Amor proibido

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Rayssa

As semanas passaram voando e quando eu fui ver a gente já estava entrando em abril e em um pulo completei três meses de gravidez. Mas eu amo abril porque é meu mês e eu finalmente completo meus 19 aninhos.

Aqui em casa eu faço aniversário em abril, Rafaela faz aniversário em abril e minha vó também faz aniversário em abril, tudo em dias perto. Eu faço dia 25, Rafaela dia 8, que no caso é amanhã e minha vó dia 21. Aqui em casa tá uma loucura porque como sempre minha mãe faz questão de organizar os aniversários da garota ela mesma, ela que cuida da decoração, da arrumação, das lembrancinhas que ela pode fazer as artes pela internet. E não é nem por falta de dinheiro, porque graças a Deus isso é o que não falta, diz ela que é muito gratificante saber que ela mesma que fez tudo e deixou a cara da Rafaela.

Eu? Já falei que em todas as festas que eu fizer dessa criança não vou colocar a mão em nada, vou mandar fazerem tudo! Olha pra minha cara e vê se vou ficar até 1 hora da manhã enrolando docinho igual minha mãe me fez enrolar? Duvido hein, no chá revelacao eu já falei que não vou colocar a mão em nada, só quero chegar na festa e já está tudo pronto.

Eu e Tito chegamos a conclusão de que vamos fazer o chá revelação do baby, chegamos não né, eu quem decido, já que o bonito não queria no começo e disse que era desnecessário e um desperdício de dinheiro, velho pão duro do cacete. Mas aí eu enchi o saco dele também, disse que ia fazer sozinha se ele não quisesse e que não iria deixar ele nem colocar os pés no lugar. Aí ele voltou atrás né? Agora já tá até mais animado, me manda várias ideias que ele tira print no Instagram, eu rio sozinha com minha mãe, mas fico feliz que ele participe de cada momento do neném mesmo ele ainda estando na barriga.

Agora que ele voltou a falar com meu pai de novo, fica os dois me enchendo a paciência o tempo do todo. "Aí que você não pode comer isso" "Rayssa Tito sabe que você tá saindo desse jeito? "Vou falar pro Tito que tu só tá comendo besteira" "Aí que vou falar pro teu pai que você tá me tratando com grosseria" Um inferno total cara, eu preferia mil vezes quando eles estavam de bode um com o outro, era bem melhor.

Aí, às vezes eu não aguento, ainda bem que tenho minha mãe que me entende e me defende, porque agora meu pai só quer saber de contar tudo que eu faço pro Tito, aff, um saco. Até ficar me gravando fazendo as coisas pra mandar pro outro ele grava, muito chato cara, puta que pariu.

Pego minha bolsinha preta de lado e a bolsa com minha carteirinha de gestante, coloco em cima da penteadeira pra não esquecer, hoje eu tenho mais uma consulta e infelizmente não vai ter como o
Tito ir. Ele teve que ir em uma missão fora da favela, parece que o tal Farias deu finalmente as caras e atacou algum galpão dele em Niterói, aí ele foi até lá de madrugada com meu pai. Eu fiquei com o peito pequenininho de ter que ver ele ir, mas o que posso fazer? Me envolvi com ele sabendo a vida que ele levava, e por mais que agora não estejamos mais juntos, vamos ter um filho né.

Falando em filho nunca mais vi Lorena pela rua, desde que anunciaram minha gravidez que ela sumiu, não deu mais as caras, até estranhei no começo, mas Tito disse que ela tava passando por uma fase difícil depois que perdeu o Kaique, minha vó tava até indo lá ficar com elas vezes porque ela queria até se matar, tadinha. Muito triste a situação que ela passou, eu não me imagino passando por isso, tá doido, não aguentaria perder meu bebê não.

Por mais que no começo eu tivesse rejeitado ele por medo me arrependo muito por isso, amo demais esse bebê e mesmo com poucos meses já construi uma vez relação com ele. Converso com minha barriga todos os dias, e fico acompanhando cada evolução, por mais que minha barriga não tenha volume nenhum, eu amo acompanhar tudo mesmo com pouco tempo.

Ouço meu celular tocar em cima da cama e viro pra trás na cadeira pra ver se consigo ver quem é, porque dependendo de quem for não vou nem perder meu tempo atendendo. Vejo que é um número desconhecido e reviro os olhos, a Tim não cansa não? Eu tô cansada de eles me ligando todos os dias pra oferecer plano, Jesus, não aguento mais e ignoro todas as vezes. Volto a pranchar meu cabelo na maior santa paz porque justo hoje eu inventei de pranchar essa merda e o celular ainda toca mais umas 10 vezes, ignoro todas. Quando termino de pranchar meu cabelo umas meia hora depois eu pego meu celular e vejo o tanto de chamada, xingo mentalmente e vou ao que interessa, mandei uma mensagem pro Roger mais cedo mas o cretino não me respondeu.

