•10•

24 4 0
                                    

Kim So Hyun

O pedido de desculpas estava na ponta da língua quando percebi que falar qualquer coisa seria pior. Os olhos de Wook, geralmente frios, parecem arder sobre mim, por isso mantenho minha cabeça baixa, sem querer irritá-lo ainda mais.

Ele está com raiva, eu sei. Não sabe compartimentalizar as culpas do que houve e descontar nas pessoas certas, mas percebo que até eu tinha feito algo ruim. As marcas vermelhas no pescoço de Wook estavam quase me levando às lágrimas por não conseguir expressar a diferença entre tê-lo machucado e ter impedido uma tragédia maior, porque tudo se confundia em algo atípico e esquisito. Vejo as mãos dele sujas de sangue seco e feridas pela violência de mais cedo e não me arrependo de ter interferido, não quando aquele verme imundo não valia a pena em estragar os antecedentes do chefe, mas conheço Wook o suficiente para entender que ainda tem muita raiva dentro dele sem encontrar vazão. Sei que vai falar grosso comigo porque sou a única que ficou para ouvir as rebarbas do seu mau gênio, e não me incomodaria em nada, eu até julgaria merecer, se não fosse o estado lamentável em que estamos.

Eu quero cuidar dele, mas acho que Wookie não vai me deixar chegar perto o suficiente. Ele passa por mim como se não me enxergasse, na direção do carro.

— Eu posso pegar um táxi, Wook. – travo no lugar, as desculpas entaladas na garganta e faço uma reverência enorme para as costas largas dele, que se detém também, sem se virar para mim.

— Você quer que eu bata todos os recordes de irresponsabilidade contigo ainda hoje? O que vou dizer para o Do Hyun quando amanhecer?

— A verdade. Houve uma confusão no bar causada por clientes. – ele se vira e eu estremeço. – Nós ajudamos como pudemos e tivemos que prestar esclarecimentos na delegacia. – então a distância que ele colocava entre nós não mais existe. – E eu fui para casa de táxi pela hora avançada. – eu não tenho medo de Dong Wook, então não é medo o que me faz encolher quando ele para a centímetros de mim. A tensão entre nós é absurda e não sei o motivo, mas me desgasta. Não quero mais embates, estou muito, muito cansada, por isso cedo e desarmo inteira. – Não precisamos inventar a roda, Wookah, eu só quero ir pra casa e te deixar em paz. Eu sint...

— Não diga que sente muito ou eu realmente vou perder a cabeça. Entre no carro, So Hyun. – eu hesito, minimamente, mas é o suficiente para estar sendo rebocada pelo braço para o carro de Dong Wook. – Já bateu sua cota de teimosia e imprudência por hoje. – não retruco, toda a energia me abandonou e ele me encara de rabo de olho, como se quisesse apenas um motivo para explodir.

"Sem chance, Wookah. Estou esgotada."

Já são quase seis horas da manhã e Seul se abre em um caleidoscópio laranja no céu, bonito demais. Evito olhar para ele dirigindo, então ponho a cabeça no vidro da janela e não percebo o sono me vencendo, só descubro que dormi quando me reviro na superfície macia de algo acolchoado e sinto o cheiro de Dong Wook por toda parte. Não reconheço o quarto em que estou, os móveis, as paredes, nada.

"Que diabos?"

Se não estou no nosso apartamento, isso só pode significar...

Dong Wook me trouxe para a casa dele

The Sea of HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora