Cap. 14 - O Adeus.

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Marília se dirigiu ao quarto de hóspedes, muito irritada, e com extrema razão. Em sua cabeça, rodava como ele estava se tornando esta pessoa que tanto Zaida lutou para que ele fosse. Como?

Murilo tinha mudado muito em apenas quatro semanas, e ela não fazia ideia.

Na verdade Marília não fazia ideia que toda a preocupação que ele tinha, de todo o afastamento, era na verdade inseguranças, eram por conta de Zaida.

***

- Você não está cogitando aceitar esta ideia absurda de pedir para Maraisa doar os óvulos para vocês, né Murilo? - Zaida perguntou quando o filho disse a mãe sua ideia e de Marília, antes de realmente iniciarem o processo.

- Mas por que não mamãe? Se foi detectado que o problema é comigo, precisamos dessa ajuda! - Murilo argumentou, deixando os talheres banhados a prata caírem ao lado do seu prato.

- Como, por que não Murilo? Não está claro que sua amiguinha é uma incompetente médica e não sabe de absolutamente nada?! Você não tem uma vírgula de problema meu filho, você é perfeito! - ela limpou o canto dos lábios com o guardanapo de seda. Do outro lado da mesa, Raul se lamentava sem dizer uma palavra.

-Não fale assim de Maraisa, amor, ela é uma boa garota, e além do mais ela é a médica de Marília, foi Henrique quem atendeu a nosso filho. - Raul decidiu intervir, pois sempre gostou muito de Maraisa.

- Ugh! Mas é claro, viu só filho? Quem é este Henrique? Pode ser qualquer um! Maraisa pode simplesmente estar acobertando os problemas de Marília, eu já cansei de lhe dizer que essas duas ainda mantêm um caso!

- Oh por favor mamãe! Por que insiste nisso? O que ambas tiveram foi apenas na adolescência, Marília e Maraisa me asseguram disso sempre, minha esposa me ama e eu a confio! - ele começou a se alterar.

- Não erga esta voz para mim rapazinho! - Zaida tomou o líquido vermelho nos lábios. - Murilo meu amor, não podemos confiar nem na nossa própria sombra. - ela sorriu. - Eu já lhe disse para sair com Hailee, ela é fértil, e gosta de você, tem um sangue bom e não negaria em entregar-nos a criança assim que nascesse, e poderíamos dizer para Marília que a encontramos e você ficou com ela.

- Não acho isso uma boa idéia... - Tentou argumentar Raul.

- Quieto! - Zaida respirou fundo.- Murilo meu bem, meu filho amado, meu poderoso e único filho, minha jóia rara. - Zaida se levantou da mesa, se sentando ao lado do filho, levou suas mãos ate seus cabelos negros e acariciou com delicadeza, era um encanto, uma chantagem e abordagem que ela usava sempre para conseguir as coisas dele. - Marília te trai com a sua melhor amiga, se vocês tiverem um filho, Marília pode fugir com ela e nos deixar sem a gloriosa criança, ela nunca foi mulher pra você meu querubim, você já cansou de reclamar ao seu pai que ela não se entrega a você na cama... - ela resmungou , Murilo sentia seu coração apertar. - Veja meu querido, se apegue a Hailee, e sua queridinha esposa nunca saberá...

***

Desde aquele dia, aquele jantar, Murilo se sentiu mais preso, permanecia mais de olho em Maraisa que em sua própria vida, ele não ia mais pedir a ajuda de Maraisa, mas não aguentava ver Marília sofrer.

Ele a amava, apesar das merdas que ouvia diariamente de sua mãe, Murilo então pediu a ajuda da amiga, mas não contou à mãe esse detalhe. Zaida não sabia que Marília estava grávida, Murilo tinha medo de contar, ela continuava colocando o filho em um pedestal.

Mas o moreno passou a ter encontros casuais frequentes com Hailee na casa de sua mãe, ele passou a ter uma amizade íntima com ela, intima até demais.

O que os olhos não vêem, o coração não sente.

Naquela madrugada Marília chorou como um bebê, agarrada nos travesseiros da grande cama, e no outro quarto o moreno pensava mais umas vezes nas palavras de sua mãe.

Marília o traía com Maraisa? Se sim, ele não deveria se sentir culpado pelo que aconteceu no hotel.

Marília fugiria com Maraisa e o bebê quando tivesse oportunidade? Se sim, ele deveria continuar pondo o plano da mãe em prática.

