Eu via o jogo acontecendo, mesmo que não entendesse nada sobre aquele esporte, ainda sim não conseguia piscar os olhos, não conseguia tirar os olhos da bola, ou daquela pessoa que segurava a bola.
Via o outro correndo pela quadra, aquele corpo a mostra, a regata mostrando os braços, o suor que escorria, ou as vezes que ele levantava a camisa e mostrava o abdômen, tudo naquela cena tirava me do serio, todo o meu foco era mandado embora, meus olhos travavam ali, era como se fosse um vício, uma maldita droga, uma overdose.
O juiz apitava, era uma pausa, tempo, via os meninos sentando no banco, bebendo água, mas porque ele não conseguia ser normal, só beber aquela água, o via pegando aquela garrafa e derramando sobre si, aquela água molhando ainda mais a camisa que já era transparente, o corpo todo a mostra.
Minha cabeça estava a mil, minha sanidade já não existia, sentia meu corpo queimar, sabia que não era por conta do calor ou nada do tipo, senti que meu corpo reagia de forma diferente quando se tratava dele, era sempre ele, sobre ele.
O jogo voltava ao ápice, o juiz apitava e tudo voltava, a bola dançava pela quadra, era como se tudo aquilo fosse coreografado, meu olhos apenas acompanhavam tudo que acontecia.
-Para onde vamos depois? -Dunk queria comemorar, ele sabia que o time iria ganhar, eles eram mesmo os melhores.
–Vamos para o seu quarto, sempre ficamos lá mesmo.- Phuwin dizia, era algo que eu nunca entendi, todos ali tinham quartos, mas porque insistiam em ficar no nosso, ainda havia coisas que eu não entendia, então apenas concordava.
E como já esperávamos, o juiz apitou, a última cesta foi marcada, era vitória, todos queriam comemorar, mas eu só sentia que precisava sair dali o mais rápido possível.
Saímos do grande ginásio e caminhamos todos juntos, escutava algumas conversas que não entendia do que se tratava, sentia olhares sobre mim, mas não ousava olhar de volta, sentia a pele queimando, sentia meu coração bater e isso me causava certo desconforto, era como se tudo me deixava enjoado, me trouxesse desconforto, tudo fosse ruim, era como uma ânsia.
Olhava para aqueles garotos sentados nas camas e alguns no chão, alguns deles eu nunca nem havia conversado ou muito menos sabia os nomes, mas mesmo assim estavam ali, suados sentados em minha cama.
E ele, ele estava ali, sorria e conversava como se nada tivesse acontecido, como ele podia agir assim, talvez eu devesse agir assim, fingir que nada aconteceu, lembro-me de ler em algum lugar que, uma mentira contada mil vezes se torna uma verdade.
Devo tentar pelo menos.
-Fourth, está tudo bem- ouvia a voz do Phuwin chamar minha atenção e me tirar de meus devaneios, apenas assenti que sim com a cabeça, não queria prolongar um assunto que não queria conversar.
-Com licença, minha mãe tá ligando.
Coloquei o telefone na orelha e sai do quarto, caminhei até a grande árvore que ficava ali perto, sempre sentava ali, gostava da vista, da brisa suave que batia contra o meu rosto.
-Sabe Fourth, até quando você vai continuar mentindo?
Assustei-me com a voz repentina de Phuwin tão perto, achei que estava sozinho.
-OI?
-Você se sente desconfortável não é?
Não sabia o que responder, o que falar nessa hora? Falar a verdade? ser sincero?
-Só não me acostumei ainda.
-Sua mãe nunca ligou né.
Talvez eu estivesse pronto para escutar aquilo, não dessa forma, ela era minha mãe, ela deveria ser a primeira a se importar, porque ela não se importa, porque ela não me liga, não me manda uma mensagem, que porra eu sou para ela??
Sentia meus olhos marejados, não era para isso acontecer, não era para chorar, mas eu estava com raiva, com muita raiva, estava triste, decepcionado.
-Aquela foto que postaram, era você beijando o Gem, não era?
Ele sabia, como ele sabia, não tinha como ele saber, não tinha como saber que era eu.
"Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda Merda"
Sentia minha cabeça doer, meus olhos já encheram d'agua, não chorar era mais difícil que parecia, sentia que iria desabar, era um choro guardado, estava segurando fazia tempo.
Sentia os braços de Phuwin rodear meu corpo, era um abraço apertado, era quente, tinha gosto de lar, casa, era como um domingo em família, sem aquela parte da melancolia do fim de tarde.
-Ela nunca ligou ou mandou qualquer tipo de mensagem, ela nunca se importou, e nunca vai se importar
Aquilo não era eufemismo, aquilo doía como uma surra. Não conseguia falar, o choro não deixava, sentia a garganta fechar, o peito doer, a cabeça latejar.
-Tá tudo bem, pode chorar, lava a alma, só não guarda nada, não adianta mentir ou fingir que tá tudo bem, só aceite que tá mal, a verdade doí, mas ela liberta.
-Quer voltar?
-Não consigo olhar para a cara do seu irmão ainda, ele parece que não se importa e ta fingindo que eu não existo, mas eu não consigo.
-Você quem sabe, mas sabe também que não tem como fugir dele.
-É, eu sei.
Aquilo sorriso fraco em meus lábios, aquela brisa contra a minha face, às vezes eu queria muito ser imaginário.
-Tenta falar com ele.
-Eu não quero.
-Achei que você gostava dele.
-Não, eu não gosto dele, eu não sou gay.
-Olha Fourth, eu não estou dizendo que você é ou não, mas os olhos não mentem, o corpo fala, e tudo em você grita por ele, sei que em algum momento você vai ter que ser sincero, só espero que não demore, não quero que você se machuque.
Me machucar, mais?
Eu só não queria pensar em nada, em absolutamente nada, queria sumir e virar um monge tibetano.
Via o outro se afastar, voltava para o quarto, ainda não estava pronto, queria ficar ali, sozinho, aproveitando aquela maldita solidão que eu chamava de solitude, aquela mentira que somente eu acreditava.
Mas não acreditava tanto assim, esse era o problema...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Orações e Pecados -GeminiFourth-
Fanfiction"Louvado seja Deus" Era sempre isso que se ouvia naquela casa, uma mulher, uma mãe, completamente devota ao nosso senhor, tao devota que faria de tudo por ele, ate mesmo mandar seu único filho para bem longe. Sejam Bem Vindos ao NBBS o internato rel...