Capítulo 03: Pecados

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O despertador tocou cedo, aquele som estridente ressoou pelo quarto, era irritante, levantei-me debaixo das cobertas para desligar o mesmo, e ali estava ele. Dunk já estava de pé vestido o uniforme do colégio.

Eu me perguntava como alguém conseguia acordar tão disposto igual a ele, mistérios da vida.

Levantei da cama e foi direto ao banheiro, coloquei qualquer música para tocar enquanto sentia a água quente cair sobre meu corpo, o box do banheiro ia embaçando pelo vapor que subia da água, aquilo era tudo que eu precisava de manhã.

Vesti uma boxer preta e sai do banheiro para pegar meu uniforme no quarto, se fosse em outra ocasião obviamente eu não sairia apenas de cueca do banheiro, mas como se trava de Dunk ali no quarto, eu não via problema, já havíamos passado vários dias juntos para que não houvesse mais tamanha timidez.

Peguei meu uniforme que estava no cabide ao lado de fora do guarda roupa, vesti aquela calça e a camisa social, me senti me arrumado para ver o culto no dia de domingo, mas o problema daquele maldito uniforme era a gravata, eu não sabia como dar um nó em uma gravata, nunca aprendi.

Tentei, tentei e tentei, mas nada, não conseguia de forma alguma.

—Vem cá, eu te ajudo.

Ouvi Dunk dar um risada antes de me chamar, era óbvio que ele iria ajudar, ele não conseguia ver uma causa perdida e não ajudar. Ele sempre ajudava todo mundo, mas eu nunca vi ele pedindo ajuda.

Okay, tudo estava pronto, impecável, conseguia sentir meu coração batendo forte, minhas mãos soavam frio, não sei o porque de tamanha ansiedade, mas sabia que ela estava ali, o tempo todo. Era quase constante.

Os corredores estavam lotados de alunos andando para todos os lados, corriam as pressas, alguns atrasados outros apenas eufóricos pelo início do ano letivo.

Dunk e eu andávamos lentamente pelos corredores amontoados de adolescentes, chegava a dar uma leve falta de ar, tantas pessoas juntas me causava uma certa ansiedade social, um medo.

Chegamos na sala, sala A1, quando abrimos a porta me deparei com alguns alunos já sentados, obviamente pessoas que não conhecia, tirando alguém, ali estava ele, na primeira cadeira, aquele garoto, meus olhos percorreram a sala toda parando nele, como se fossem puxados para ele, só ele.

—Vem, vamos sentar ali.

Ouvi Dunk dizer algo e logo senti-lo puxar minha mão, eu apenas sedi e o acompanhei até o fundo da sala. Não demorou muito para que os outros chegassem, Phuwin caminhou lentamente para o fundo da sala, quando ele passava era como se o mundo todo parasse, parasse para ele, todos os olhares estavam sobre ele, eu me perguntava, será que era desconfortável? Sabe, ter todos esses olhares sobre si.

Phuwin sentou-se na cadeira em nossa frente, enquanto conversamos sobre algo aleatório vinha de relance alguém se aproximar, era ele, Gemini, ele estava sempre sério e com a cara fechada, nunca sorria.

—Seu ovo mole, toma, você esqueceu.

Gemini tirou do bolsa da calça um carregador branco e deixou sobre a mesa de Phuwin, não entendi o que estava acontecendo, mas não iria me meter, Phuwin apenas pegou o carregador e agradeceu ao outro que já estava voltando para o seu lugar.

A porta foi aberta dando a visão de um homem, ele vestia roupas sociais e trajava elegância, parecia mais um homem de negócios do que um professor do ensino médio.

—Okay turma, prazer em conhecer todos, meu nome é Force e eu serei o professor de matemática de vocês, espero que possamos nos dar bem, tendo isso em vista não podemos perder tempo.

O professor falava e falava sobre como seria suas aulas e de projetos futuros, trabalhos, provas, ele pensava no futuro mesmo estando no primeiro dia de aula.

Force explicava e explicava uma matéria, matemática nunca foi difícil quando você entendia, e tendo um bom professor tudo ficava mais fácil, fazia anotações no meu caderno sobre tudo que o professor falava, tinha que ter boas notas, só assim poderia ser o melhor...sempre tinha que ser o melhor...cansativo.

O sinal tocava, aquele barulho alto me tirava de meus devaneios, os alunos saiam um a um de dentro da sala e caminhavam para a próxima, e assim seguia até a hora do almoço. Aquele refeitório estava lotado, mesas e mais mesas lotadas de alunos, sentamos em uma mesa mais ao fundo do salão.

Risadas e vozes altas eram ouvidas, conversas aleatórias sobre assuntos aleatórios rodavam aquele salão, meus olhos passeavam pelas mesas, em busca de saciar meu tedio repentino, e ali, em uma mesa cheia de pessoas desinteressantes, estava ele, Gemini Norawit, o aluno nota dez, não conseguia entender o que de tão interessante ele tinha, mas sempre, sempre meus olhos estavam sobre ele, e de alguma forma, os dele estavam sobre mim.

—Okay, aquela aula de matemática foi um saco, eu detesto matemática.

Joong reclamava enquanto mordia um pedaço de alguma carne que já nem me recordo qual.

—Nossa foi mesmo, ele com mil planos para o futuro e eu nem sabendo se vou tá estar vivo na formatura.

—Pond Naravit, é bom você ficar vivo até a formatura.

Phuwin repreendeu o mais velho, foi engraçado de se ver.

—E você Fourth, algo a comentar? Você tá sempre tão calado, só observa, mas nunca diz um 'a' se quer.

—Não sou muito de falar, mas sim, o professor deu uma viajada, primeiro dia de aula ele falando sobre futuro.

Foi engraçado vê-los rindo de algo que eu disse, era como se eu fizesse parte daquilo, e eu realmente fazia, era uma sensação boa, um calor no peito, era aconchegante.

Levantei-me da mesa para andar um pouco, coloquei meu prato sobre a lavadora e sai pela porta, queria aproveitar um tempo só, sentir o vento no meu rosto e o Sol sobre minha pele, queria ouvir o som dos pássaros. Queria ser livre.

Sentei-me de baixo de uma árvore que ficava um pouco mais afastado do prédio, fiquei ali na sombra, meus olhos fechados, apenas sentido a brisa leve que batia e bagunçava meus fios, era libertador, mas não era liberdade.

Via aquele vasto céu azul e as nuvens que pareciam desenhos e formas engraçadas. Momentos assim, por mais que melancólicos ainda me traziam uma sensação de solitude.

—Então o novato é anti-social?

Aquela voz. Aquela voz vez com que meus pelos arrepiassem. Foi automático.

Virei me para aquele que estava parado ali, Norawit.

—Oi?

—Essa é a primeira vez que ouço sua voz, e olha que você já está aqui faz tempo, mesmo você sempre estando de olho, nunca disse nada.

Ele sabia, ele sabia que eu ficava olhado ele, senti minhas bochechas queimarem, um rubor crescer ali.

—Não precisa ficar envergonhado, eu sei, sou irresistível, todos estão sempre me olhando.

Soltei um ar pelo nariz, como alguém poderia ter uma alto estima e um ego tão alto?

—Eu não estava te olhando.

Menti.

—Ah, estava não? Que estranho, pois eu estava te olhando.

Gelei.

—Por quais motivos?

Curiosidade, apenas.

—Te achei interessante, novato.

—Fourth.

—Oi?

—Meu nome.

—Ah, prazer, Fourth.

Já estava acostumado a ouvir meu nome, todos estavam sempre me chamando, mas ouvir ele falando meu nome, foi algo diferente.

—Te vejo por aí.

Gemini piscou, e deu meia volta saindo do meu campo de vista.

Meu coração agora batia acelerado, batidas descompassadas, o que esse garoto quer?

Entre Orações e Pecados -GeminiFourth-Onde histórias criam vida. Descubra agora