Capítulo 3: Prendedores de papel

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— Preciso que vocês escutem o pai direito, tá? — Thiago falou calmo. — Eu preciso trabalhar, e a aula de vocês só começa amanhã... Conseguem cooperar comigo e ficarem bem bonitinhos comportados?

— É claro, papai! Eu e meu irmãozinho vamos nos comportar! Vamos só ali conhecer onde você trabalha! Boa sorte nesse negócio aí que o senhor vai fazer — César sorriu e agarrou o pescoço do irmão com o braço, o levando para o lado de fora da sala de Thiago, que respirou fundo, esperando que depois de alguns segundos, um alerta de incêndio se iniciaria.

Entretanto, decidiu confiar nos filhos. Ligou o computador e analisou o tema proposto por seu chefe para seu primeiro artigo da revista. Era sobre a busca constante do amor perfeito. Thiago deu uma risada cansada. Como poderia falar sobre um assunto que parecia ter tanto azar, como o amor?

Perdeu suas duas últimas ex-esposas e quase perdeu seu filho mais novo, Arthur. Amava ambas, mas não pôde ter uma vida muito longa com elas. O destino, às vezes, não considera quem é deixado para trás, mas tudo há uma razão. Pelo menos era o que dizia para si mesmo quando se via entristecido aos sábados à noite, por estar sozinho.

O amor mais real que sentia naquele momento era o paterno. Amava seus dois filhos como um louco e seria capaz de matar e morrer por seus meninos. Ficar ao lado deles era um momento de paz genuína, independentemente da quantidade de barulho que aquelas duas crianças conseguiam reproduzir.

Thiago abriu sua pequena agenda de anotações e escreveu algumas coisas em uma folha em branco, com sua letra rabiscada.

"- Amor de verdade existe?

- Como achar o amor ideal?

- Tudo é perfeito no amor?

- Onde fica a barriga de grávida de uma centauro?

- Por que mercado 24 horas tem tranca?

- Onde ficam os quatro cantos da terra se ela é redonda? Vivemos num cubo de minecraft?

- Por que a Turma da Mônica usa sapato cor de pele e o Cebolinha usa sapato marrom?

- Onde estão minhas duas criaturinhas bagunceiras?"

Jogou a caneta sobre a mesa e respirou fundo, afastando sua cadeira de rodinhas e se levantando. Encarou o escritório ao seu redor. Não era nada muito grande, mas estava arrumado. Algumas prateleiras com livros, um sofá bordô, um tapete felpudo, e uma mesa. Simples, mas era o suficiente.

Saiu pela porta do seu escritório e começou a procurar pelos meninos de seis e oito anos.

— Licença, você viu dois garotos pequenos andando por aqui? — Thiago perguntou para a secretária que parecia entediada, mas corrigiu a postura quando viu o homem.

— Ah! Vi sim. Eles entraram naquela porta e não saíram... — A mulher apontou.

O homem agradeceu e foi na direção da porta que a mulher apontou. Quando abriu a porta, teve que rir para não chorar.

César e Arthur tinham vários prendedores de papel coloridos nos cabelos, e enquanto Arthur estava ocupado em desenhar num papel com pincéis de quadro, César estava fazendo pequenas bolinhas de papel e tinha um canudo em mãos.

— Posso saber o que os mocinhos estão fazendo? — Thiago perguntou.

— Eu não tô fazendo uma arma mortal — César se defendeu escondendo os objetos e segurando o irmão atrás de si — E meu irmão não tá fazendo um plano maléfico pra destruir seu trabalho e deixar você só com a gente pra sempre.

— Ah, entendi... Mas não é injusto? Vocês podem ir para a escola, fazer amigos, e eu não posso ter um trabalho e fazer colegas também? — Thiago perguntou.

Vizinhos da Má Sorte [Lizago]Onde histórias criam vida. Descubra agora