Happy Birthday

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 As semanas passaram, até que fosse aniversário dele novamente, o terceiro desde que tinha partido, e nessas datas Mari sempre ficava soturna. A esta altura já esperávamos que Luka tivesse voltado, esperávamos que voltasse em menos de um ano, mas o babaca continuava a passear, e mandar seus brinquedos novos para casa, que agora abarrotavam o que futuramente seria seu ateliê. O que inicialmente seria seu espaço acabou virando uma área de festas, e mandamos construir um galpão grande e arejado nos fundos do jardim, onde teria liberdade de fazer qualquer bagunça. Obviamente ainda o esperávamos, apesar da quase total falta de comunicação.

As datas festivas deixavam Mari particularmente irritada, e tinhamos evitado o aniversário de Juleika nos últimos dois anos, porque era o aniversário dele, e sempre tinha um vídeo especial para ela, algo que nunca ganhavamos, por motivos óbvios.

Fomos de carro até o barco, a alguns meses não íamos lá, e ir em uma festa no Liberdade parecia terrível sem Luka, mas conseguimos nos distrair assim que os convidados começaram a chegar, a maioria eram nossos amigos do ensino médio.

Mylene e Ivan casaram, ele agora era policial, e tocava em uma nova banda, Mylene estava no sétimo mês de gestação, e foi o centro das atenções das mulheres, era a segunda do grupo a ser mãe, a primeira era Alya, que junto a Nino tiveram gêmeos, por sorte eles eram muito mais calmos do que suas tias igualmente gêmeas, que mesmo quando bebês eram terríveis, segundo as histórias que contavam. Apesar da insistência, Alya não quis casar, mesmo quando os meninos nasceram, e nada que Nino dissesse a fez mudar de idéia.

Nathaniel e Mark não eram mais um casal, mas ainda trabalhavam juntos, e passaram a maior parte do tempo próximos. Juleika e Rose ainda namoravam, e tinham planos de casamento, mas Ju era extremamente ocupada, com sua carreira de modelo fazendo com que passasse a maior parte do tempo fora de Paris, Rose era escritora, tinha publicado dois livros de terror, o que contrastava muito com sua aparência fofa.

Era nostálgico estar em uma festa no barco, onde tudo tinha começado, e nada naquele lugar tinha mudado, tínhamos feito tantos ensaios ali, passávamos horas conversando na amurada, tocando juntos os mais diferentes instrumentos, tantos beijos trocados naquelas almofadas, e tantas vezes as coisas esquentaram e tivemos que descer as escadas. E tinha aquele quarto, em que tínhamos passado o primeiro ano de namoro.

Procurei Mari pelo convés, estava conversando com as meninas, com a mão na barriga de Mylene. Caminhei até as mulheres.

— com licença meninas, vou roubar a Mari um pouquinho.

— você viu? o bebe me chutou, não é fofo?

— com certeza é fofo — segurei sua mão e caminhei para as escadas, ignorando sua empolgação com a gravidez.

— onde vamos?

— lá embaixo.

— no quarto do Luka?

— sim, faz tempo que não vamos lá, você não acha estranho?

— eu já achei estranho o suficiente estar aqui no barco.

Notei a forma como ela deslizava a mão no corrimão da escada, então fiz o mesmo. A sensação da madeira, polida por anos de uso era familiar. Mari abriu a porta com lentidão, como se esperasse encontrá-lo ali, sentado em posição borboleta tocando violão, mas obviamente não havia nada, apenas o quarto vazio, nem mesmo a bagunça habitual, tudo estava arrumado, como se Anarca esperasse que Luka voltasse a qualquer hora. — Achei que estaria diferente, é como voltar no tempo.

— não faz você se sentir adolescente? — perguntei empolgado, observando o quarto.

— não é como se estivéssemos muito velhos...

Amor Em Três PartesOnde histórias criam vida. Descubra agora