Train Wreck

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Karoline sente os olhos cheios de lágrimas, mas não diz nada, apenas acomoda sua filha nos braços e a mochila nas costas. Agradece a mulher baixinha e rancorosa e sai do pequeno apartamento, logo estava na rua. Literalmente.

Respirou fundo e encarou o céu, talvez pedindo um novo plano para Deus. Ela já esteve nessa antes.

Olha para os lados, atravessa a rua e entra no pequeno estabelecimento onde ela costumava passar o pouco tempo livre que tinha. O cheiro de gordura e o chão de madeira Karoline jogou se sentou na mesa mais afastada e acomodou Cecília em seu colo. Logo a pequena garotinha estava mamando.

Ela lidou com tudo cedo demais, e sozinha. Uma gravidez indesejada aos quinze anos, ser colocada para fora de casa e ter recebido uma porta na cara quando tentou se comunicar com a família de seu ex namorado de escola.

Abandonou os estudos e passou a trabalhar, pra cuidar da criança e ter um teto pra viver, mas, é ilegal contratar menores de idade para trabalhos regulares, e, principalmente se eles não estudassem.

Karol passou por muita coisa apesar da pouca idade. Aprendeu sobre o quão egoísta o mundo era e que dinheiro não podia comprar felicidade, mas comprava o caminho pra isso e muitas das vezes não era simples luxo.

Enquanto ela alimentava Ceci, com a cabeça encostada na parede e os olhos fechados, as poucas lágrimas escorrendo e o casaco surrado caindo em seus ombros, cinco garotos atravessaram a porta de vidro e fizeram seus pedidos de forma simpática e engraçada. Ela não reparou, mas podia ouvir a bagunça.

No meio dos cinco, Neymar. Ele não conseguia tirar os olhos de Karol e não entendia porque sua mente o pedia tanto que lhe desse atenção. Seu primeiro pensamento era como o da maioria das pessoas. Ela não é jovem demais pra carregar um filho nos braços?"

Sem entender muito bem o que fazia, ele pediu um prato a mais, e ao invés de se juntar aos amigos, se sentou na frente da garota, que agora ajeitava a camisa em seu corpo e deixava que a pequena Cecília dormisse.

Colocou um dos pratos na frente da mais nova, assim como fez com o seu. Karol encarou toda aquela comida e tentou se lembrar da última vez que comeu decentemente

— Posso ficar aqui com você? — O tom simpático e calmo fez com que ela o alcançasse o olhar e o desse um chio confuso como resposta — É pra você, eu não sei exatamente do que gosta, mas frango frito não parece uma má opção pra ninguém.

— Obrigada — Murmura, não se contendo em comer a primeira garfada.

Ela está acostumada a ver mais sinceridade em estranhos do que nos poucos que deveria ter em volta. Acredita que Deus tem formas inesperadas de mandar socorro, e que talvez hoje seu socorro usasse roupas caras e os cabelos bagunçados.

— Você é daqui? — Neymar murmura, apoiando o cotovelo na mesa, o queixo na mão.

— Uhum — Dá de ombros — Você também é?

— Uh, não. — O mais velho murmura, na sensação estranha de vê-la comer como se não pudesse fazer aquilo sempre — Vim do Brasil. Já esteve lá?

— É, acho que sim — Solta o garfo no prato para acomodar novamente a criança que se mexia preguiçosamente — Quando eu era criança, talvez.

Ney ri fraco com aquilo. Karol também se pegou pensando na mesma coisa. Ela ainda era uma criança.

— Hum, me... Desculpa por perguntar, sério. Pode soar rude - O tatuado coloca os cabelos para trás, voltando para a mesma posição de antes — Esse bebê é seu filho? Você está sozinha? — Ela respira fundo. Essa era uma pergunta frequente, e a dificuldade para respondê-la é sempre a mesma.

— É, é sim —  Sorri sem mostrar os dentes —  O nome dela é Cecília. E, bom, eu tenho ela. Não estou sozinha.

Junior ficou com medo de soar indelicado caso fizesse mais perguntas, mesmo que não tivesse apenas curiosidade. Então tentou escolher com cautela as próximas palavras

—  E o seu nome, é...

— Karoline. — Murmura, fazendo-o sorrir com a relação dos nomes. Ele se concentrou no significado daquilo por alguns instantes —  O seu?

— Uh, Neymar Jr. Prazer. — Diz, alguns segundos antes de seus amigos virem na direção da mesa 

— Eu... Não sei porquê, mas — Pausa para puxar o guardanapo e tirar a caneta do bolso — Me liga, se precisar. Se quiser conversar, ou se precisar de alguma coisa. Não hesite, por favor.

Ele deixa o papel embaixo do prato praticamente vazio, junto com o troco que havia recebido quando comprou a comida. Era uma quantia razoável, contando que o preço do local era bom e ele não tinha apenas cem dólares inteiros no bolso.

Não por uma razão específica, porque ele não tinha um conceito financeiro para Karoline. Mas sentiu vontade, então apenas o fez.

Alright | Neymar Jr e Karoline LimaOnde histórias criam vida. Descubra agora