XVI - Pensando

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Notas: curtinho, porém mais pontual.

— Ei! Alguém aí? — Ruggie chamou, batendo na porta

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— Ei! Alguém aí? — Ruggie chamou, batendo na porta.

Ruggie havia sido trancado para o lado de fora da varanda. Quando acordou, resolveu observar o nascer do sol. Sempre teve o costume de acordar cedo, mas foi a primeira vez que teve a oportunidade de assistir a tal evento do palácio que encarou por quase dois anos pela janela de sua humilde residência.

Sempre escutou a história que os leões contavam na sua terra natal, que o reino se estendia até onde o sol tocava, consequentemente, o local das sombras não fazia parte daquilo…

O lugar escuro. As favelas.

Parecia uma ironia tremenda estar ali agora, de frente para o sol, diante da claridade.

Talvez aproveitar o luxo que o local estava lhe proporcionando seria o certo antes de descobrirem a verdade (ou seria se descobrirem a verdade?).

Ruggie dormiu igual pedra apesar dos inúmeros questionamentos que sobrevoaram a sua cabeça na noite anterior. Afinal, ele estava ali por Yuu mesmo? Ou era só a parte egoísta do seu cérebro querendo usar a oportunidade de viver no luxo, nem que fosse por um instante?

E, se fosse pela princesa, realmente foi uma boa ideia se passar por outra pessoa e começar uma interação do zero? O grão vizir falou que por conta de sua ficha criminal, jamais poderia se aproximar dela outra vez. Mas afinal, por que ele iria querer se aproximar dela de novo? Por que uma conversa de uma noite foi tocante? Ou foi por uma ganância oculta depois que descobriu que ela era uma princesa?

Depois de ignorar tudo e se guiar pelo instinto pela primeira vez, sua mente trouxe à tona tudo o que havia ignorado e só conseguia se perguntar o por que de tal decisão.

E, enquanto estava imerso em seus pensamentos e na paisagem, não percebeu o clique da tranca da porta atrás de si. Tinha uma probabilidade grande de ter sido um empregado que ao ver o quarto vazio resolveu fechar a porta aberta, afinal ricos eram descuidados por natureza e, já que tinha quem tomasse cuidado por eles, não se preocupavam com o básico como fechar janelas e trancar portas.

Mas como ninguém me viu aqui?! pensou ele indignado.

O que levava a outra possibilidade que o assustou mais: alguém o trancou ali de propósito. E não era preciso mais de um neurônio para saber quem o queria fora do caminho.

Ruggie bufou irritado. Passou a mão pelos cabelos e olhava para os lados em busca de alguma coisa que pudesse fazer para sair dali.

Ao lado de sua varanda havia outra, ao lado daquela, outra e assim por diante. Ruggie observou-as por um tempo, tentando calcular o espaço entre elas (que não era pouco, vale ressaltar). O telhado também não estava tão perto do encosto da varanda (ricos e sua mania sem sentido de tetos longe do chão). Assim, resolveu testar a sorte…

O rapaz pulou sobre o encosto, agachou-se para o impulso e pulou de uma varanda para a outra. Ele, por um triz, não caiu. Por sorte agarrou um dos pilares de sustentação do encostou antes de cair totalmente. 

Então Ruggie Bucchi encontrava-se pendurado em uma varanda do palácio porque havia sido trancado para fora do seu próprio quarto, que aconteceu por consequência da sua atuação de fingir ser um príncipe, que por sua vez só aconteceu porque encontrou um robô em um bunker a mando do grão vizir para não ser acusado de sequestrar a princesa, que tinha fugido voluntariamente do palácio e ironicamente se hospedado na sua casa.

Cara, ele tinha tanto para contar para sua avó na próxima carta.

Balançando as pernas freneticamente penduradas e usando a força restantes nos braços para conseguir se puxar para cima. Passou as pernas por cima do encosto e finalmente colocou os pés no chão sólido e seguro. Foi em direção as portas daquela varanda e descobriu que também estavam trancadas.

