32 - Genevieve e segredos

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Lembro que eu me virei e encontrei seu rosto, e sua boca já estava esperando como uma pergunta. Não vou fingir que não foi perfeito - os lábios macios de Julie contra a mordida da margarina e da melancia ainda em nossas línguas. Ela fez mais do que simplesmente não me impedir. Ela me beijou de volta. Ainda consigo sentir o toque de suas mãos em minha nuca, o beijo intenso como se ambos ansiassemos por aquele momento a muito tempo

O tanto que seu olhar se manteve perdido após o beijo, por um segundo eu quis segurar no seu pulso e falar alguma coisa, porém...eu tanto quanto ela não sabíamos como expressar o momento porque nem eu mesmo sei como meus lábios foram parar nos dela. Decido então colocar a culpa de todo aquele acontecimento por cima do cansaço e do facto do meu sono ter sido interrompido. Mas isso não tira o fato de eu ter gostado

Escuto cada palavra dita pelo analista de dados sentado na minha frente com o computador e ao lado de outro funcionário da empresa. Ele movimenta suas mãos e genticula o seu pescoço algumas vezes enquanto me mantenho quieto tentando mandar o foco. O restaurante está calmo e pouco movimentado a essa hora do dia

– então, fechado? — ele pergunta após breves minutos de fala. Pisco os olhos inúmeras vezes e sorrio para ele em simpatia

– fechado — apertamos ambos as nossas mãos

– foi bom conversar com você Malcom, nos vemos na empresa — ele arruma sua maleta e de seguida se retira. Decidi terminar de tomar o meu vinho antes de abandonar o local e ir directo para casa

Macho um pouco no celular e após terminar, pago a conta e me retiro do restaurante seguindo o caminho direção ao meu carro, porém, para a minha tristeza acabo dando de cara com a Genevieve que sai também do restaurante e ao me notar, acaba esboçando um largo sorriso e vem até mim

– Malcom oi — ela me dá um abraço repentino me pegando desprevenido. O cheiro de ortelã que tanto me cativava ainda é o mesmo — que conscidência ver você aqui — ela possui um sorriso genuíno em seu rosto e os olhos brilham enquanto fala. Havia se passado dois anos desde que nós os dois terminamos da pior forma possível, e desde então eu nunca mais tive uma conversa com ela ou qualquer tipo de contacto. Sempre foi difícil olhar pra ela e pensar que não consegui ser o suficiente pra ela ao ponto de me trocar pelo meu irmão

– como você está? — pergunto tentando parecer o mais tranquilo o possível

– estou bem, ahm, acabei saindo da agência e decidi vir pra cá pra comer um pouco, esse costumava ser o nosso restaurante favorito lembra? — sua pergunta é completamente retórica, pensar no passado sempre foi algo pelo qual eu decidi evitar, não tinha nada no meu passado pelo qual eu gostasse de lembrar

– não lembro — minto. É claro que eu me lembro de cada detalhe que passamos juntos, de todos os planos jogados ao lixo e de como fui substituído em tão pouco tempo

– e como você está? Ouvi que ficou doente — mordo meu lábio inferior apreensivo

– estou melhor. Como soube?

– a sua mãe me contou

Ok era  estranho a minha mãe ainda manter contato com a Genevieve depois de terminar com o meu irmão

– como isso foi acontecer? Você é alérgico a melancia — a falsa preocupação dela chega a me irritar

– foi um acidente. Bom...eu preciso ir pra casa, foi bom rever você Gene

– me dá uma carona, eu estou sem o meu carro e Uber está demorando uma eternidade — ela sorri, aquele típico sorriso perverso como quem está prestes a aprontar algo. Se eu não a conhecesse tão bem poderia facilmente acreditar — por favor — fico pensando se devo ou não aceitar. Não quero ter que ficar sozinho dentro do carro com ela, mas também não a quero dar o prazer de pensar que ela ainda mexe comigo

– tá bom, entra

*****†*****

– como está a Julie? — Genevieve pergunta após minutos de silêncio enquanto eu conduzia

– ela está ótima

– ela é muito adorável

– é incrível — mordo meu lábio inferior só de pensar nela

– a vossa amizade é linda, acredito que você tenha contado toda a verdade pra ela né?

Genevieve tem os olhos focalizados em mim como se quisesse medir a minha reação

– como assim?

– seria péssimo se ela descobrisse só depois que você só aceitou assumir a criança pra provar pra todo mundo que você pode sim ter filhos

Sinto o meu coração falhar uma batida

– isso não é verdade

– claro que é! Eu conheço você Malcom, você já mais assumiria se não tivesse segundas intenções. E você sabe muito bem o motivo do nosso relacionamento ter fracassado, a gente queria muito ter um filho e depois de várias tentativas fracassadas o médico constatou que tinha algo de errado com você. Você só quis mostrar que todo mundo estava errado e que eu fiz uma escolha péssima, e pela sua cara é nítido que a Julie não sabe, o que é uma tragédia levando em consideração que ela é apegada a você. Dá pra ver o quanto ela gosta de ti e te admira, saber a verdade vai deixar a coitada arrasada

Respiro fundo tentando manter a calma. Eu não queria ter que admitir que ela estava certa, mas eu sabia que era tudo verdade. E pensar no tanto que fui baixo e de como eu não queria assumir a criança no início só me faz ter mais nojo de mim ainda

Paro o carro imediatamente, Genevieve perde o equilíbrio e o cabelo todo cobre o seu rosto

– o que foi isso?

Seguro no seu braço forte e olho nos seus olhos

– escuta aqui Gene, você não tem nada haver com a minha vida e com as decisões que eu tomo. Eu quero que fique longe da Julie e da minha filha, você entendeu?

– se não o quê?

– você tá certa, eu não sou uma pessoa boa e você me conhece o suficiente pra saber que eu não me importo em destruir a tua vida em um piscar dos olhos. Então não queira me testar

Ela apruma os lábios

– me larga você está me machucando

– sai do meu carro agora

– você vai me deixar aqui no meio do nada?

Respiro fundo e abro a porta saindo do carro, de seguida abro a porta do lado da Genevieve a puxo pelo braço

– não, me solta, o que você está fazendo?

– boa sorte em encontrar carona — volto a entrar fechando a porta na sua cara

– Malcom Maloy não se atreva

Dou tchau com a mão e arranco com o carro sem um pingo de remorso. Conheço ela o suficiente pra saber que a Genevieve seria capaz de qualquer coisa para poder tirar a minha paz, e suas palavras não saem da minha cabeça. No início era fácil, a Julie me odiava, qualquer descoberta ruim sobre mim não seria surpresa pra ela, mas agora eu percebo o tanto que nos tornamos próximos e pensar em como ela ficaria decepcionada comigo me deixa mal.

Por um instante desejei voltar no tempo onde ela me odiava

Assim que chego na casa, a encontro no gramado regando as plantas, ao me ver, ela esboça um sorriso e acena. Como seria perdê-la depois de a ter?

– oi, como foi na reunião

– boa, eu estou exausto

– eu preparei aquela torta que você tanto adora

– obrigado Julie mas eu estou sem apetite — meu tom de voz é completamente seco — vou dormir — passo por ela sem me dar o trabalho de olhar nos seus olhos, é doloroso tratá-la com arrogância sendo que tudo que eu queria era sentar do seu lado no sofá e escuta-la falar sobre como foi o seu dia
Mas acredito que quanto mais próximos estivermos, mais doloroso será quando ela souber a verdade.

Consequência Do Nosso Ódio (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora