Capítulo 06: Cor de Ambar

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Escutava o som do despertador ressoar pelo cômodo, aquele barulho estridente e irritante, sentia o calor do sol bater contra minha face, aquele brilho que passava pelas cortinas entreabertas, sentia uma brisa bagunçar meus cabelos e uma leve dor de cabeça.

Não tinha dormido o suficiente, a noite passada ainda era como um sonho, nada real, era como se tivesse sido algum tipo de sonho lúcido.

-Vamos acordar?

A voz de Dunk se fazia presente no cômodo, por mais que eu gostasse da sua presença, ainda sim, no dia de hoje eu queria apenas o silêncio da minha própria companhia.

-Dunk, não são nem oito horas ainda.

-Fourth, já são mais de dez horas.

Levantei assustado, eu havia dormido tanto assim?

Peguei meu celular que estava na escrivaninha, havia algumas mensagens, mas nada tão importante que merecesse de fato a minha atenção. Rolava o feed do instagram, via fotos e vídeos de pessoas que nem me lembrava o porquê seguia, mas estavam ali, descia mais e via algumas fotos da festa de ontem.

Me lembrava do cheiro de cigarros e outras substâncias, lembrava do gosto amargo do álcool, e nada mais, era como se tudo fosse um sonho, um daqueles ruins que você acorda fadigado.

Mas ali, no meio daquelas fotos tinha uma em específico, uma das fotos que o pessoal tirava, no fundo dela apareciam duas pessoas, duas pessoas se beijando.

'Não era um sonho, aquilo não foi um sonho'

Sentia uma dor de cabeça latejante.

'Merda'

-Ontem a noite você aproveitou em.

Dunk dizia com um sorriso no rosto, não sabia sobre o que ele estava falando, e não queria saber também, preferia ficar na maldita ignorância, não sabia que ele tinha visto, mas era meio difícil não ver, mas havia possibilidades de ele não ter visto. Aquilo foi um erro, um maldito erro que jamais sera cometido de novo.

Levanto da cama meio zonzo, pego minha toalha que estava na cabeceira e caminho para o banheiro.

Tiro minhas roupas que fedem a fumaça e álcool, vejo meu reflexo no espelho, vejo as olheiras e meus olhos fundos, talvez eu não tenha dormido bem nos últimos dias.

Vejo marcas no meu pescoço, marcas essas que não deveriam estar ali, não deveriam mesmo.

Entro no box ligando o chuveiro e deixando a água cair sobre o meu corpo, vejo o vapor subir e embaçar o vidro, aquela água quente que escorre pelo meu corpo me traz de alguma forma alívio, é como um deitar depois de um dia cansado.

Sinto aquela espuma em contato com o meu corpo, lembro-me de um cheiro familiar, um perfume que está impregnado em minha alma.

Lembro- me de toques quentes, aquele calafrio percorrendo o meu corpo, o gosto de pecado invadindo minha boca, aquela sensação de 'isso é tão errado, mas é tão bom'.

Lembrava-me de seus olhos sobre mim, aquelas olhos cor de âmbar.

Sinto meu corpo reagir de formas que não estou acostumado, era como se ele soubesse o que fazer, mas meu cérebro não.

Está tudo branco, minha mão desce pelo abdômen parando ali, era estranho, lembro-me da sua voz contra o meu ouvido, aquele hálito quente com cheiro de vodka, o meu nome sendo sussurrado, apenas para me ouvir.

Algo tão comum, mas quando ele dizia, meu nome, aquilo soava tão profano.

Minha mão mexia sozinha, meu corpo apenas regia, sentia meu coração bater mais rápido, meu corpo esquentar, aquela água que descia pelo chuveiro deixava tudo mais quente.

Minha respiração estava ofegante, seria deveras constrangedor se alguém me visse assim, tão vulnerável.

Lembrava-me da sua face, dos seus lábios e das suas mãos sobre o meu corpo, na minha cintura, seus lábios desenhando no meu corpo, como se eu fosse uma de suas francesas.

"Tão profano"

Talvez pelo som da água caindo no chão, quem estava de fora não seria capaz de ouvir meus gemidos abafados, não sabia o que estava fazendo, mas mas não conseguia parar, meu corpo pedia mais e mais.

Até que...

Passou, meu coração já não batia tão rápido, meu corpo voltava a temperatura normal, minhas mãos estavam sujas.

Desliguei o chuveiro saindo do box.

Olhava meu reflexo no espelho, já não me reconhecia, não era o mesmo garoto que havia saído de casa, era estranho, era o mesmo rosto, mas era como se não fosse a mesma pessoa.

Joguei meus cabelos para trás e sai do banheiro com a toalha amarrada na cintura.

-Da próxima vez desligue a água, vai ser melhor.

Aquela voz, aquela maldita voz tão familiar se fez presente.

Senti o meu corpo arrepiar, da espinha até meus dedos, não era natural.

-Han?

-Você sabe gatinho.

Gemini piscou para mim saindo do quarto.

-Vista-se logo, estamos esperando.

Sentia meu rosto esquentar, a vergonha tomava conta de mim.

Aquele garoto era o próprio pecado e eu precisava me afastar. Era necessário.

Vesti a primeira roupa que achei, peguei meu celular descendo a barra de notificações.

E nada, absolutamente nada.

Não que eu estivesse surpreso, mas às vezes eu queria receber uma mensagem.

Amigos, família, pelo menos minha mãe.

Mas não, nada, nenhuma mensagem, foto, ligação ou até mesmo e-mail.

Era como se eu não fosse importante.

Não existisse, fosse imaginário.

Mas pensando assim, às vezes eu queria ser imaginário.

Sumir quando necessário.

Abri a porta do quarto saindo do mesmo, ali estavam os garotos que eu via todos os dias, a presença deles faziam com que meus dias ali fossem menos pior.

Odeio essa colocação, não forma uma frase concreta, e não tem nenhuma função adverbial adequada.

Mas para essa ocasião, menos pior é tudo que representa.

-Vamos, hoje temos um jogo para ver.

Phuwin falava animado, não sabia que ele gostava tanto de esportes.

Caminhamos até a quadra, não era tão longe assim.

Era um jogo de basquete contra os veteranos, a quadra estava lotada, como no tinha muita coisa para se fazer ali, todos estavam no jogo,

Phuwin indicou onde entramos, era um bom lugar, tínhamos uma visão boa da quadra.

-Okay, agora eu ja vou, até depois maninho.

Gemini se despediu dos garotos, eu evitei qualquer tipo de contato visual com o mesmo.

O vi descendo a arquibancada às pressas, ele entrando na quadra e tirando a camisa que vestia.

Meus olhos se prenderam ali, era belo, esplêndido, ele era lindo em tudo.

Era como ver a face de um anjo.

"Eu vi um anjo"

Lembrava-me dessa passagem na bíblia, agora entendia do que ela falava, ele era perfeito.

O barulho do apito ressoava pela quadra tirando me tirando dos devaneios.

"Que o senhor me ajude"

Era apenas isso que rodeava a minha cabeça.

Era necessário, eu achava.

Entre Orações e Pecados -GeminiFourth-Onde histórias criam vida. Descubra agora