Amparos - Parte 01

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KATARA


Lo e Li também estavam oficialmente de folga e não tinham aparecido para acorda-la ao raiar do sol, porém, como o de costume, ainda despertou em horário semelhante. Mas a verdadeira causa para se forçar a realmente sair da cama naquela ociosa manhã foi o inusitado e delicioso cheiro...

- Bom dia! - Zuko se encontrava sentado à mesa bem servida do dejejum na varanda comum. Tinha um livro na mão, e estava distraído quando ela o cumprimentou.

- Bom dia! – Assim que a ouviu abaixou e pousou o volume de imediato, e, em seguida, lhe abriu um longo sorriso preguiçoso. – Está melhor?

- Melhorando... – Inspirou fundo o aroma de jasmim misturado com biscoitos e bolo doce. A mesa estava impecável.

- Sente-se. – Ele a convidou. - Estava te aguardando para comer.

-Está com uma cara ótima.

- O gosto deve estar ainda melhor. As cozinheiras disseram que caprichariam e mandariam um cardápio para te ajudar... – Zuko deixou o sorriso vacilar brevemente, meio sem graça e um leve rubor começou a lhe tomar. - Nas suas condições, eu digo... Então... Bom, recomendaram em especial o chá de gengibre e disseram para aproveitar os bolinhos de mel...

Ele coçava a cabeça meio sem jeito apontando para os itens à mesa. Era engraçado vê-lo se embaraçando ao tentar lidar com um assunto tão trivial depois de presidir uma semana de julgamentos e condenações marciais... Reprimiu um riso maldoso e não o zombeteou. Aquele gesto era de uma singela gentileza e foi capaz de deixa-la radiante por dentro.

Mas, ainda assim, Katara precisou lutar contra outro de seus ímpetos. A vontade em dizer que ele não precisava ter se dado a todo aquele trabalho, e, muito menos o pedi-lo das cozinheiras, e que ela mesmo conseguia se virar e aliviar as próprias dores com sua dobra... Ao invés disso abriu um sorriso bondoso, se sentou e completou com sinceridade.

- Obrigada Zuko.

Talvez esta fosse a parte mais estranha e improvável de toda a estranheza e improbabilidade que precisou encarar na Nação do Fogo até agora. Ser cuidada. Há muito ser cuidada tinha passado a lhe parecer um luxo, algo sem dúvidas passageiro na vida e que já tinha atingido o limite máximo na sua. Algo que morreu junto com sua mãe.

A verdade era que, a partir daquele tenebroso momento, algo se rompeu e sua infância acabou. Passou a precisar cuidar e não mais ser cuidada. Nunca estar ou se colocar em primeiro lugar... Não ficava pensado muito afundo no assunto, talvez até por uma questão de autoproteção. Pensar não ia mudar o fato, apenas incutir mais dor nele. Mas as palavras de Zuko na noite anterior trouxeram a reflexão à tona e Katara deixou o seu sentimento de carência aflorar pela primeira vez em muito, muito tempo.

Livro 4: O Novo MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora