3 5 - Sem sentimentos

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Hunter

É triste né? Você não saber absolutamente nada sobre os seus filhos.

Não saber a cor favorita dele, com quem ele anda, quais são os hobbies dele, o jeito que ele vê o mundo e nem o tipo de roupa que ele usaria caso fosse convidado pra ir em um evento de idosos.

Toda vez que eu penso nesse assunto eu fico com raiva.

Raiva daquilo que eu não tive, raiva daquilo que eu queria... na verdade quero, raiva daquilo que todos tem, menos eu.

As vezes eu me sinto ingrato, tipo, qual é? Eu tive tudo o que uma criança queria ter, brinquedos das melhores categorias, as melhores festas que uma criança poderia ter, todos os doces legais, os carros infantis mais caros que você possa imaginar.

Eu fui o primeiro do meu círculo de amigos a ter um smartphone, eu não poderia querer mais, certo?

Eu não deveria querer mais...

Bom, mas sempre foi inevitável sentir inveja quando eu via o Alex junto com os pais dele andando pra cima e pra baixo como uma família feliz enquanto eu só tinha a Tereza pra me acompanhar.

Eu juro que eu tentava controlar o ódio nas apresentações escolares, quando eu via os pais dos meus amigos com a merda de uma câmera na mão tirando foto e com um sorriso orgulhoso de orelha a orelha na cara, enquanto eu só tinha a Tereza lá, sempre ao meu lado.

Eu até sentia inveja do Cater quando eu via o pai dele metendo a porrada nele.

Não me entenda mal, eu amo a Tereza, mais que tudo nesse mundo, mas porra... Eu só queria aquilo, uma família.

Pessoas que estivessem no meu lado quando eu estava no hospital por causa da anorexia. Pessoas que brigassem comigo quando eu fizesse alguma merda, pessoas que fossem pra porra da minha apresentação escolar com um sorriso orgulhoso na cara e com uma câmera na mão, pessoas que ao menos estivessem lá... mesmo que isso significasse tomar uma surra por se esbarrar no meu pai.

E eu me sinto muito mal por ter inveja do Cater, porque sei que ele faria loucuras pra ter a minha liberdade.

Se ele lesse os meus pensamentos agora ele provavelmente daria um murro bem dado na minha cara pra eu acordar pra vida.

Ele falaria coisas do tipo: "Você não sabe a porra do privilégio que é ser você, você é bonito, popular, bilionário, tem liberdade e tudo o que quer, e ainda por cima é poliglota, é a merda de um desperdício, você não ser totalmente feliz" ah, e o clássico: "fodasse os seus pais, queria ver se você aguentaria estar no meu lugar".

Não Cater, a resposta é não, eu não aguentaria estar na merda do seu lugar, e não faço ideia de como você aguenta. Você é forte pra caralho irmão.

Mas eu não consigo ignorar esse vazio constante do meu peito toda vez que eu vejo uma família feliz por aí.

Eu queria não ficar ansioso toda vez que minha mãe me dá um sinal de vida.

Eu não queria sair do "Hunter Patty  completamente irresponsável" pra "Hunter Lucas James Um homem de negócios completamente competente" quando a minha mãe me manda documentos pra assinar alguns papéis.

Ódio é ÓDIO, Amor à Parte Onde histórias criam vida. Descubra agora