Prólogo

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Acordo em minha cama no orfanato, o sol começando a brilhar através da janela empoeirada. O cheiro doce de panquecas flutua no ar e eu me sento, esfregando os olhos sonolentos. As outras crianças já estão se preparando para o café da manhã, mas eu fico lá por mais um minuto, tentando lembrar de um sonho que tive.

Eu nunca lembro dos meus sonhos, mas eu sei que eles estão cheios de coisas que eu nunca experimentei antes. Coisas que nunca verei ou sentirei. Isso sempre me deixa triste e com medo do futuro. Eu não sei o meu propósito nesta vida, nem de onde eu venho. Eu nem sequer sei meu sobrenome.

Desço as escadas, tentando ignorar as piadas dos outros órfãos. Eles sempre me provocam por ser mais baixo e mais magro do que eles. Eu não gosto muito deste lugar, mas é o que eu tenho. É o único lugar que já conheci.

Me sento à mesa com as outras crianças e começo a comer as panquecas. Elas são gostosas, mas eu gostaria que houvesse algo mais emocionante em minha vida do que apenas panquecas pela manhã. Eu gostaria de ter um propósito, algo que eu possa fazer para tornar este mundo um lugar melhor.

Mas por enquanto, eu vou apenas continuar vivendo e esperando que algo mude. Esperando que algum dia eu possa descobrir quem sou e o que devo fazer neste mundo.

Madame Clarice era a encarregada do orfanato, uma mulher com seus cinquenta anos de idade, com cabelos grisalhos bem arrumados e roupas impecáveis. Ela tinha um jeito muito duro de ser, nunca sorria para ninguém, mas sempre olhava para nós como se estivesse nos julgando. Eu não gostava muito dela, e acho que isso era recíproco.
Um dia, ela me chamou em sua sala. Eu sabia que não era nada de bom. Eu estava sentindo aquele aperto no estômago que eu costumava sentir quando ela me olhava torto.

"Arin, eu quero falar com você sobre o seu futuro", ela disse, olhando para mim com seus olhos frios.

Me encolhi na cadeira. Eu não queria falar sobre o meu futuro, porque eu não sabia nada sobre ele.

"Você sabe que daqui a dois anos você vai ser maior de idade e terá que sair daqui", ela continuou, cruzando os braços. "Você não tem família, não tem dinheiro, não tem nenhum lugar para ir. O que você vai fazer?"

Eu não sabia o que dizer. E não queria pensar nisso, mas ela sempre me lembrava. Isso me fazia sentir tão impotente, tão perdido.

"E não adianta pensar que eu vou ajudar você. Eu tenho muitas crianças para cuidar aqui, não posso ficar me preocupando com cada um dos órfãos que passam por aqui", ela disse, me olhando com desdém.

Senti uma dor no peito, uma sensação de abandono. Era como se ela estivesse me empurrando para fora daquele lugar, para um futuro incerto e assustador.

Saí da sala dela, me sentindo ainda mais perdido do que antes. Eu queria desesperadamente saber quem eu era, de onde eu vinha, para onde eu estava indo. Mas Madame Clarice não parecia ter nenhuma resposta para mim.

Sempre me senti perdido no Albergue dos Sonhos. Não sei nada sobre o meu passado, sobre a minha família, sobre quem eu sou. Às vezes, sinto como se fosse apenas um número neste lugar.

O orfanato nunca foi um lugar acolhedor para mim. Sempre que ando pelos corredores, sinto como se estivesse caminhando em um lugar estranho e hostil. As paredes brancas e sem graça são como uma prisão, me lembrando todos os dias que estou preso aqui.

Madame Clarice não ajuda em nada. Ela parece ter uma implicância comigo desde o dia em que cheguei aqui. Cada vez que me vê, ela faz questão de me lembrar que logo estarei nas ruas, sem lugar para ir. É como se ela estivesse ansiosa para se livrar de mim.

Queria poder acreditar que algum dia encontraria um lar de verdade, um lugar onde me sentisse amado e protegido. Mas, a verdade é que o Albergue dos Sonhos é a única casa que já conheci, e ela é tudo menos um lar.

Os Guardiões do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora