Já escrevi sobre a dor
porque era o que eu sentia.
Era o que a vida, a doce e bela dança
que todos imploram para dançar,
permitia que eu sentisse.Descalça, caminhei sobre pedras cortantes
e estarei mentindo se disser
que não sabia que objetos cortantes
podiam cortar.Os pesadelos, monstros famintos
e ansiosos, não esperavam o cair da noite:
atacavam enquanto o sol ainda queimava
a minha pele e apodrecia o meu cadáver vivo.Os pensamentos vinham numa torrente
e causavam uma tempestade,
marejando meus olhos.
Aqueles pobres olhos
que não se permitiam marejar,
porque a maré assustava
aqueles que não sabiam nadar.
E eu não sabia nadar.Já escrevi sobre a saudade
porque era o que me doía.
E eu sempre fui muito boa
em falar sobre o que me dói.Em silêncio, permitia que
todas as minhas palavras não ditas
e todas as minhas lágrimas não derramadas
inundassem o papel.
E o papel se dissolvia em lágrimas,
levando embora todas as palavras
que pensavam que finalmente viriam ao mundo.Os tempos são outros
e a doce e bela dança chamada vida
hoje me estende a mão e,
ainda que eu não tenha aprendido a dançar,
não recuso o convite.Ela me guia pelo salão
e me ensina os passos,
um de cada vez.
E o salão tem o cheiro
de todas as minhas fragrâncias preferidas
e o sabor daquela comida boa
que um dia experimentei
e pensei que nunca mais encontraria.Os tempos são outros
e os pesadelos, monstros famintos
e ansiosos, já esperam o cair da noite,
mas nem assim conseguem me alcançar
porque aprendi a fechar a porta.Os tempos são outros
e a saudade se tornou uma velha amiga,
uma visita gostosa
com cheiro de fotografias antigas
e sorrisos sinceros.E quando a saudade voltar a doer,
os pesadelos conseguirem abrir a porta
e a dança da vida não me estender a mão,
deixarei que os pensamentos torrenciais
inundem os meus olhos
e me lembrarei
que os tempos são outros.Lembrarei, com o sorriso
de quem sabe que
dores não são eternas,
que eu sou outra.
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Tempestade Poética
PoetryNão há uma descrição inteligente para essa obra. Ela é nada mais que meus pensamentos escritos em versos. É um pouco de mim para vocês. É minha alma despida e pública. É minha verdade nua, crua e sem adereços. Essa obra sou eu, e sinto muito se não...