Ruggie sempre sonhou em ser rico, ter o que quisesse, quando quisesse, sem precisar ter a constante tensão da luta para sobrevivência. O cotidiano torna-se ainda mais atribulado por ser um estrangeiro vindo da savana para o reino "banhado" pelo imen...
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A noite de Scarabia sempre foi caótica. Em meio ao povo, por entre as barracas, trânsito e trabalho, havia uma necessidade incontrolável de se manter ativa apesar de escurecer. Como se todo o sol que teve no dia não fosse o suficiente para cansar a população.
E Ruggie estava percebendo que a energia noturna se estendia até ao palácio.
Em meio a todos os sentimentos e pensamentos conflitantes que sobrevoavam a sua cabeça, havia a mistura da música, cheiro de comida e conversas paralelas.
Uma festa. Da realeza.
Ruggie não podia estar mais perdido.
Ele, novamente com suas vestes brancas impecáveis, andava lentamente ao redor da festa, longe do centro de toda comoção. Não sabendo ao certo como se portar ou reagir perante tudo aquilo.
Os empregados fizeram um trabalho impecável. As cores vívidas e iluminação da brasa nas pilastras conseguiam a harmonia no céu noturno.
— Onde eles arrumaram tanta gente em tão pouco tempo? — questionou Ruggie.
— As pessoas não negam uma festa, senhor — respondeu Ortho, que caminhava ao seu lado.
Ruggie avistou Yuu em um canto com seus dois amigos e sentiu um embrulho no estômago. Ele sabe o que prometeu, mas não queria encarar isso tão cedo.
— O senhor ainda pode voltar atrás — Ortho falou esperançosamente. — A princesa vai entender. Ainda há tempo...
— Eu tomei minha decisão.
Ortho ficou visivelmente cabisbaixo com a resposta, mas concordou com a cabeça. Enquanto Ruggie... ficou parado tentando criar coragem e ir falar com a moça.
Ela falava de maneira empolgada (à sua maneira) com os dois rapazes que estavam hospedados aqui. Yuu é contida em suas reações, por isso, nunca vai falar alto ou gesticular exageradamente. Porém, Ruggie notou a felicidade genuína estampada em seus olhos, no seu sorriso fechado e marcado.
Não só isso, Yuu, além de deslumbrante no semblante, também estava na aparência. Sua maquiagem estava mais escura nos olhos, o que ressalta suas orbes vermelhas ainda mais. Estava adornada com um conjunto azul esverdeado com a liga da cintura e desenhos em linha reta dourados pelo corpo. Porém, apesar de toda elegância e imponência de sua roupa, não era a peça em si que chamava a atenção.
Tinha um tecido, algo parecido com uma capa, que se estendia nas suas costas e as quais as pontas estavam presas em seus pulsos. Então, a cada movimento, a estampa ficava visível.
Penas de pavão.
Uma ave frontosa, que em silêncio, apenas pelas suas cores, encanta, vibra, reluz e chama a atenção daqueles que estão perto. Que, quando se expõe, chega a ser magnético o encanto, quase impossível de desviar o olhar.
Assim como a pessoa que a veste.
Ruggie estava tão vidrado em seus pensamentos que não percebeu que se aproximou consideravelmente daquela que estava fixamente encarando. Ao ponto de ser capaz de cortar o assunto que ela estava falando com seus amigos e obrigá-la a encará-lo.
Sua expressão endureceu consideravelmente depois de notar a presença de Ruggie.
— Príncipe Rui, é um prazer reencontrá-lo — disse Yuu em um tom que indicava que NÃO era um prazer reencontrá-lo.
O rapaz a princípio não entendeu bem o que aconteceu, ele virou para olhar sobre suas costas e viu que Ortho permaneceu no local onde estava e sorriu para Ruggie. O falso príncipe sentiu uma onda, quase magnética, o empurrar para frente.
Aquele infeliz! Pensou Ruggie.
— Ah... você gostaria de... dançar? — arriscou Ruggie achando que era a coisa certa a dizer.
— Eu agradeço o convite, mas as próximas músicas eu prometi que dançaria com Ace e Deuce — ela indicou os dois rapazes uniformizados a sua frente.
— Imagina! Quem somos nós para atrapalhar alguma coisa? — interferiu o rapaz ruivo — Fique à vontade para dançar com seus convidados, estamos aqui a trabalho, pode ir!
O sorriso com que ele falou tais palavras chegava a ser ofuscante.
— Mas eu treinei tanto para... — o moreno tentou falar.
— Ora, Deuce, não seja estraga prazeres! — cortou o ruivo novamente — Afinal, é o pretendente dela, não é?
A expressão de provocação estampada na face fez Yuu arregalar os olhos. Mas, aquele que aparentemente se chamava Ace, a empurrou pelas costas.
— Olha, a música até começou! Vai! Vai!
Ela praticamente gritou mentamente a mesma coisa que Ruggie havia pensado para Ortho a poucos segundos. Porém, antes de a largar por completo, Ruggie pôde escutar ele cochichar algo no ouvido dela.
— Vin-gan-ça.
[...]
Aquele infeliz! Amaldiçoou Yuu em pensamento.
Ela treinou tanto com Deuce, ele tinha quase pegado o jeito. Ele e Ace alternariam com ela no meio da música para evitar erros. Claro que ela gostaria de esclarecer tudo com Rui, mas esse era um momento com seus amigos!
Yuu teria uma longa conversa com Riddle antes de eles voltarem.
Yuu respirou fundo perguntou calmamente:
— Antes de tudo, essa é uma dança típica de Scarabia, você por acaso sabe como ela é?
[...]
O sangue dele gelou por um momento. Se ele sabia dançar?
Bom, Ruggie viu muito das apresentações de rua, até arriscou ser ensinado por um dos dançarinos que observou, mas dança de baile? Com outra pessoa?
Ele fez o convite a Yuu porque é a pergunta que parece apropriada para uma festa, ele não achou que seria algo diferente de uma valsa com dois passos para lá e um para cá. Agora isso?
Ruggie deu uma olhada rápida para Ortho que ergueu os polegares a distância em incentivo.
— É só mostrar o caminho. — Ruggie respondeu, transmitindo a confiança que na verdade ele não tinha
