Consequência Do Nosso Ódio (Em Revisão)

12 - e agora?

Ainda estética pelo acontecimento recente, a única coisa que me resta fazer é chorar como se isso de certa forma fosse resolver os meus problemas. Não resolve, no mínimo só vai me deixar com uma forte dor de cabeça e olhos inchados, mas pela primeira vez na minha vida eu me encontro de mãos atadas sem saber o que fazer. Sempre fui o tipo de mulher que perante a qualquer situação difícil encontro formas de sair...mesmo a ideia sendo completamente absurda, mas agora...é como se chorar fosse minha única alternativa

Elisa volta pra sala segurando uma caneca de chocolate quente, ela olha pra mim compreensiva e me entrega

– eu queria café — falo com a voz chorona nos braços da Yuna que faz questão de limpar minhas lágrimas com o lenço. Logo que soube do resultado decidi mandar uma mensagem para ela explicando tudo e ela fugiu do trabalho para ver como estou

– não pode tomar café você está gra...— ela não termina de falar quando Yuna lhe lança um olhar ferroz. Fungo meu nariz e dou um gole do meu chocolate

– desculpa amiga

Assinto com a cabeça

– eu não quero ser inconveniente mas, o que você vai fazer? — Yuna me pergunta

– eu não sei. Eu juro que não sei

– tudo bem — ela suspira — qualquer que seja a sua decisão, saiba que a gente vai te apoiar, não é Elisa?

– é! — Eli responde digitando uma mensagem no celular despreocupada. Eu e a Elisa nunca fomos as melhores amigas, simplesmente duas mulheres que dividem o mesmo apartamento e que por vezes trocam algumas ideias. Tem vezes que ela passa duas semanas fora de casa e reaparece como se nada tivesse acontecido, o que pra mim é super normal já que estou acostumada. Na real, essa casa é mais minha do que dela

– eu preciso ir agora, você sabe, o subordinado do teu chefe

– eu sei — forço um sorriso. Ela me dá um beijo demorado na testa e de seguida vai embora. Respiro fundo tomando mais um gole enquanto minha mente viaja em torno de toda esta situação e no que eu vá fazer de seguida

– olha...eu conheço uma clínica de aborto com um preço acessível e...— Elisa começa a falar mas eu a interrompo

– Elisa por favor, neste momento eu não estou em condições de tomar nenhuma decisão

– foi só uma ideia, eu achei que...

– achou errado — me levanto e sigo até o meu quarto onde assim que entro, tranco a porta de uma forma agressiva e me sento no chão com as costas sobre a porta. Lágrimas caem involuntariamente sobre o meu rosto enquanto eu me sinto estúpida e culpada por me colocar em toda esta situação

Não foi desse jeito que eu imaginei engravidar. Era suposto ser uma notícia alegre pra mim, algo que me deixaria com um sorriso de orelha a orelha, mas pelo contrário, esta sendo uma experiência horrível e me sinto mais péssima ainda por sentir isso de um ser que não teve nada haver com a minha ignorância e burrice

Neste momento meu celular toca, ao pegar, vejo que é uma chamada de vídeo da minha mãe. Penso em não atender, mas eu queria muito falar com ela, mamãe sempre teve os melhores conselhos. Eu não posso esconder isso dela, por mais que lhe contar signifique decepciona-lá, eu sei que no final ela vai me dizer o que fazer

Limpo minhas lágrimas e atendo

– oi minha filha...ow, o que houve com você? — ela fica chocada com a minha aparência física

– não foi na...— solto um suspiro — foi tudo mãe, está tudo dando errado — tento controlar minhas lágrimas mas é inevitável

– mi amor, respira, e conta pra su madre que se passa?

Limpo o meu nariz húmido antes de começar a falar

– mãe, eu estou grávida — sou directa. Minha mãe entre abre a boca diversas vezes tentando falar mas nenhuma palavra sai de sua boca — acredita, foi mais assustador pra mim mãe

– eu não sabia que você estava namorando

– e não estou

– Julie

– a algumas semanas eu bebi demais numa festa de trabalho e acabei fazendo o que não devia com o idiota do Malcom — sinto um nó se formar no meu estômago só de pronunciar este nome — foi loucura eu sei, mas eu juro que não foi intencional. Eu não sei o que fazer, preciso que a Senhora me diga — desmorono — mãe me desculpe, você deve estar muito decepcionada

– que? no no, Jo no stoy chateada, Eres mi filha amada. Só estou ....assustada, por essa não esperava

– o que devo fazer?

Ela suspira, se levanta de onde estava sentada e caminha para um comodo mais privado

– Julie, quando eu engravidei de você, eu era uma jovem mexicana descobrindo a vida em New Jersey, o teu pai estava muito doente e desempregado. A gente não tinha dinheiro nem casa própria, foi difícil pra mim principalmente quando o teu pai faleceu. Era só eu e você no mundo, eu tinha todos os motivos pra desistir de você, mas eu não fiz. Porque desde o momento que eu soube da sua existência, eu já te amava — a medida em que minha mãe falava lágrimas escorriam sobre meu rosto de uma forma incontrolável — foi difícil, muito difícil, mas eu sabia que valeria apena no final. Você foi a melhor coisa que aconteceu comigo mi vida. Jo te amo muito. Eu não posso falar o que você deve fazer, porque a decisão é sua. Mas eu estou aqui, cuidando de ti, te apoiando. Mas pense bem

Fico olhando pra minha mãe e pensando em como ela foi forte ao me criar sozinha numa cidade desconhecida em busca de oportunidades. Ela poderia ter desistido de mim, mas não o fez. E eu...eu tenho apoio dos meus amigos, da minha família, tenho um bom emprego. Eu não posso tapar um erro com o outro, não posso simplesmente desistir desta gestação só porque o pai é um idiota que pode provavelmente não querer saber dela

– você vai ser avó — falo sorrindo e minha mãe sorri

– quanto ao pai...

– ele não precisa saber. Ele nem vai se importar

– no no, no diga esso. Você vai ter que contar, ele tá no direito. Não pode esconder uma coisa dessas

– mas mãe

– Julie Danken por favor

Suspiro

– tudo bem

– agora vai descansar que você tá horrível. Te amo

– também te amo mama — beijo a tela do celular e vou me jogar na cama

Olhando para as perspectivas da minha mãe tudo parece tão simples e fácil de enfrentar. É claro que se tivesse como mudar tudo isso eu mudaria, mas aconteceu. E eu devo ser adulta o suficiente para enfrentar tudo de frente.