Mr. Nice Guy

Let me Ride

Detroit, Michigan, 2002.
02:43 da madrugada.

Obviamente que, naquele horário, as ruas da cidade estavam lotadas de pessoas de todos os tipos, de todas as idades, de modo que todos se encontram aglomerados passeando e acompanhando competições de skate nos subúrbios, coloridos pelo grafite.
Famílias inteiras reunidas apenas para acompanharem as competições, uma tradição passada através de gerações.

O céu escuro era capaz de refletir a poluição causada pela grande quantidade de indústrias automobilísticas espalhadas pela cidade.
A madrugada, porém, apesar de escura, era um dos únicos momentos em que a cidade industrial parava de trabalhar e focava apenas na diversão que o esporte provocava em suas almas.

O prazer de conhecer os garotos que competiam no skate e sentir orgulho deles, por saber sua história de vida e acompanhar suas dificuldades é um sentimento que apenas aqueles que vivem na cidade podem desfrutar.

Após acompanharem os campeonatos, Marshall, Bob e George saem para andar de carro pelas ruas, entram em um bar, tomam algumas doses de cerveja barata e compram algumas garrafas de vodca para beberem.

- O campeonato desse ano está animal. - diz George. - Estou pensando em me inscrever no próximo ano.

- Por que não disse que tinha vontade de participar do campeonato, cara? - Marshall questiona o amigo, parecendo desapontado.

- Não achei que era capaz de ganhar nem meia medalha com minhas manobras ruins. - George faz uma careta.

Bob, que até o momento estava apenas escutando, entra na conversa dos amigos.

- Duvido muito alguém aqui da cidade ser melhor que você.

George sorri, balançando a cabeça de um lado para o outro. Ainda não acreditando que o amigo falava a verdade.

Evidentemente que a mistura de bebidas, a cerveja e a vodca, não descem muito bem em um estômago vazio e são um perigo para quem dirige, porém, Marshall era teimoso demais para deixar que qualquer um dos dois amigos pegasse a direção de suas mãos.

Marshall tinha acabado de terminar um relacionamento. Christine não poderia mais ser considerada a mulher mais fiel desse mundo. O fator da mentira ainda zunia em sua cabeça como um motor enferrujado, mas o rapaz fazia esforço para acreditar que o momento de desilusão que estava atravessando não passava de um simples pesadelo. Por isso dirigia tão rápido.

Quando se é jovem, a velocidade tem o mesmo resultado de uma droga muito estimulante.

O rádio tocava Let me Ride, um clássico de Dr. Dre.

Marshall foi retirado de seus devaneios amorosos quando uma sirene enlouquecida soou reverberante na traseira do carro. Era trabalho dos policiais fazer uma ronda pela cidade para mantê-la vigilante e segura aos moradores. 

- Ótimo. - Resmungou Marshall atrás do volante, parando o carro.

O policial que o seguia fez o mesmo.

- Boa noite, rapazes. Vocês com certeza sabem que a velocidade permitida nesta rua é de no máximo 60km/h, não é? - começa o discurso.

Marshall sabia que ganharia uma multa, pois, o seu carro desgovernado estava a quase 90km/h. Marshall tentou argumentar. Não poderia ganhar uma multa.

- Mas, senhor policial... - Começou Marshall.

- O senhor possui o conhecimento de que o excesso de velocidade pode causar uma multa, não é mesmo? - O policial sorria, o deboche estampado em sua cara, o que irritou o garoto.