Cap. 1 - O Drama

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Pov Narrador.

Marília estava sentada naquela sala gelada de consultório ao lado de seus familiares. Ela havia perdido as esperanças e só estava ali porquê seu esposo havia pedido inúmeras vezes por mais uma chance.

- Vai dar tudo certo, querida. - Marília sentiu a mão magra de sua sogra apertar a sua em uma carícia confortante, ela sorriu falsamente sabendo que a mulher só estava sendo educada porquê Murilo estava ali.

- Obrigada, Zaida. - A mulher mais velha concordou, e ao se virar para seu marido, rolou os olhos em impaciência.

Murilo estava preenchendo mais alguns papéis e pagando a fatura daquela última inseminação. Marília já havia perdido as contas de quantos milhões de reais já foram gastos apenas para que ela conseguisse o que queria: um filho.

Marília e Murilo se conheceram no ensino médio, um ano depois estavam namorando, e pela pressão de Zaida, os dois logo tiveram de se casar.

O casal cresceu profissionalmente, de bem com a vida, tendo ótimos salários, uma ótima casa e uma boa quantia em dinheiro no banco.

Casados há cinco anos, Marília estava farta de escutar sua sogra dizer que queria um neto, farta de ser pressionada por todos os lados pela família de seu esposo. Murilo e Marília vivem sozinhos, mas para nossa protagonista, é como se Zaida vivesse com eles... vinte e quatro horas por dia.

Zaida nunca gostou da garota. Depois de sete tentativas falhas para Marília engravidar, sempre que tinha oportunidade, jogava na cara da menina o quanto ela era inútil por não conseguir segurar os embriões em seu útero, o quão Marília era falha. E a jovem não a enfrentava. Apenas se trancava e chorava no quarto por horas, pensando sempre em como o amor que ela sentia por Murilo era maior do que qualquer coisa.

- Marília Dias Mendonça Huff. - A enfermeira apareceu na porta da sala em que aconteceria todo o processo. Todas as pessoas presentes da sala levantaram a cabeça sorrindo em expectativa. Murilo caminhou até a esposa segurando a mão da loira, todos sorriam... Menos Marília.

- Vamos, meu amor? - Murilo perguntou e Marília se levantou assentindo. Antes que pudesse ir até a sala, Ruth se aproximou da filha, beijando sua testa.

- Vai dar tudo certo, minha querida. - Confortou a filha que apenas sorriu terna e caminhou para a sala.

- Bom dia, senhor e senhora Huff. Marília, toma o avental, pode se vestir ali naquela sala. - A ruiva apontou para o devido lugar. - E senhor Huff, pode esperar aqui, logo a doutora vem.

- Obrigada. - Murilo agradeceu a mulher que se retirou deixando os dois sozinhos. - Por qu não sorri, Marília? Te vi abatida o tempo todo.

- Eu não quero me iludir, Murilo. - Confessou sentindo seus olhos marejarem. - Droga, essa vai ser a oitava vez, eu não aguento mais! Se eu fosse uma pessoa normal, teria engravidado sem ter que recorrer a porra de uma clínica!

Marília então se afastou entrando na sala, fazendo com que Murilo suspirasse mantendo a sua calma, já que ele sabia que, para esposa, não era nada fácil estar aqui mais uma vez.

- Problemas? -  Doutora Martins apareceu de trás das cortinas, sorrindo desconfortável por ter presenciado mais uma das inúmeras brigas do casal.

- O de sempre, doutora. - Murilo riu apenas para não deixar a conversa se silenciar.

- Vai ficar tudo bem, vocês vão conseguir. - Ele assentiu esperançoso.

Minutos depois Marília saiu do banheiro que havia na sala, já vestida com o avental da clínica.

- Bom dia, Luíza. - Marília cumprimentou a mulher, que deixou de anotar algo em seu bloco, e ergueu a cabeça para falar com ela.

- Bom dia, Marília, como está?

- Pensando negativamente dessa vez. - Confessou por fim.

