Capítulo 2

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Rodolffo

Saí do elevador, e parei na porta do meu apartamento, ouvindo um solo de música clássica ecoando pelo cômodo, sabia bem o que isso significava, e tive a certeza quando destranquei a porta e entrei na sala.

Juliette estava dançando ballet, não cansava de admirá-la, ela dançava com tanta graça e delicadeza, que parecia um anjo. Seus cabelos castanhos, longos e ondulados, caíam como cascata em suas costas. Usava um collant rosa claro, e uma saia rosa transpassada, nos pés, as sapatilhas de ponta rosa claro que eu dei de presente, além de polainas brancas nos tornozelos.

Perfeita!

Ela estava tão compenetrada em sua série, que demorou a notar que eu a olhava, com a mesma cara de bobo que fiz da primeira vez que a vi dançar no teatro daqui de Goiânia. Fui flechado naquele dia, e desde então, não consigo imaginar minha vida sem ela.

- Você chegou! – seu rosto se iluminou num sorriso quando me viu, correndo para os meus braços e pulando em meu colo, cruzando suas pernas em minha cintura e seus braços em meu pescoço.

- Ocê tá leve que nem uma pluma. – disse ao sentir seu peso sobre mim, a Juliette sempre foi magra, mas ultimamente estava ainda mais.

Sei que as bailarinas precisavam manter um certo peso, para ficarem mais leves para dançar, e não forçar tantos os pés, mas desde que ela conseguiu o papel principal em o Lago dos Cisnes, eu mal a via comer.

- Ocê tem comido?

- Tenho, amor. Não estou tão magra assim. – ela teimou e eu estreitei meus olhos.

- Cada dia que eu vejo, ocê tá mais magra, além de estar sempre treinando. Sabe bem que não pode forçar tanto, e exigir tanto d'ocê.

- Você vai mesmo ficar brigando comigo? – ela fez bico, e eu tive vontade de morder ela. – Eu tô com saudades.

- Não tô brigando, só me preocupo com cê, linda.

- Eu tô me cuidando, amor. - ela prometeu.

- Quanto tempo ocê tá treinando?

- Umas três horas.

- E ocê já almoçou? – perguntei e ela fez uma cara de culpa. – É assim que ocê tá se cuidando?

- Não gosto de almoçar sozinha.

- Então pronto, eu tô em casa agora, e vamos almoçar juntos, ouviu sua teimosa? – perguntei e ela assentiu sorrindo.

E quando ela sorria assim, rapaz, ela me tirava o ar e acabava com todas os meus argumentos. Ficava completamente perdido ali, naquele sorriso perfeito, que me transmitia tanta paz e segurança.

Ela era o meu abrigo, o pedacinho que faltava para eu ser feliz.

Ainda me lembro perfeitamente da primeira vez que a vi. Nossa produtora ganhou ingressos para a apresentação de ballet de um grupo da Paraíba, que fariam algumas apresentações ao longo da semana.

Minha irmã me infernizou, até que eu aceitei ir com ela. Nunca fui chegado nessa trenhera de música clássica, muito menos apresentações de ballet. Mas Marcos, o noivo da minha irmã, estava fora à trabalho e ela não queria ir sozinha ao teatro, disse que era deprimente ir sozinha.

Depois da sua chantagem, eu finalmente aceitei o convite.

Entramos juntos no teatro, Izabella parecia empolgada, enquanto eu imaginava que em meus olhos deveriam estar escrito "socorro". Não entendia absolutamente nada sobre ballet, e nem tinha muita expectativas sobre como seria.

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