Narração do Ricardo
A viagem foi tranquila, o Luca teve somente um leve enjoo. O Pedro e eu estávamos tensos, contando cada minuto para chegar logo em Nova York. Quando sentimos o avião tocar o solo conseguimos respirar aliviados. O Luca dormia tranquilamente devido o remédio para enjoo que o Pedro lhe deu.
Eu – Acorda, amor.
Luca – Já chegamos?
Eu – Acabamos de pousar. Você dormiu boa parte da viagem.
Luca – Ainda quero dormir mais. O que o Pedro me deu?
Eu – Um simples remédio para enjoo.
Luca – Remedinho forte, viu!
Eu – Logo estaremos em casa e você poderá dormir mais um pouco.
Ele sorriu timidamente para mim e fechou os olhos novamente. O desembarque foi tão tranquilo quanto o embarque no Brasil. Chegamos no inverno e a cidade estava coberta por uma fina camada de neve. Sempre gostei de vir a Nova York no inverno, mas naquela circunstância o clima perdeu o encanto.
O apartamento que iriamos ficar era na região central, perto do hospital onde o Luca seria atendido. O alívio quando entramos no apartamento foi coletivo, horas de viagem havia acabado. O Luca foi tomar banho enquanto Pedro e eu descansávamos no sofá.
Pedro – Não acredito que correu tudo bem.
Eu – Nem me fale, passei a viajem toda com o coração na mão.
Pedro – Estou confiante com este tratamento. O índice de bons resultados é ótimo para um tratamento relativamente novo.
Eu – Ele está com medo.
Pedro – É normal, Ricardo. Ele tem medo de se iludir.
Eu – Ele te contou?
Pedro – Não precisou. Sou médico e isso é o que mais vejo no meu dia a dia.
Eu – Quero que isso acabe logo. Não aguento ver mais ele sofrer.
Pedro – Agora temos que ter mais paciência. Ele passará por um tratamento de 3 meses com a medicação, depois iremos saber se ele poderá ser operado. O tratamento lá no Brasil não foi um fracasso, pelo menos manteve o tumor estável.
Eu – Só quero vê-lo bem novamente.
Pedro – Claro que vai.
Fechei os olhos por alguns instantes, mas acabei pegando no sono. Acordei algum tempo depois deitado no sofá com o Luca dormindo sobre meu peito. O calor do seu corpo me aquecia naquela tarde gelada. Corri o olhar pelo ambiente para ver se encontrava o Pedro, mas ele não estava. Voltei minha atenção para aquele rosto sereno que descansava sobre mim, fiquei admirando aquela beleza que não existia outra igual. Envolvi meus braços em volta do seu corpo e apertei contra o meu. Para mim aquele momento poderia durar a vida toda, mas a realidade estava ali presente. Seu corpo estava frágil, sua pele pálida e seus cabelos ralos. O Luca sempre foi vaidoso, principalmente com seus cabelos. Ver aqueles que eram motivo de orgulho sem vida me cortava o coração. Fui surpreendido quando ele acordou.
Luca – Desculpa, amor. Não quis ficar assim em cima de você.
Ele tentou sair, mas eu o segurei.
Eu – Fica aqui.
Luca – Mas você está de mal jeito.
Eu – Não importa, para mim está perfeito.