Chamei ele pra ir na consulta comigo mas já fez dias que ele nem entra no Whatsapp, e eu nem sei porque, aposto que foi dar como sempre e esqueceu até que celular existe. Desde da minha conversa com ele que ele sumiu, e eu até estranhei no começo, não esqueci do que Lorena fez, só não cobrei e nem contei nada pro Tito por conta do Kaique, decido deixar esse assunto pra lá porque a mulher tá passando por um momento difícil. O problema é que tem alguma coisa deixando passar, não consigo me lembrar de tudo que Roger me falou porque tudo aconteceu tão rápido, gravidez, meu pai e Tito, morte do Kaique, sinto que tem alguma ponta solta que não lembro.

Camile também foi outra que sumiu, não deu mais as caras e fiquei sabendo que ela foi pra casa da mãe dela, também depois do que ela e Lorena planejaram, mas eu liguei sabe? Por um lado foi bom que tudo aconteceu e meu pai descobriu de uma vez.

Guardo o celular na bolsa e saio do quarto ajeitando meu cropped ciganinha, encontro minha mãe no meio da sala colocando o brinco, sua testa franzida e ela faz uma careta encarando o nada.

Rayssa: Que foi?- Chego do nada e minha mãe pula de susto, levando a mão ao peito.- Oxi

Andressa: Aí garota não chega assim do nada, quer me matar de susto?- Fala me encarando com os olhos arreglados.- Não é nada demais, é só que... deixa pra lá, coisa minha. Vamos ver esse bebê de vovó?

Rayssa: Por favor, tô doída pra ouvir o coração dele de novo.- Falo animada batendo palmilhas e minha mãe ri da minha empolgação.

Andressa: Depois da consulta a gente vai naquela loja de festas que te falei, aquela do Facebook, quero comprar a fantasia da Tiana que eu vi lá, tô nem aí que custa 300 reais só o vestido, vou levar sim!- Solto uma risadinha e vou seguindo ela, a gente decide ir no carro dela, já que a mamãe é motorizada e habilitada.

A gente chega no postinho rapidinho e diferente da outra vez eu fui atendida bem rápida, o doutor Luciano quando viu que eu estava sem o Tito ficou até mais leve. Brincou comigo e com minha mãe, a consulta foi super leve e divertida, bem diferente da outra vez. Quando acabou a gente voltou pro carro e minha mãe seguiu rumo a tal loja, já que a doída estava determinada a comprar a tal fantasia da Tiana.

Graças a Deus ocorreu tudo bem na consulta e o médico disse que meu bebê está muito bem, que minha gravidez está saudável como deve ser e que estou no meu peso ideal, fiquei muito feliz com a notícia, já que eu estar abaixo do peso no começo foi uma das minhas grandes motivações para me alimentar direitinho e tomar as vitaminas. Fiquei muito preocupada de estar prejudicando o bebê por conta da minha irresponsabilidade de não me alimentar corretamente. Mas graças ao senhor Jesus está tudo bem.

A gente chega na tal loja depois de uns 15 minutos e eu decidi que iria ficar no carro, estava muito cansada e sei que minha mãe ainda me faria andar muito, então optei por ficar no conforto que é o Corolla branco da minha mãe. Fico mexendo no celular até que ouço uma batida no carro, vejo que é um daqueles meninos que param vender bala e pego as moedas que minha mãe sempre deixa no porta copos. Compro um saquinho de balas de iogurte e como tudo de uma vez, mas me arrependo amargamente quando não bate bem no estômago, sinto uma vontade enorme de vomitar e procuro alguma coisa no carro que posso usar.

Não encontro então tenho a brilhante ideia de sair do carro e procurar uma lixeira, encontro um beco próximo ao carro da minha mãe e corro até lá. Boto tudo pra fora que comi no café da manhã e limpo minha boca, olha para os lados pra ver se alguém me viu mas sem nem sinal de ninguém, como a loja é uma parte mais afastada de Alcântara não tem quase movimento nenhum pra esses lados por conta dos assaltos.

Só a doída da minha mãe mesmo que não tem medo de vir pra cá, é por esse motivo que penso em voltar rapidinho para o carro e ficar esperando ela lá, mas quando estou saindo do beco sou surpreendia quando uma espécie de pano tampa a minha boca e meu nariz, cotando minha respiração, arregalo os olhos e tento me soltar.

Sinto meu corpo ser tombado para trás e apoiado em um peitoral firme que me segura firmemente, me debato tentando me soltar e falho miseramente. Tento buscar por ar mas não consigo, é quando eu sinto minha visão começar a ficar turva e meus olhos se fecharem. A última coisa que vejo antes de apagar é um rosto mascarado.

Eita, eita