Mr. Nice Guy

Brain Damage

Marshall costumava pensar que se conseguisse dar certo em alguma coisa na vida, principalmente no rap, ele poderia levar todos com ele. Poderia dar uma vida melhor para a mãe, que chorava todas as noites e se enchia de medicamentos para esquecer que fora abandonada por um homem que não se importava com nada além dele mesmo.

Se ele realmente conseguisse gravar uma demo e tivesse a oportunidade de demonstrar seu talento nas rimas para alguém, então teria uma chance de mudar toda a sua história, dar uma vida melhor para a mãe e o irmão.

Ele caminhava nervoso até a casa de Sarah, que prometera ir com ele até a gravadora para o acompanhar durante a gravação da demo.

O nervosismo era apenas sua ansiedade se manifestando através de suas mãos suadas, ombros tensos e suas pernas que tremiam.

A letra para a demo estava pronta.
Era um amontoado de pensamentos que Marshall teve durante a madrugada.

Marshall não se arrependia do que tinha escrito, sabia que aquelas palavras eram duras, mas não se sentia completamente sóbrio enquanto as escrevia, era como se a parte mais sombria do seu ser o dominasse naquele momento e tomasse conta do lápis.

Todos os versos que escreveu eram brutais.
Cada uma das letras que estavam rabiscadas naquelas folhas foram escritas com toda a raiva que habitava o corpo de Marshall na madrugada insone.

Pensava naqueles que o fizeram sofrer durante o ensino médio. Aqueles que o ensinaram a se esconder, como um bichinho assustado, por medo.

Aquela letra resumia tudo o que ele sentia com relação a todas aquelas pessoas que destruíram sua vida, suas relações futuras e suas poucas lembranças boas.

E ele sabia que teria que ser corajoso para cantar tudo aquilo. Era muita dor, muito sofrimento que ele colocaria para fora naquele momento.

🎤

Quando se encontrava junto à porta da namorada, respirou fundo e arrumou as roupas amassadas, ele pegou as primeiras que viu em sua frente. Estava nervoso com a gravação, não conseguia pensar em outra coisa. Estava arriscando tudo.

Tocou a campainha.

- Estou indo! - Sarah gritou.

Marshall se balançava com os pés.

- Marshall! - Ela se jogou em volta de seu pescoço.

- Oi meu docinho. - Ele amoleceu os músculos, a envolvendo com os braços e mergulhando o nariz em seus cabelos.

- Estava ansiosa! Achei que você viria mais cedo.

- Eu acordei tarde, amor.

Eles se distanciaram um pouco dentro do abraço e ela ficou na ponta dos pés para beija-lo. Ele retribuiu, sorrindo.

- Eu estava com saudades.

Ele sorria.

- Estou feliz que você estará comigo nesse momento especial, Sarah.

- Também estou. Você será grande. Eu sinto isso.

🎤

Os dois andaram até a casa de Proof.

Marshall não queria que outras pessoas participassem daquele momento porque sabia que ficaria nervoso demais se tivesse plateia.

Ele não conseguia lidar com muitas pessoas o encarando. Então, decidiu que não chamaria Porter, Bob ou qualquer outra pessoa que ele acreditasse que tiraria sua atenção. Portanto, apenas Sarah e Proof estavam no estúdio.