Marília o amava? Se sim, por que ela estava daquela maneira? Ele não era um bom esposo?

Logo que a manhã daquele dia chegou, Murilo preparou o café e não foi trabalhar, acordou Marília com beijos e pedidos de desculpas, por mais que ele ainda se sentisse sujo e traído, ele permaneceu com ela.

Ela o amava, ou achava que ele era o amor da sua vida, por mais que o casamento estivesse em destroços, ela ainda sentia amor por ele, e o perdoou.

A semana passou com os dois juntos, pela primeira vez em um mês, Murilo tocou sua barriga, perguntou sobre o seu dia, e se ela estava bem. Mas duas vezes naquela mesma semana ele saiu para casa da sua mãe às pressas às nove da noite, e Marília nem via a hora que ele voltava, pelo menos era o que ela pensava, que ele estava com a mãe.

E então o sábado chegou, o dia da viagem, o dia do adeus.

Marília acordou com uma sensação de vazio dentro do seu corpo, pegou o teste de gravidez que comprovava seis semanas completas naquele dia, e colocou chorando dentro da mala preta, escondida em algum local.

As lágrimas corriam por seus olhos, ela estava triste, e não sabia o porque, ele apenas estava viajando para dar uma vida melhor a ela e ao bebê, ela não entendia.

Raul dirigia o carro em silêncio até o aeroporto, enquanto a esposa ao lado retocava a make em cada detalhe, Marília estava chorando abraçada ao corpo do esposo no banco de trás, Murilo sentia que estava fazendo algo errado, mas sua mãe insistia que era o certo, que nesse tempo o casal pensaria e quando ele voltasse as coisas estariam bem.

Quarenta minutos depois o carro parou, os quatro saíram do veículo e Raul pegou as duas malas do filho. Caminharam juntos até o portão de embarque.

- Hey, amigo. - Maraisa e Henrique apareceram sorrindo para o moreno.

- Hey, que bom que vieram. - ele suspirou abraçando o corpo de Henrique casualmente, e em seguida o de Maraisa com força.

- Eu vim pra ter certeza que você vai se cuidar rapaz. - Henrique riu fazendo todos sorrirem, menos Zaida, que revirava os olhos sem parar.

- Eu vou me cuidar sim, pode deixar. - Murilo disse sem muito ter certeza do que dizia.

Última chamada para o embarque do vôo 329 para Argentina.

Murilo suspirou pesado, indo até o pai, Raul tinha os olhos cheios de lágrimas e abraçou o filho com força.

- Se cuida filhote, eu te amo muito. - Raul murmurou com a voz fraca no ouvido do filho.

- Eu também te amo muito pai. - Murilo beijou a testa do mais velho e depois sorriu, se virou para a mãe que sorria com os braços cruzados. - Até logo minha rainha. - ele se jogou nos braços da mãe que demorou um pouco mais se rendeu ao filho, o abraçando com força, suspirou.

- Se cuida meu querubim. - Murilo assentiu olhando pra Henrique, ele riu e acenou com a cabeça.

- Já sabe, né?

- Sei sim. - Os dois riram e em seguida ele se virou para Maraisa, voltando a apertá-la com força. - Cuide dos dois para mim caso algo aconteça, por favor. - ele sussurrou baixo.

- Pare de dizer isso cara, você vai voltar pra eles. - Maraisa sentia as lágrimas rolarem por sua bochecha.

- Eu não sei Maraisa, apenas prometa. - insistiu ainda no abraço.

- Tudo bem, eu prometo que cuido.- ela respirou fundo. - Te amo cara, você é meu melhor amigo. - ele a soltou e olhou em seus olhos.

- Te amo sapatão. - os dois riram, Murilo finalmente foi de encontro a Marília, ela desesperadamente se jogou em seus braços e começou a chorar forte. - Não chora por favor...

- Não vá... Estou com medo. - ela apertou o corpo dele contra o dela, chorando mais ainda.

- Vai ficar tudo bem amor, logo eu vou estar aqui com você e o nosso filho. - Murilo se referiu ao bebê pela primeira vez como homem.

- Mas como sabe que vai ser menino?

- Apenas sinto. - ele riu selando os lábios dela. - Eu te amo, adeus amor.

Murilo deixou Marília chorando e teve que ir correndo para o avião.

- Adeus Amor... - ela sussurrou apertando a barriga.

Um caminho para o destino | Malila Adapt.Onde histórias criam vida. Descubra agora