Introdução

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Algumas situações nos pegam de surpresa.

Às vezes são no bom sentido.

Ganhar um concurso aleatório com férias para Cancún que você nem se lembrava de ter se inscrito. Uma vaga de emprego em uma boa empresa que você entregou currículo...

— Oh, Tristan, você vai pagar a próxima rodada, deixa só eu voltar de atender essa ligação! — Elizabeth falou animada pro colega de trabalho enquanto apontava pro próprio celular que vibrava.

Mas... Algumas surpresas são ruins.

Um susto de madrugada, uma torta na cara...

A mulher alta de cabelos pretos saiu pela porta um pouco zonza, e levou alguns segundos até enxergar o botão que deveria apertar para atender a ligação.

— Alô?

— Elizabeth Webber?

— Sim...?

— Nós somos do Hospital Central Santa Marta, e a senhora está nos contatos rápidos de Megan Webber. Sentimos em informar que ela faleceu em um acidente de carro.

Ou uma ligação falando sobre a morte de um ente querido.

— O QUE? Minha irmã... Meu Deus... — Os olhos da mulher de cabelos pretos se encheram d'água. — Eu estou indo agora.

E a ligação foi terminada.

Quando recebemos surpresas ruins, podemos fazer muitas coisas, reagir de diversas maneiras. Alguns congelam, outros se desesperam, outros ficam agressivos...

Mas não Elizabeth Webber.

Quando entrou naquele bar novamente, sua expressão era outra. A mulher tonta, levemente embebedada e sorridente que saiu, havia ficado lá fora. Agora era a Elizabeth séria, racional e sóbria.

— Me leva no Hospital Central Santa Marta. Agora. — falou séria empurrando a chave do carro no peito de Tristan, e antes que ele pudesse reclamar, viu algo que não via muito nos olhos da colega há muito tempo. Desespero contido. Lágrimas impedidas de escorrer. — Por favor. — pediu sofrida e com os lábios tremendo.

Tristan apenas retirou certa quantidade de dinheiro do bolso, deixando sobre o balcão do bar e pegou a chave, acompanhando a amiga até o lado de fora.

O percurso até o hospital foi tranquilo, mas rodeado por um silêncio constrangedor e definitivamente desconfortável. O rapaz de cabelos médios jamais ousaria perguntar algo, sabia como a amiga era fechada, então apenas esperou que ela falasse.

Quando chegaram ao hospital, a mulher mal esperou que o carro estivesse parado para abrir a porta e entrar pela ala de emergência, procurando por Megan Webber.

Elizabeth foi levada ao local em que o corpo de sua irmã mais nova repousava. Ao tocar o rosto da irmã, permitiu finalmente que algumas lágrimas caíssem. Era sua irmã ali, tão serena. Webber se ajoelhou ao lado da maca, em um sinal de fraqueza. Perdeu sua base. A única que tinha restado.

Tudo parecia estar sem sentido naquele momento. Sua irmãzinha, sempre tão cheia de vida, tão saltitante, sempre criando um oposto com o comportamento sisudo da mais velha... Parecia que, vendo aquilo ali, toda a felicidade tinha partido junto com a moça jovem que era tão parecida consigo.

Mas, às vezes, nem toda surpresa negativa é absolutamente ruim.

— Senhorita Elizabeth?

Às vezes nos deparamos com uma oportunidade de descobrir algo novo. Algo que sem essa surpresa, talvez jamais tivéssemos a oportunidade de experimentar.

Vizinhos da Má Sorte [Lizago]Onde histórias criam vida. Descubra agora