Something

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_ Adrien... _ a voz sonolenta de Mari me acordou _ o cachorro...
Somente quando ela falou foi que escutei Gin latindo no andar de baixo. Cobri a cabeça com o travesseiro, tentando voltar a dormir. Mari tinha acordado de madrugada com um sonho, acordando eu e Luka com seus gritos, e acabamos por ficar muito tempo acordados com ela, e quando o dia amanheceu é que dormimos, exaustos.
_ Luka... seu cachorro... _ estiquei o braço para acordá-lo, mas Luka não estava mais na cama. Claro que Mari me acordaria para ver qual o problema, não que não gostasse de Gin, mas ela não estava se sentindo bem nos últimos dias.
Vesti o roupão ao sair da cama, os dias já estavam esfriando, e pela manhã a casa sempre estava mais gelada do que nosso quarto, o que sempre me deixava com pena de Gin, apesar de saber que os akitas são de regiões muito mais frias, e que ele ficava mais confortável assim.

Desci as escadas, seguindo os latidos desesperados de Gin, era raro que ele fizesse esse tipo de escândalo, normalmente era um cão quieto, então a barulheira deveria significar alguma coisa. Na sala, ele estava sentado em frente a porta fechada, apenas latindo.
_ o que foi garotão? _ me ajoelhei junto a ele, coçando atrás de suas orelhas. _ o que está te incomodando em? você quer um biscoito? papai te dá um biscoito.
Fui até a cozinha, revirando o armário até encontrar o pote com as bolachas de cachorro que Mari tinha feito para ele. O alívio foi momentâneo, assim que acabou de mastigar ele voltou a latir.
_ você precisa dar uma voltinha? aquele malvado de cabelo azul esqueceu de sair com você hoje cedo foi? _ um latido foi toda resposta que eu tive.

Como Luka acordava assim que amanhecia, muito mais cedo do que eu e Mari, ele acabava tendo que ter esse cuidado com Gin, não que fosse um problema, já que Luka costumava correr todos os dias pela manhã, então tudo o que precisava fazer era deixar Gin correr ao seu lado, e fazer a limpeza quando o cão decidia se aliviar em um canteiro, mas, a julgar pelo desespero de Gin, Luka não tinha saído para correr, ou ao menos deixara Gin ir para o jardim.

Abri a porta do hall, e Gin correu, sumindo de vista ao dar a volta na casa. Segui ele para fora, e somente na metade do jardim foi que ouvi o que o estava incomodando, a audição apurada canina captando aquele barulho mesmo de dentro de casa.
Aquele som me atraiu. Era estranho, encantador, e definitivamente sinistro, e eu tinha uma noção de que instrumento dele poderia fazer aquela música medonha.
Fiquei parado ao lado da porta dupla de madeira, sem ter certeza se queria entrar em seu estúdio, onde com certeza a música estaria mais alta, mas a curiosidade me venceu, e empurrei as portas largas enquanto Gin arranhava a madeira com as garras e gania, desesperado.

_ não deixe que... _ Gin correu para dentro do grande salão, e Luka respirou fundo e virou o rosto quando o cachorro tentou lambe-lo _ ele entre...

Luka perdeu o ritmo, mas nem mesmo o ataque repentino fez com que parasse de tocar, e eu afastei Gin de seu dono. A estranha estrutura de vidro continuou a girar, Luka molhou a mão e a levou novamente ao instrumento, o som se assemelhava, por falta de comparação melhor, ao piano, embora fosse estranhamente etéreo. Então me dei conta que ele não estava sozinho, Barkk, Sass e Kaalk estavam ali também. Kaalk com a costumeira cara de desgosto, mas Barkk e Sass pareciam absortos na música.
_ nada com esse também, você pode parar de tocar essa coisa horrível?_ disse, sem esconder a irritação habitual.
_ o que vocês estão fazendo? _ perguntei curioso, e Luka parou de tocar, secando as mãos em uma toalha. Os kwamis pareceram acordar enquanto as notas estranhas morriam no ar.
_ estamos vendo que instrumentos despertam alguma reação nos kwamis _ ele respondeu sorrindo.
_ com que finalidade?
_ estamoss tentando dessbloquear nossass habilidadess atravéss da música _ Sass respondeu sibilante, ao se juntar a Luka.
_ e já tiveram algum resultado?
_ não. Mas estamos nos divertindo. _ respondeu Barkk
_ Falem por vocês, eu estou sendo obrigada a participar, contra minha vontade. _ Kaalk cruzou os braços.
Os kwamis reviraram os olhos, mas Luka riu, Kaalk nunca perdia uma oportunidade de reclamar, independente do que estivessem fazendo, os três se despediram, e logo os pequenos voaram para fora, sendo seguidos por um Gin saltitante e feliz, que tentava pular nos pequenos.

Amor Em Três PartesOnde histórias criam vida. Descubra agora