O Poema Acontece

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Passei horas, dias, semanas ansiando por palavras.
Não me entenda errado, não é que eu não tenha o que dizer - eu sempre tenho.
O silêncio me é amargo, me envenena.
E, ainda assim, de gole em gole me afogo nele, propositalmente, dia após dia.
E ele desce queimando-me as entranhas.
Como qualquer vício, não me abandona.
Como qualquer vício, eu preciso abandoná-lo.
Às vezes elas quase me alcançam. As palavras.
Mas esse venenoso silêncio as expele como se as intrusas fossem elas.
Mas eu não nasci em silêncio. Eu nasci gritando.
Então fiz o possível para me desintoxicar, porque certos hábitos nascem e devem morrer com a gente.
Mas tem vezes que o possível não é o suficiente.
E o que não é possível é simplesmente impossível. Não existe um meio termo.
Estagnei. Não é do meu feitio deixar que o silêncio me vença, mas também não tentei mais vencê-lo.
E foi assim que venci.
As palavras vieram até mim. Me procuraram, sorriram com aquele sorriso frouxo de quem finalmente encontrou o que procurava.
E foi assim que eu percebi: não era eu que devia encontrá-las.
Era o contrário.
E foi assim que aprendi: eu não posso fazer um poema acontecer.
O poema acontece.

Tempestade PoéticaOnde histórias criam vida. Descubra agora