Capítulo 10

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N/A: Para quem não entendeu, ela realmente morreu no acidente, mas ele recebeu uma chance de voltar ao dia anterior, e fazer tudo diferente. Por isso, vários acontecimentos, são praticamente iguais aos capítulos anteriores.

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Rodolffo

Quando chegou a hora do almoço, olhei apreensivo para o relógio, decidindo dar uma pausa na gravação. Enquanto caminhava pelos corredores, encontrei com Izabella no caminho, que me seguiu até a minha sala.

- Você comprou alguma coisa para a Ju? – ela perguntou, entrando na minha sala atrás de mim. – Tá lembrando que a apresentação dela é hoje, né?

- Tô. – respondi, ainda me sentindo confuso. – Quer dizer, ontem eu esqueci, mas hoje eu me lembrei.

- Tá bêbado?

- Não. – suspirei e me sentei na cadeira. – Tive um pesadelo horrível, e é como se hoje eu estivesse revivendo o mesmo dia do meu sonho, algumas coisas acontecem diferentes, mas é basicamente a mesma coisa.

- Você parece estar tendo um déjà vu, já tive isso, e é mesmo uma sensação estranha.

- Não é déjà vu. – respondi. – É diferente, é como se eu realmente soubesse o que vai acontecer.

- Tem certeza que não está bêbado?

- Tenho. – cocei a cabeça. – Ocê pode me ajudar, a comprar alguma coisa legal pra Ju? – perguntei, mudando de assunto.

- Posso. – ela respondeu sorrindo. – Preferência de alguma coisa?

- Pensei em alguma joia.

- Ok. – ela assentiu. – Preciso passar na loja hoje à tarde, não esqueça que a apresentação da Ju começa às 20h. Não se atrase!

- Não vou! – afirmei, antes dela sair e ela me deixar sozinho.

Ouvi meu telefone tocar, e o peguei depressa, sabendo que era a Ju do outro lado da linha.

- Oi, linda.

- Que horas são? – ela perguntou, antes de soltar uma risadinha. – Desculpa, tópico sensível.

Olhei meu relógio com receio, mas ele permanecia intacto, e funcionando corretamente. Soltei o ar, que nem sabia que estava prendendo, e sorri.

- Meio dia e quinze. – informei.

- Então parece que seu relógio, não está quebrado afinal de contas.

- Acho que foi só um sonho mesmo.

- Tenho certeza que sim. – ela me tranquilizou. – Preciso desligar, te vejo mais tarde.

- Até.

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Fui encontrar com alguns amigos, num bar e restaurante que gostávamos. Depois que almoçamos, aproveitamos para beber um pouco e jogar sinuca. Tentei relaxar, depois da ligação da Ju. Me convencendo de que tudo não passava de um sonho.

Um sonho, que eu queria muito esquecer.

- Já se decidiu, sobre ir para a Paraíba? - Marcos perguntou, enquanto fazia uma jogada na sinuca.

- Ainda não. – respondi, estava escorado no balcão do bar, segurando um copo de whisky. - Ela está insistindo muito que eu vá.

- Acho que deveria ir. – foi a vez de Israel dizer.

- Deveria ouvir seu amigo. – ouvi uma voz atrás de mim, e o encontrei o barman, passando um pano no balcão, enquanto me encarava.

Senti a cor fugir do meu rosto, era o mesmo barman, o mesmo dos meus sonhos.

- Você a ama? – o barman atrás de mim perguntou. – Desculpa me intrometer, esse trabalho acaba me tornando algum tipo de conselheiro amoroso, talvez eu possa te ajudar. – ele continuou, me dando um sorriso simpático.

- Ocê é o mesmo barman de ontem. – afirmei num fio de voz, olhando para o seu rosto, mas para a minha surpresa, ele não fez nenhuma expressão de estranheza com a minha constatação, e continuou me olhando da mesma forma.

- Talvez eu seja.

- Se ocê é o mesmo barman, e se tudo está acontecendo da mesma forma. Isso quer dizer, que todo o resto também vai acontecer? – perguntei, já me sentindo fraco.

Israel e Marcos estavam distraídos na sinuca, e nem prestavam atenção em nossa conversa.

- Tudo é possível.

Respirei fundo, puxando o ar com força para dentro do meu pulmão. Eu queria muito que aquilo fosse um sonho, mas era real. Eu realmente a vi morrer, eu realmente a perdi. Não sei o porquê eu recebi uma segunda chance, mas não a iria desperdiçar dessa vez. Eu iria salvá-la, eu precisava salvá-la.

- E se eu levar ela embora, se eu a tirar da cidade. – procurava por alternativas. – Isso ainda vai acontecer? – perguntei, mas ele só continuou me olhando e não dizia absolutamente nada. – Me diz o que eu posso fazer? – implorei. – Deve ter algo que eu possa fazer.

– "Aprecie o que você tem, apenas ame-a."

Saí correndo do bar, ouvindo meus amigos me chamarem, mas não me virei para escutá-los. Entrei no meu carro às pressas, dirigindo até o teatro.

Eu precisava salvá-la, não poderia deixar aquela noite terminar em tragédia, não podia perdê-la.

Entrei correndo no teatro, ignorando todos os chamados que vinham em minha direção, e me desviando das pessoas que tentavam me parar. Juliette estava no palco ensaiando, e assim que entrei, seu rosto se virou em minha direção, no momento que o segurança me alcançou.

- O Sr. precisa ir embora, aqui é um ensaio privado. – o segurança falou, tentando me puxar pelo braço e me afastar dali.

Vi Juliette correr em minha direção, e tentei ir até ela, mas o segurança me barrou.

- Tudo bem, ele é o meu namorado. – ela disse ao segurança, assim que chegou em minha frente, e ele enfim me soltou. – O que houve, amor? – ela perguntou preocupada.

- Preciso te tirar daqui. – falei e ela me olhou confusa, dando um sorriso fraco.

- Amor, eu estou ensaiando.

- Por favor, Ju. – implorei. – Vem comigo, eu preciso te tirar daqui.

- Você está me assustando.

- Confia em mim, princesa. – pedi novamente, segurando sua mão. – Vem comigo.

A vi engolir seco, seus olhos analisavam minha expressão, e eu via a batalha que seus pensamentos travavam, mas ela acabou assentindo.

- Vou pegar minhas coisas, e avisar que tive um imprevisto. – ela respondeu e eu concordei. – Eu já volto.

Juliette se afastou, conversando por um tempo com a Maître, antes de pegar sua bolsa e voltar para perto de mim. Entrelacei nossos dedos, e a puxei pela mão. Querendo sair dali o mais rápido possível.

- Aonde vamos? – ela perguntou, quando nos aproximamos do carro.

- Para um lugar seguro. – respondi, abrindo a porta para que ela entrasse, antes de dar a volta e ocupar o banco do motorista.

- Tem certeza de que está tudo bem?

- Vai ficar.

Dirigi para fora de Goiânia, e a Ju me olhava apreensiva, eu sabia que ela estava preocupada com a sua apresentação, mas decidiu não falar nada. Eu não sabia nem como começar a explicar o motivo que me fazia agir dessa forma.

Só de pensar em contar a ela o que aconteceria no final do dia, sentia meu estômago doer.

Ao mesmo tempo que dirigia, pensava se ela me odiaria muito se eu resolvesse não levá-la para Goiânia, a tempo da sua estreia, ou se ela entenderia que eu estava com medo de perdê-la.

Algum tempo depois que dirigia, vi a placa, sinalizando que chegávamos em Pirenópolis. 

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