Capítulo 02: Orações não ouvidas

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Me joguei naquela cama com colchão duro, era desconfortável, mas aceitável, sentia uma brisa leve invadir a janela e bagunçar meus cabelos, me perguntava se realmente era meu propósito estar ali, o que Deus estava planejando comigo, e porque logo eu?

Sentei-me na cama olhando para o chão, meus olhos marejados escorriam pela minhas bochechas, as gotas caiam no chão molhando aquele carpete caro.

Não sabia ao certo por qual motivo estava chorando, mas eu sentia a dor, um desespero e uma angústia invadindo meu peito, me doía, acho que se eu estivesse apanhando, doeria menos.

Ajoelhei aos pés da cama e li, naquele quarto mal iluminado, me prostei em uma oração, precisava conversar com Deus, precisava entender o que estava acontecendo, eu precisava de respostas, ou só queria ser ouvido mesmo.

Falava aos quatro cantos, chorava que molhava o lençol da minha cama, mas nada, absolutamente nada, era inútil. Eu sabia que seria, mas mesmo assim insistia, por que Deus sempre falava com todo mundo, menos comigo?

Lembro-me da minha mãe falando que havia sonhando com Deus, que ele havia aparecido em seus sonhos, lembro-me do pastor falar que ele falava com Deus, lembro das irmãs da igreja falar sobre Deus.

Mas sempre foi estranho, era como se todos tivessem um livre acesso a Deus, menos eu.

Nunca senti aquele emoção, ou senção de que Deus estava ali, era sempre tão vazio e apático, era com se Deus estivesse me ignorando. E dessa vez não foi diferente.

Mais uma oração não ouvida.

Mais uma noite de choro não respondida.

Quanto mais eu pensava, mais eu chorava, o choro aumentava, eu soluçava, o lençol da cama agora encharcado, eu estava em desespero, porque eu?

Ouvi três batidas na porta, olhei assustado, levantei e limpei o rosto, meus olhos e nariz continuavam vermelhos, não havia muita coisa que eu poderia fazer em relação a isso.

Abri a porta, havia um garoto ali parado, ele era alto, pele clara, usava uma regata que mostrava os braços fortes, seu cabelo escuro caia sobre os olhos.

—Ah, pois não?

—Eu sou Dunk, seu colega de quarto.

Dei passagem para o mesmo entrar, ele adentrou o ressinto se jogando em cima da cama vaga.

—Nossa, como eu estou cansado, aliás, como você se chama, nem perguntei.

Fechei a porta atrás de mim e caminhei até a cama sentindo-me na mesma.

—Eu sou o Fourth, prazer em conhecê-los, sou novato no primeiro ano.

—prazer em conhecê-los Fourth, eu sou o Dunk, vamos ser colegas de classe, gostei.

Dunk passava uma energia animada, ele parecia ser daquele tipo de pessoa que não existe dias ruins, era sempre alto astral, eu admirava pessoas assim, por que eu nunca conseguirá, era melancólico demais, as vezes isso me incomodava bastante, mas no fim aprendi a conviver.

Dunk parecia ser alguém de fácil convivência, ele não fazia barulho e era muito estudioso, eu gostava de dividir quarto com ele.

Uma semana, havia se passado uma semana, as aulas iriam começar no dia seguinte, segunda feira, ainda me perguntava por que havia chegado tantos dias antes? Já não fazia sentido responder, na verdade acho que nem tinha respostas para isso, mas estava feliz, havia feito um amigo, quero dizer, um colega, acho o termo "amigo" muito íntimo, creio que não posso usá-lo, não ainda.

—Fourth, você está ansioso? Com medo?

Dunk era sempre muito atencioso, desde o dia em que cheguei ele vive se preocupando, se eu já havia comido ou dormindo bem, ele era como um irmão mais velho que nunca tive.

Eu agradecia a Deus por ele, ele sempre estava nas minhas orações.

—Não sei ao certo, é um pouco dos dois, não conheço ninguém nessas escola, então o medo da rejeição é grande.

Não era bem um medo, para ser sincero era mais para pavor. Eu estava apavorado.

—Não se preocupe com isso, eu estarei ao seu lado, tá comigo, tá com Deus.

Eu achava engraçado o fato de Dunk sempre tentar me proteger, passar algum tipo de conforto, no começo foi estranho, não estava acostumado com alguém se preocupando comigo, mas a sensação era ótima.

Era reconfortante saber que alguém realmente se importava comigo.

—Vem, vamos dar uma volta pelo campus, te apresentar algumas pessoas.

Não tive objeções, apenas segui o mais velho, como as aulas começariam no dia seguinte o colégio estava lotado, acho que nunca havia visto tantas pessoas reunidas em um lugar só, meu antigo colégio era bastante pequeno então ver tantas pessoas desconhecidas juntas era no mínimo apavorante, tenebroso em outras palavras.

—Vem senta aqui.

Dunk sentou-se em um mesa junto de outros alunos, alguns anos mais velho do que eu.

—Certo, esse é o Fourth, nosso calouro, ele está na mesma turma que eu e o Phuwin. Aliás esses são.
Phuwin, Pond, Joong.

Eu os cumprimentei meio receoso, não era acostumado a ter atenção ou até mesmo fazer amigos, tudo ali era novo para mim. Por Deus, eu podia sentir minhas bochechas queimarem.

—Prazer em conhecê-los....

—Fofo.

Escutei alguém comentar, aquilo só piorava ainda mais a situação, aquela cor rubra tomava conta do meu rosto, queimava.

—Okay, mas eai, o que vcs fizeram nas férias.

Dunk era muito sociável, era admirável. Ele tinha uma facilidade imensa em conversar em público ou até mesmo fazer amigos. Ele conversa sobre assuntos aleatórios com seus amigos, não queria incomodar ou parecer sem educação então apenas fiquei ali sentado ouvindo, minha atenção obviamente não estava na conversa, estava completamente fora do assunto, minha cabeça estava longe dali, meus olhos passeavam no local.

Aquele tanto de gente, cada pessoa uma diferente da outra, cada uma com personalidade e vivência diferentes, e no meio de tanta gente, meus olhos se encontram com os dele. Foi uma questão de segundos, aquele olhos castanhos que pareciam conter o próprio universo dentro. Era magnífico

Era como se um imã me puxasse, não conseguia tirar meus olhos dele, e de qualquer forma, não queria.

—Fourth? Fourth? Tá me ouvindo?

—Ah, perdão, me distrai um pouco.

—Percebi, mas tudo bem, o que você estava olhando?

—Quem é aquele garoto? Ele tá sempre rodeado de pessoas.

—Aquele é Gemini Norawit, ele é primeirista, assim como você, não entendo muito bem o porque dele ser tão popular, talvez dessa ser por conta da beleza ou da família rica dele, ou os dois.

Gemini.....

—Mas porque o interesse?

—Nada em específico, apenas curiosidade mesmo, aliás se me dão licença vou voltar pro quarto.

Apenas acenei com a cabeça e me levantei, sentia meu coração bater descompassado, minhas mãos soavam e minha cabeça estava uma bagunça, quem diabos era aquele garoto e porque ele me chamava tanto a atenção?

Sempre ouvi dizer que os garotos bons vão para o céu, mas e os garotos maus?

Eles trazem o céu até você, e eu descobri da melhor forma possível

Entre Orações e Pecados -GeminiFourth-Onde histórias criam vida. Descubra agora