30 - desejos estranhos

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Sou completamente dominada por uma vontade súbita de comer melancia misturado com margarina, vontade essa que me faz despertar no meio da noite com o paladar salivando e o estômago roncando como se eu não tivesse comido antes de dormir. Uma fome intensa que só pode ser satisfeita com a combinação dessas duas coisas

Me levanto da cama e com passos lentos para não acordar o homem que dorme no quarto em frente ao meu, caminho direção a cozinha. Abro a geleira e me deparo com um monte de frutas menos a melancia, única coisa que me deixa satisfeita é a margarina. Respiro fundo sentindo que a cada segundo que passa a vontade só aumenta de uma forma súbita e incontestável

– e agora? — coloco as mãos na cintura e encosto no balcão. Me vejo sem outra opção a não ser acordar o Malcom, é justo, a filha é dele também, porquê que tem ser eu a sofrer com os desejos estranhos dela?

Volto a subir as escadas me sentindo imensamente desconfortável com os quadros esquisitos pendurados, eles já são assustadores, mas ficam muito mais a essa hora da madrugada e comigo sozinha diante dessa sala de estar enorme e escura. Assim que paro em frente a sua porta, dou três batidas mas nada do Malcom responder

Decido então destrancar a porta vagarosamente e vou entrando. Malcom dorme tranquilamente com o abajur ligado, dando pra ter uma visão ampla do seu rosto que é iluminado pela luz, seus olhos fechados e os lábios em uma linha recta, a respiração leve e tranquila, até dormindo ele é organizado.

Me aproximo e coloco minha mão por cima do seu ombro. Ele parece um anjo dormindo, que chego a me sentir culpada por ter que estragar o seu sono.

– Malcom — abano o seu ombro. Ele resmunga alguma coisa e se vira — Malcom acorda — volto a insistir — aconteceu alguma coisa com a nossa filha, você precisa acordar por favor

Ele se move mais na cama e de seguida se vira pra mim e abre os olhos lentamente. Seus olhos azuis se tornam mais brilhantes ainda com a luz que foca o seu rosto perfeito
Naquele momento senti o meu peito bater freneticamente e um enorme embrulho no estômago, foi como se tivesse sido o famoso efeito borboleta no estômago. Seus olhos me olhando ao acordar causa um efeito inexplicável pra mim e por um segundo desejei ficar do seu lado o observando dormir, porém decido jogar esses pensamentos e sensações para fora e ignora-los.

– o que foi? — sua voz sai roca

– eu preciso de melancia

– o quê?

– por favor — fico de joelhos ao lado de sua cama

– onde você acha que eu vou arranjar uma melancia a essa hora?

– eu não sou culpada se você tem quase todo o tipo de fruta menos uma melancia — fico na defensiva. Ele estreita os olhos e se senta na cama

– pois porque eu sou alérgico a melancia

– você tá falando sério?

– sim! Eu fico com urticária — ele respira fundo

– por favor — toco nas suas mãos num gesto simples de o incentivar. Malcom parece extremamente irritado, cansado e aborrecido. Ele fica em silêncio por breves segundos como se estivesse raciocinando sobre o fato de me ajudar ou me ver morrendo de vontade

– tá bom — ele cede e eu não consigo evitar o meu sorriso de alegria. Ele se levanta da cama usando o seu pijama de ceda e caminha até o seu criado mudo. — eu vou! Mas você fica aqui me esperando

– aqui no seu quarto?

– não — seu tom de falar é rude — sai daqui

Não opino nem reclamo, simplesmente me levanto e vou para sala. Pouco tempo depois Malcom desce ainda de pijama com as chaves do carro na mão, sem dizer nada ele sai porta afora e me deixa sozinha nessa casa grande, escura e assustadora. Ligo a televisão e decido me distrair com qualquer coisa que passa

Consequência Do Nosso Ódio (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora