Tornou-se difícil

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Tornou-se difícil escrever.
Quase como um fardo.
As palavras ardem,
as lágrimas travam,
o sono se esvai
mas as pálpebras pesam.
É, tornou-se difícil escrever.

Era fácil quando as coisas não faziam sentido
e a minha mente também não.
Era fácil quando não existiam nomes
para os sentimentos
e quando bastava uma lembrança
para as lágrimas surgirem.
Era fácil quando as palavras jorravam
e descreviam aquilo o que eu não sabia.
E nem elas.

É fácil falar do que se desconhece.
Difícil é conhecer como a palma da sua mão
e ainda assim ter palavras suficientes.
E ainda assim ter coragem suficiente.

Tornou-se difícil escrever.

Tornou-se difícil porque hoje eu sei quem sou
e também sei que não sou quem deveria ser.
Porque hoje eu sei o valor do choro,
mas opto por não chorar.
Porque eu sei que o hoje tem mais valor que o ontem,
mas finjo não saber.
Tornou-se difícil escrever porque talvez,
e só talvez,
eu não queira escrever.

Talvez eu não queira nomear
aquilo que eu já sei o nome.
Talvez eu não queira descrever
aquilo o que todos já sabem.
Talvez eu não queira que todos saibam
que eu sei perfeitamente o que dizer.
Talvez eu não queira pintar aquela tela em branco
porque ela me dá a possibilidade de imaginar
quantas coisas eu quiser.
Talvez eu não queira que todos saibam
que o talvez é só um eufemismo.

E, enquanto as palavras ardem,
as lágrimas travam,
o sono se esvai
e as pálpebras pesam,
eu finalmente entendo por quê
tornou-se difícil escrever.

Tempestade PoéticaOnde histórias criam vida. Descubra agora