- Entendo, então vamos conversar. Sente-se. - Marília se sentou. - Há algumas semanas estamos tratando seu útero para que ele nos dê folículos maduros e saudáveis, como não acontecia das outras. Pelo exame que você tirou antes de fazer a coletagem dos folículos, vejo que temos quatro aqui. - Marília se permitiu sorrir um pouco naquela manhã.

- Isso é um bom sinal? - Murilo perguntou.

- Sim Murilo, é um ótimo sinal. - A doutora se levantou, e o casal também. - Hoje vamos implantar os embriões dentro do útero de Marília, e temos duas semanas para ver se os óvulos irão vingar ou não. Deite-se.

Marília então suspirou e se deitou na maca, dobrou as pernas ficando em posição de parto natural.

- Como combinado, estão indo três óvulos fecundados. Se vingarem vocês, poderão ter trigêmeos.

Luíza pegou o aparelho, posicionando na entrada vaginal de Marília, fazendo com que o colo do útero de Marília ficasse visível. Luíza segurou um catéter fino, e com ajuda do aparelho, levou ate o útero da loira, penetrando e deixando os óvulos ali. Marília estava familiarizada com a dor, mas sentiu um breve desconforto.

(...)

- Nos vemos daqui alguns dias, Marília. Faça o teste de farmácia em sete dias e volte ao consultório com quatorze. - Luíza explicava pra Marília. Já na porta, Zaida e Ruth, estavam ali, observando.

- Okay Luíza, muito obrigada, mais uma vez. - Marília suspirou cumprimentando a médica.

- Lembre-se, repouso absoluto.

(...)

Durante esses sete dias, Marília repousava o máximo possível e orava todas as noites para que Deus pudesse lhe dar o que tanto esperou, o que tanto sonhava para ter.

Murilo era um engenheiro civil muito renomado no país. Diversos estados o buscavam, onde quer que ele estivesse.

Marília era uma grande advogada administrativa, que cuidava dos negócios de empresas e estava sempre presente em diversas reuniões importantíssimas. Era rica, muito rica, mas nem assim agradava a sogra. Era uma verdadeira bruxa.

- Por que não recorre a adoção então, se tem tanto medo? - Maraisa, melhor amiga de Murilo, perguntou ao companheiro enquanto estavam sentados em um café comendo um lanche da tarde.

- Eu não sei Maraisa, você sabe... minha mãe pega demais no meu pé. - Murilo confessou fazendo a amiga murchar.

- Murilo, não é por que uma criança vai ser adotada, que vai ser menos teu filho.

- Você fala isso por que é lésbica e seus pais já acostumaram com sua orientação sexual, e sabe do seu jeito pra ser mãe. - Disse o moreno fazendo a médica revirar os olhos.

- Você é um babaca, por que sou sua melhor amiga mesmo?

- Porquê você me ama.

- Amo sim, mas voltando ao assunto, se Marília não consegue engravidar, por que simplesmente não a deixa feliz com uma criança já nascida?

- Maraisa, você não entende, é minha mãe...

- Murilo, para de viver por Zaida, eu te conheço desde muito pequeno e você sempre deixou ela te manipular, eu sinto muito que ela é sua mãe cara, mas poxa, acorda pra vida!

- Eu também não quero um filho que não seja meu. - Pontuou Huff, fazendo finalmente Maraisa entender. A médica se calou e pensou por uns segundos enquanto mexia o líquido em sua caneca.

- Por que não deixa que eu examine Marília e descubra o que é que atrapalha?

- Por que eu não quero que você veja a boceta da minha esposa, sei que você tem respeito pela gente, mas Marília é gostosa e você é lesbica.

- Ah Murilo! Por favor né? - Exclamou a médica levando pro pessoal, mas logo Murilo caiu na gargalhada. - Idiota! Mas é serio...

- Maraisa, Marília não tem problema, nem eu, a gente só deu azar de sempre fecundar óvulos no dia em que ela não está fértil, apenas isso. - Maraisa deu ombros sabendo que nada adiantaria, mesmo ela sendo ginecologista, Murilo era muito manipulado pelo que Zaida dizia.

Um caminho para o destino | Malila Adapt.Onde histórias criam vida. Descubra agora