Capítulo 6

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Rodolffo

Respirei fundo, e a vi entrar no elevador. Voltando para a sala em seguida, sem dar muita ideia para a Lari, e me sentando na cadeira ao seu lado, a mantendo mais afastada de mim.

- Tudo bem? – ela perguntou, aproximando a cadeira novamente.

- Tudo. – respondi sem olhá-la.

- Sabe. – ela passou os dedos pelo meu ombro, descendo pelo meu braço. – Achei que um homem tão bonito como você, teria uma namorada mais a sua altura. – ela sorriu e piscou algumas vezes, tentando se fazer parecer sexy. – Ela é tão sem graça.

- Lari. – a chamei, tirando suas mãos de mim. – A Ju não tem nada de sem graça, e eu agradeceria se não tocasse mais em mim. Estamos aqui única e exclusivamente a trabalho, não possuo nenhum outro interesse além desse. – fui firme e ela engoliu seco.

- Desculpa. – pediu, voltando a afastar a cadeira e focando no vidro à frente da mesa de mixagem, e na dupla que gravava do outro lado.

Ficamos por algumas horas ali, e quando já nos aproximávamos do horário do almoço, resolvemos fazer uma parada. Voltei para a minha sala, decidido a ligar para a Ju, e pedir desculpas pelo meu comportamento mais cedo.

Acabei econtrando com Izabella no caminho, desde que abri o estúdio, ela veio trabalhar comigo, me auxiliava muito no trabalho de produção musical e me ajudava nas composições de algumas músicas.

Izabella também era dona de uma loja de roupas, além da música, moda sempre foi sua paixão, e ela conciliava os dois trabalhos.

- Você comprou alguma coisa para a Ju? – ela perguntou, entrando na minha sala atrás de mim. – Tá lembrando que a apresentação dela é hoje, né?

Arregalei os olhos e bati na testa, havia me esquecido completamente, e não foi por falta dela falar por vários dias seguidos sobre essa apresentação.

- Nó Izabella, se ocê não me lembra, eu ia mesmo esquecer. – respondi me sentando, e ela se sentou à minha frente. – Não comprei nada. – fiz careta. – Me ajuda?

- O que tem em mente?

- Lembro dela ter falado de um vestido que viu na sua loja, um longo, de alças finas, todo colorido, e acho que alguma joia delicada também, talvez uma pulseira, ou um colar.

- Ótima ideia a joia. – ela respondeu sorrindo. – Mas o vestido ela já tem. – ela informou. – Ela amou, não parou de dizer o quanto era lindo e o quanto ficou perfeito nela.

- Ela já usou? – perguntei e ela fez que sim com a cabeça. – E onde eu estava?

- De pé ao lado dela, ela usou naquele almoço na casa da mamãe. – arregalei os olhos, me sentindo envergonhado de não ter prestado atenção. – Citando a própria Ju, você é bem leso às vezes.

- Eu sei. – suspirei. – Ocê conhece o gosto dela.

- Vou escolher algo legal. – ela assegurou sorrindo.

Continuamos conversando, discutindo estratégias, e acabei me esquecendo completamente de ligar para a Ju. Estava em pé, escorado na janela, gesticulando enquanto imitava um som de bateria com a boca, mostrando para Izabella uma ideia que tive de música, e na minha distração, acabei batendo com meu pulso na estrutura metálica e quebrando o meu relógio.

- Tudo bem aí, amigo? – Izabella perguntou rindo, enquanto eu olhava frustrado para o meu relógio quebrado.

- Parou em onze e vinte e cinco. – bufei, olhando para os ponteiros do relógio.

- Mas já se passam do meio dia.

- Os ponteiros devem ter se movido, sei lá. – dei de ombros.

- Pelo menos vai estar certo duas vezes por dia. – voltou a gargalhar e eu fiz careta.

- Há, há, engraçadinha.

-

-

Fui encontrar com alguns amigos, num bar e restaurante que gostávamos. Depois que almoçamos, aproveitamos para beber um pouco e jogar sinuca. Aproveitei que estávamos juntos, e acabei contando sobre a cena de ciúmes da Ju de manhã, e como aquilo era absurdo, já que eu nunca pensaria em traí-la.

- Então a Ju ficou com ciúmes da Lari? – Marcos perguntou, enquanto fazia uma jogada na sinuca.

- Ficou. – respondi, estava escorado no balcão do bar, segurando um copo de whisky. - Mas ela não precisa ter, eu só tenho olhos pra ela.

- Tem certeza que é só isso que a está incomodando? – foi a vez de Israel perguntar.

- Ela está insistindo muito que eu vá para a Paraíba com ela, é casamento de uma das amigas, e como vai ser depois da sua apresentação, ela pretende ficar alguns dias por lá. Às vezes sinto que não sou capaz de fazê-la feliz. – suspirei, passando as mãos pelo cabelo. – "Como é possível amar alguém, e se sentir incapaz de fazê-la feliz?"

- Você a ama? – o barman atrás de mim perguntou, enquanto passava um pano no balcão. Nem notei que ele prestava atenção em nossa conversa. – Desculpa me intrometer, esse trabalho acaba me tornando algum tipo de conselheiro amoroso, talvez eu possa te ajudar mais do que seus amigos.

Em um primeiro momento, ponderei se a melhor solução era falar sobre os meus sentimentos com um estranho, mas acabei respondendo mesmo assim.

- Amo. – admiti e ele sorriu.

- Ouvi você dizer, que ela viaja daqui há algumas semanas. – ele olhou para mim, aguardando minha confirmação, que foi dada com um breve aceno de cabeça. – Como se sentiria se ela não voltasse?

- O que quer dizer com isso?

- "Vamos lá, imagine." – pediu. – "Vocês se despedem, ela entra no avião e nunca mais a vê." – fiquei pensativo, diante de tal possibilidade. – "Conseguiria viver sem ela?" – continuou, os olhos fixos nos meus, aguardando minha resposta.

Aquela mera possibilidade, fazia meu coração doer, não saberia mais como viver sem ela. Em tão pouco tempo, Juliette havia se tornado meu tudo, a pessoa com quem eu gostaria de passar o resto dos meus dias.

- "Não." – respondi, sentindo minha voz falhar. – "Não mesmo."

- "Então, já sabe o que fazer." – manteve seus olhos fixos nos meus. – "Aprecie o que você tem, apenas ame-a."

Fiquei calado, apenas pensando sobre as suas palavras, meus amigos continuaram jogando, enquanto eu permanecia alheio a tudo a minha volta. Engoli seco algumas vezes, quando imaginei ela indo para a Paraíba, e decidindo não voltar mais.

Nos despedimos, e eu voltei para o estúdio, no caminho, ainda pensava sobre o conselho do barman.

"Ame-a"

Parecia tão simples.

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