Só pode ser brincadeira, pensou Ruggie.

Ortho não ficou no quarto ao seu lado? Ele supostamente não era para estar ali?

Frustrado, Ruggie estava se preparando para pular para a próxima varanda, quando viu que tinha um grande vaso com uma planta (e ironicamente, o rapaz sabia o nome, uma Pata-de-Elefante, parecida com a que tinha em sua terra natal).

Ele arriscou a sorte e colocou o vaso pesado no encosto da varanda e encostando na parede. Ruggie subiu em ambos e pulou para alcançar o telhado.

Com seus pés sobre o telhado, ele podia se mover com facilidade, já que o terreno não lhe era estranho.

Isso me traz lembranças…

Movendo-se sobre as telhas, ele chegava perto das varandas e via se tinha algum sinal que as portas estivessem abertas, ou se pelo menos se havia uma movimentação lá dentro. Aquele lugar tinha inúmeros quartos, Ruggie se perguntava se eles sequer eram usados.

Indo de um canto para o outro, conseguiu o vislumbre de uma cortina sendo movimentada pelo vento para o lado de fora de um dos quartos.

— Finalmente — resmungou ele enquanto descia.

Sua chegada não seria chamada de discreta, Ruggie pulou do teto direto no chão e o barulho do baque poderia ser facilmente um osso rompendo. Por sorte, estava familiarizado a quedas.

Ele botou o pescoço para dentro e olhou para os lados antes de adentrar.

— Oi? Alguém? — chamou ele enquanto caminhava pelo quarto. — Não quero invadir nem nada, só fiquei preso do lado de fora e…

O rapaz parou a frase quando viu que o cômodo estava vazio. A cama estava bem arrumada, ela é grande como a que tinha no quarto de hóspedes, porém com muito mais almofadas, sendo este o único sinal qua algo ali em cima foi mexido, pois os cobertores e lençol estavam perfeitamente esticados e alinhados.

Perto da parede da cama, estavam nichos com plantas variadas em vasos de barro pintados de branco, assim como plantas penduradas no teto e mapas pretos distribuídos como se fossem pôsteres. Sem contar a estante cheia de livros, pequenas decorações diversas e algumas velas.

Sua avó amaria este quarto, assim como uma boa senhora de idade, ela é uma expecialista em plantas e chás caseiros (Ruggie ainda se pergunta como ela ainda não encontrou a cura do câncer com babosa, gengibre e folha de louro).

Com isso em mente, ele lembrou de Ortho. Será que sua missão teve êxito? Não teve nem vislumbre dele a manhã inteira.

Olhando ainda ao redor, um grande tapete bege estampado cobria boa parte do quarto, incluía a cama, contudo parava perto da escrivaninha. Tinha alguns livros abertos ali bem como cadernos e a curiosidade o chamou.

Acima da escrivaninha, estavam estantes marrons detalhadas em preto com mais livros. Abertos em sua frente, estavam dois livros com línguas desconhecidas por Ruggie e um terceiro sobre a história de Scarabia.

Pôde reconhecer o título de um ou outro, ele não era um leitor ávido, porém conhecia alguns clássicos por ali.

Ele sacudiu a cabeça, já havia bisbilhotado demais, o objetivo dele era entrar e já conseguiu, estava na hora de ir embora antes que o dono do quarto chegasse.

Quando dirigia-se à porta de saída, Ruggie percebeu a porta do closet aberta, a primeira coisa notou foi uma roupa que já viu antes pendurada em frente ao espelho.

Droga, esse quarto é…

A segunda foi o vulto que surgiu no reflexo ao seu lado. Ruggie virou rapidamente, dando tempo apenas de sentir algo que pressionava seu pescoço, o que supunha ser uma adaga. E enquanto seu medo o dominava, uma voz baixa perguntou a ele:

O que está fazendo aqui?

Dente-de-leão na AreiaOnde histórias criam vida. Descubra agora