Cleanin' Out My Closet

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Marshall tinha ensaiado tantas vezes as palavras que gostaria de dizer para a mãe, em sua maioria eram cruéis e prioritariamente degradantes, mas eram afetadas pela raiva que sentia em relação à figura materna.

Em certo momento, ele não aguentava mais pensar, apenas rabiscava palavras em seu caderno de vez em quando e observava a cidade pela janela do metrô, perdido em pensamentos, mas atento ao mundo a sua volta, que o dava criatividade para que escrevesse o que quisesse. Escreveu coisas que não saiam de sua cabeça, desde o momento em que lera o bilhete deixado por Nathan, todas eram relacionadas com a figura materna.

Estava a caminho da casa de Sarah, porque prometera a ela que não enfrentaria aquele problema sozinho. Ele nunca descumprira uma promessa e aquela não seria uma excessão. Apesar de estar apreensivo de falar com a mãe, sabia que acabariam brigando, ele sabia que aquela atitude era a certa se quisesse um futuro melhor para o irmão.

Quando chegou, tocou a campainha.
Sarah prometeu que estaria sozinha, então, ele não estava nervoso de ter que cumprimentar Mitchell.

Ouviu passos rápidos se aproximarem da porta. Respirou fundo. Não tinha mais volta.

Assim que a porta se abriu e os olhares dos dois se cruzaram, ela envolveu sua cintura com os braços, percebeu que ele estava tenso e encostou a cabeça no peito dele, ouvindo seu coração acelerado, pensou ser pelo medo ou pela raiva que sabia que o assunto a ser tratado despertava nele, mas estava errada, ele nunca se sentira tão feliz na vida, como nos curtos momentos em que estava nos braços dela.

Não se olharam, não falaram, não era preciso. Ele apertou mais ainda a amiga contra si e enfiou o nariz em seus cabelos, inspirando por alguns segundos, de olhos fechados.
Se sentia culpado por colocá-la naquela situação, não achava que era certo ela estar ali apenas porque queria ajudar, era muita dor para ela aguentar.

- Não gosto de pensar em você no meio dessa bagunça toda que é a minha relação com a minha mãe, não somos gentis um com o outro e você não precisa presenciar essas coisas.

Ela se afastou do peito dele para olhar em seus olhos.

- Eu já disse que vou com você, não é uma discussão. Eu vou e acabou.

Ele passou as mãos, de sua cintura, para seu rosto, a tocando sutilmente. Ela o encarou, seus grandes olhos azuis eram como uma piscina convidativa e morna em um dia quente de verão.

- Não vou te convencer do contrário, não é? - Ele ergueu uma sobrancelha, pegando uma mecha de cabelo dela e brincando com esta entre seus dedos.

- Não. - Ela disse, decidida. - Agora, vamos logo.

Então ela o puxou. Saíram. Agora não tinha mais volta, teria que encarar seus pesadelos de uma vez.

🛹


Foram os dois para o trailer. Marshall sabia que a mãe estava em casa, sabia que o irmão também estava e ficava cada vez mais nervoso enquanto o trailer se aproximava.

Quando chegaram, ele pegou a chave e enfiou na fechadura como se aquele gesto fosse uma tortura. A mãe estaria em casa, tinha acabado de ser trazida pelos enfermeiros do hospital.

Sarah apertou sua mão, fazendo-o olhar para ela.

- Eu estou bem. - Ele sussurrou.

Ela assentiu.

Entraram. Nathan estava jogado no pequeno sofá, comendo pipoca, enquanto assistia Scarface na pequena televisão da cozinha.

Marshall olhou para o aparelho.
Estava na cena em que Tony Montana, o protagonista, diz a célebre frase: "Baby, say hello to mg little friend"

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