de culinária, "O Chef em 30 minutos" onde nos desafiamos, Clint e eu, a cozinhar uma refeição decente com ingredientes simples em 30 minutos, a atracão tornou-se super popular entre os adolescentes e jovens adultos, a possibilidade de cozinhar refeições simples e rápidas era atraente para aqueles que precisavam cuidar de si mesmos. Era simplesmente divertido assistir a dois jovens chefs populares brigando entre si com piadas, bom humor e boa comida.

"Quero que você ensine ela a cozinhar... e já que ela pode fazer isso, que ao menos a comida fique comestível, quero que ela faça da maneira correta, quero que você conserte nela o que ela precisa melhorar... dinheiro não é problema." Ela disse com um sorriso maldoso e um talão de cheques em sua mão, isso me deu um calafrio de desgosto. Clint e eu tivemos uma conversa rápida e silenciosa, não íamos aceitar dinheiro dela e a menina precisava de alguém melhor na vida dela do que aquela desculpa de mãe.

Aquela situação fez meu coração doer, meus instintos gritaram, algo parecia errado, então eu disse para a mulher horrenda e perturbadora, Eleanor Bishop, que só descobri depois que era uma magnata das telecomunicações, principalmente da parte digital, que eu e o Clint não aceitaríamos o dinheiro e receberíamos a menina todos os dias no estúdio para que ela pudesse almoçar conosco, fazer suas atividades escolares e aprender o que era cozinhar. A mulher finalmente sorriu, não porque aceitamos, não para que a filha pudesse se divertir, mas porque ela conseguiu ter sua vontade atendida e se antes havia alguma dúvida sobre as intenções dela, agora eu tinha certeza... Ela só queria terceirizar um problema.

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