38 - bolo de chocolate

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Minha atenção estava totalmente focalizada no meu computador, tentando procurar um estilo de arquitetura que combinaria mais comigo para poder ajustar ao restaurante que eu pretendo abrir. Não vou negar, queria algo autentico e que tivesse minha cara, algo que me definisse e me diferenciasse dos demais restaurantes. Porém, por mais que eu estivesse concentrado nas imagens que passavam sobre minha tela, não consegui deixar de observar a Julie sentada na bancada da cozinha comendo um bolo de calda de chocolate. Ela estava distraída enquanto cortava cada pedaço e o levava até sua boca, seu rosto de pura satisfação e desejo. A mera lembrança do sabor do açúcar e chocolate fez o meu estômago desejar um pedaço. Não posso negar que não tenho uma leve queda por doces e já faz muito tempo que não como algo do tipo. Lembro que os melhores doces que eu já comi eram devidamente feitos pela minha avó, acho que desde que ela morreu eu nunca mais comi algo do gênero.

Julie levantou o olhar e eu tive que voltar a minha atenção na tela do computador, mesmo sabendo que preciso de um tempo para tirar o bolo de chocolate da minha mente para poder continuar trabalhando

– o que você está fazendo? — questiona com curiosidade. Ela se levanta da bancada segurando seu bolo e senta do meu lado na mesa de refeições

– uma pesquisa— dou de ombros.  Julie permaneceu em silêncio como se esperasse por mais respostas — sobre arquitetura no estilo gótico — acrescentei calmamente. Ela franziu a testa, soltando um "ah" e de seguida voltou sua atenção para o bolo e eu tentei me segurar para não pedir um pedaço.

– porquê você está pesquisando isso? Não acha que seu estilo já é gótico o suficiente?

– acho

– porquê tá me dando respostas monossilabas?

– porque estou tentando me concentrar e você pergunta demais

– não tá mais aqui quem falou — ela finge fechar a boca com um zipe. Eu voltei a encara-la e meus olhos passaram novamente pelo pedaço do bolo, e a calda de chocolate escorrendo. Isso deve estar muito bom — você quer um pedaço? — a pergunta da Julie me tirou de transe

– o quê?

– um pedaço do bolo — ela sorri. Pisco os olhos meio atordoado

– não obrigado, fica a vontade — respondo desconcentrado lutando contra essa vontade, porém...sentia que não parecia certo

– você está secando o meu bolo desde que eu peguei — sorriu — estou me sentindo mal já

– eu não estava secando o seu bolo — dou de ombros um pouco receoso e me sentindo completamente patético por não ter sido discreto e ter deixado ela perceber

– estava sim, e nem consegue disfarçar — retrucou ela rindo — eu posso dividir com você — ela caminhou até a gaveta e pegou em um garfo extra, logo me entregou — menos risco de diabetes né

– obrigado — digo um pouco aliviado comendo junto com ela — isso está muito gostoso

– é né?

– a última vez que eu comi algo do gênero a minha avó era viva. Ela fazia os melhores doces. Ela costumava dizer que o segredo está nas mãos frias

– mãos frias? — sorri — o que isso quer dizer?

– quer dizer que ela costumava mergulhar as mãos em um balde de água gelada antes de fazer uma massa para doce

– tá falando sério? — ela pergunta no meio a risadas — se minha mãe souber disso ela surta — Cortei mais um pedaço de bolo e o levei ate a boca. Estava maravilhosamente bom como eu suspeitava

Escuto o destrancar da porta e de seguida passos rápidos se aproximando.  Não foi nem preciso eu me virar pra saber de quem se tratava. Imediatamente a cozinha é dominada pela gritaria da Sofia que parece ter sido possuída por um demónio, ao lado do Marshall que carrega a pequena Emma no seu colo. Ela da pulos de alegria pronunciando palavras incompreensíveis enquanto eu e a Julie a encaramos confusos porém sorridentes

– vão me dizer que vocês não sabem? — seu tom de voz é óbvio. Continuamos em silêncio como resposta — o jornal, é sério? Em que mundo vocês estão?

– mundo da Julie e Malcom — Julie comenta lambendo seus dedos caramelizados

– dá pra acordar um pouco para a realidade? O amor não começou com vocês tá

– pode não ter começado mas ele termina com a gente — ela segura no meu queixo delicadamente e junta nossos lábios em um beijo rápido com sabor a chocolate

– eu amo vocês é sério, mas vocês precisam abrir o site de notícias agora, estão falando de vocês

– o quê?

Pego no meu computador e entro no site de notícias, o meu rosto e o da Julie estão bem na capa e com letras bem visíveis escrito "o mais recente casal de empresários". Meu rosto é dominado por um sorriso enorme e sinto uma sensação de autosatisfaçao. Julie que está bem do meu lado da um grito bem alto e abraça o meu pescoço, enchendo o meu rosto de beijos

– crítica da Immani — ela fala observando um certo ponto

– gente as críticas delas são diretas e pesadas

– vamos lá, "A empresa Construtora Maloy é uma empresa que existe a várias décadas, mas nunca em todo esse tempo se foi observada tamanha ousadia e petulância dos empresários. Fazer uma franquia é o mesmo que desafiar as leis empresárias no século XXI. Felizmente, o mais novo casal "Malcom Maloy e Julie Maloy" estiveram em frente do processo que teve um verdadeiro sucesso e engajamento jamais visto a nível de todas as empresas de construção em todo o mundo. Pesquisas afirmam que nos próximos anos, o número de lojas franqueadas só vai aumentar e assim, melhorar o crescimento de uma forma incontestável "

AAAAAAH ela gostou — Sofia se empolga

– ela disse Julie Maloy — ela se ri — a gente não é casado

– aindaaa — Sofia se apressa a dizer e me lança um olhar mortífero como um sinal de alerta. Esboço um largo sorriso enquanto puxo a Julie para mais perto de mim. — o papai vai surtar quando ver isso — ao escuta-la falar sobre como será a reação do meu pai, meu sorriso é completamente desfeito e sou dominado pela sensação de desgosto

Eu não queria ter que me preocupar ou procurar algum tipo de aprovação vindo dele, mas não deixo de ficar um pouco ansioso sobre toda essa situação, queria que ele ao menos reconhecesse o esforço que tenho feito pra ser alguém na vida. Ou que ele fosse presente na vida da neta, não quero ter que escutar minha filha perguntar sobre o avô e eu não saber o que responder

– hei, o que ele achar ou deixar de achar não importa! O importante é que você é bom no que faz e está onde está por puro mérito — Julie fala como se tivesse lido meus pensamentos

– você também é boa

– nós somos bons juntos — ela beija o meu rosto e de seguida passamos o resto do dia tendo conversas aleatórias. Porém, eu ainda me sentia preocupado sobre o meu pai.

Consequência Do Nosso Ódio (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora